terça-feira, 13 de outubro de 2009

Dei agora uma risada

muito tempo que caiu um sono lento em cima desta escrita pobre e ela adormeceu e com ela eu também doutra forma não poderia ser ora essa está às vistas qualquer um pode entender tal a não ser que não possa ou não queira que isto aqui para nós que ninguém nos está a ouvir e apesar do muito esforço sempre quem não entenda que esta vida é mesmo injusta e assim tem mesmo que ser pois foi deus que assim o quis para nos dar humanidade a nós e a si mesmo a divindade tal como deve ser e agora eu confesso que às vezes passo aqui e tropeço na janela que abre esta coisa que eu não sei bem o que é e uma vez aberta a coisa eu acabo por entrar e vejo com enfado a minha escrita o que não deveria acontecer mas a vida é mesmo assim como acho que disse mas mesmo assim volto a dizer e digo que também vejo que sempre alguém que veio e bateu à porta desta casa tão inóspito e apesar de não ter resposta abriu a porta e entrou saber-se a razão mas deve ser porque se perdeu no caminho que era o seu ou então porque se enganou ou anda à procura de nada que nada é o que eu aqui tenho escrito e o que estou a escrever ou então enlouqueceu mas pode ser muito bem que seja uma daquelas pessoas poucas que traz em si o menino que procura o arco-íris sem se importar que lhe digam que este mundo é escuridão e que ele não existe e eu devia agradecer a todas estas pessoas que teimam em vir aqui seja qual for a razão mesmo às que simplesmente se enganaram mas eu não gosto de pedir desculpas e por essa razão não as peço antes lhes dedico este texto atrevido que é a melhor desculpa que tenho e o melhor agradecimento ah quanto às eleições e à política dei agora uma risada que é a melhor coisa a fazer mas juro solenemente que tudo voltarei para mal dos meus pecados todos muito agradáveis e para castigo de todos os que vierem aqui um abraço e obrigado e até breve e tenham um bom natal

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Continuar a luta contra a fraude política que é este governo

Apeteceu-me ontem voltar aqui para dar notícia do meu contentamento. Não o fiz, porém, por desnecessário, e para apreciar melhor, e em mais recato, aquele momento, sem deixar de seguir atento os comentários diversos, principalmente aqueles que apontavam e apontam decididamente para o futuro próximo.
Hoje, obrigações cumpridas, e no intervalo delas, deixei-me andar por aí, muito simpático para todos, o que é coisa rara. E só agora é que cheguei aqui ao tempo. Foi quase por acaso, que não queria escrever nada por ora. Aberta a página, pus-me a ler o texto que escrevi na sexta-feira. Bem podia escrevê-lo hoje, como verificação dum facto, mudam-lhe apenas os tempos verbais. Mas gostei bem mais de o ter escrito antes, como expressão dum desejo que se concretizou.
É assim, meus amigos: voltamos à política, com os partidos, e para além dos partidos, já que, nestas eleições, se ultrapassou, e muito, o conceito de igreja e de seguidores amorfos de dogmas instituídos; a esperança latente acordou renascida, com emoção, mas fruto de uma racionalidade persistente e corajosa, da parte de muitos, que acabou por influenciar muitos mais.
Deixemo-nos, porém, de ilusões fáceis. A luta está aí à nossa frente. E não podemos perder muito tempo com a ideia preguiçoso que agora é fácil. Não é. Vai ser difícil. Mas lá que está provado que o rei vai nu, lá isso está, para desgosto embora de muita da comunicação social concertada.
Renasceu a esperança; voltámos à política com mais consistência; o governo Sócrates e todos os seus duplos foram derrotados; mas a vitória só será confirmada se persistirmos unidos, e se, na nossa diversidade, resistirmos unidos no essencial; e o essencial é contribuir para uma alternativa governativa mais higiénica, sem nos assustarmos com o fantasma com que já acenam, e que é o fantasma da ingovernabilidade. Não há que temer.
E por falar nisto, seria interessante conhecer-se o contributo generoso que os professores deram para este desenlace das eleições europeias. Na minha opinião foi grande. Tudo, ou quase tudo, neles começou.
Até logo, sim?

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Um desejo apenas: não vote PS

Há acontecimentos raros que nos surpreendem e se tornam bálsamos. E quanto maior a surpresa e mais caro o bálsamo, maior a singularidade de os vislumbrar com antecipação. Mas eles acontecem. Como eu gostaria de assistir no próximo domingo a um desses aconteceres raros. É só um desejo, um desejo apenas, mas pode ser que sim; pode acontecer.
Chegamos a um ponto em que todo e qualquer preconceito na hora do voto deve ser superado em nome da possibilidade de uma ruptura que devolva ao país uns resquícios de esperança; que permita ao país vir a ter, mais cedo que tarde, uma solução governativa que, mesmo que não a ideal, seja ao menos dotada de alguma higiene mental; que permita ao país vir a ter um Parlamento onde essa higiene mental, que já nele existe em vários sectores, seja reforçada; que permita ao país libertar-se, pelo menos em parte, dos habilidosos ignaros que, truque após truque, jogando com legalidades manhosas, assassinam valores, hipotecando o país e as gerações futuras, com uma incompetência e uma estupidez tais que eles disfarçam de esperteza saloia.
Afinal, meus caros amigos, há tantas alternativas de voto. E se nenhuma dessas alternativas lhe suscita paixão, que lhe suscite ao menos um pragmatismo útil. Vençam preconceitos: votem no Bloco de Esquerda, votem no PSD, votem no CDS, votem na CDU, votem num partido ou num movimento pequeno (mas só se esse voto for um voto retirado ao PS de Sócrates).
Uma palavra específica para os eleitores do PS que não merecem andar de cabeça baixa só porque votaram no Sócrates, e são pessoas honestas, que não se venderam por benesses imerecidas, nem fizeram carreira à custa do partido, e só do partido: votem, desta vez, num outro partido qualquer; essa é a melhor forma de ajudarem a devolver, se isso ainda for possível, a dignidade ao vosso partido.
Há acontecimentos raros que nos surpreendem e se tornam bálsamos. Como eu desejaria que isso acontecesse no próximo domingo. É só um desejo, um desejo apenas, mas pode acontecer. Esse é o meu desejo. E como eu gostaria que também fosse o seu!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Reunir vontades, com coerência e dignidade

A manifestação dos professores, marcada para 30 de Maio próximo, marcará, duradoura e indelevelmente, o futuro da Escola Pública, dos professores, dos sindicatos. Por isso - e dado que se acentua a situação de pântano, criado pela guerra execrável e sem escrúpulos que o governo travou contra o ensino e os seus agentes mais directos, atropelando a inteligência, a democracia e o livre pensamento -, não há por onde hesitar: é avançar até Lisboa.
Não será a melhor luta, mas é a que agora temos; não será a melhor altura, mas é a altura que, de boa ou de má vontade, nos proporcionaram e temos; não será a melhor forma, mas é a que agora nos propõem e temos. Poder-se-ia ter feito muito mais e antes, mas fez-se o que se fez, e, nestas circunstâncias, o melhor que temos a fazer é aderir e apoiar esta manifestação; poderá não ser vencedora, ou não acrescentar grande coisa, mas temos de a fazer. Todos sabem a nossa posição. Mas temos de marcar bem, e até ao fim, não tanto a nossa base de acção presente, mas a base da nossa acção futura. Sim, que a coisa não termina aqui.
A primeira coisa a fazer é reunir vontades. Cada um que acorde a sua, nem que tenha que engolir sapos. Cada um, ao acordar a sua, acordará a do amigo, e a do vizinho também. Foi assim nas primeiras manifestações regionais; foi assim na primeira grandiosa manifestação, que não foi aproveitada. Que o seja de novo e agora. É urgente avisar toda a gente.
Os professores sentem-se cansados; os professores sentem-se desiludidos; muitos sentem-se abandonados e até traídos. Mas há que esquecer tudo isso agora. Agora, o que interessa é apelar ao mais íntimo de si, às últimas forças que restam, acordar vontades, reunir vontades. Afinal, nunca deixámos cair por terra a bandeira da nossa dignidade. E não vai ser agora que vamos desistir dela nesta simbólica batalha.
Não há por onde hesitar: é avançar até Lisboa, sem preconceitos e sem medo, e com toda a dignidade. Depois haverá muito tempo para acertar contas entre nós, e para acertarmos activamente o passo por uma reforma a sério.
Força, professores!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Manifestação: relançar a luta colectiva e sem preconceitos, quebrar os espartilhos do tempo

Não há muito que pensar sobre a manifestação de professores marcada para o dia 30 deste mês de Maio. É. Maio tem que se lhe diga. Os maios têm mais ainda. Mas, agora o que mais interessa é o Maio do inconformismo, da reivindicação, da luta, do trabalho, da ruptura. Agora é o Maio da indignação, bandeira da dignidade que os professores, apesar de isolamentos, de solidões, de sofrimentos calados, de incertezas, de ameaças, não deixaram cair ao chão. Por isso, não há muito que pensar: é avançar sobre Lisboa.
É claro que eu tenho as minhas reservas quanto a todo o processo que até agora se viveu. Já aqui as expressei. Os textos terão já um ano ou quase. Mas neles me insurgi contra o que achava errado. Não poupei o ministério nem a ministra artificialmente mantida; mas também não poupei a Fenprof nem o Mário Nogueira tacticista. Quem quiser poderá voltar aos textos. Mas nenhuma das críticas ou reservas que expressei me inibem de dizer que agora há que avançar para esta manifestação. Não com a fé dum ingénuo Frei Genebro; mas com a clareza de que esta manifestação, apesar de tudo o que aconteceu até aqui, é uma alavanca importante para a luta que ainda se vai ter de travar depois dela.
É claro que os cafajestes, parasitas do sistema, não vão gostar nada disto. Mas já estamos vacinados, ora não estamos?

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Os maios de Maio

Maio tem que se lhe diga; os maios muito mais. Maia lhes deu nome; Flora os abençoou. Têm sopro divino, cobrem-se de flores, enchem-se de aromas. O sopro nos atrai, as flores nos chamam, os aromas nos guiam. Mas só se oferendam a quem delicado souber procurar.
Têm tudo isso, o mês e os maios, mas os maios têm mais: raparigas os curvam diversos em anéis toroidais. Só então os cobrem de veludos raros, onde depois bordam, com fios de seda, da seda mais pura, montículos de folhas, das folhas mais finas, donde emergem flores, das mais lindas formas, das mais lindas cores.
São assim os maios que as raparigas tecem. Tecem-nos tão lindos, que se tecem neles. E é por isso que, enquanto os tecem, lhes vão pondo véus. São os véus de Maia. Mostram o que mostram. Mostram aparências. Mas quem for esperto pode chegar à essência, afastando os véus.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Cafajeste*

"Quem faz comentários maldosos e acusações protegido pelo anonimato, aqui no Brasil chamamos de cafajeste covarde. Só te conheço pelos teus posts, então não sei que motivos tem uma pessoa para te atacar de maneira tão vil, escondidinho e cheio de medo.
Li, num dos comments, que te chamaram de professor, o que significa que deves ser alguém que alcançou sucesso no que faz. Então, meu caro, o motivo do cafajeste está claro: inveja. E o modo pomposo e pernóstico, que usou nos ataques, deixa uma pista: o covardão te conhece, por isso te ataca anonimamente, o que mostra que morre de medo!
Sabe o que penso? Apaga o que o "infeliz" escreveu e não se dê ao trabalho de responder. Ignorar esse tipo de gente é a melhor coisa a fazer.
Um grande abraço, professor."

*LuCordeiro, Rio de Janeiro
16 de Abril de 2009 17:33
....................
Nota:
LuCordeiro é brasileira e vive no Rio de Janeiro. É autora do blog nasesquinasdafarme.blogspot.com , bem merecedor de uma visita. É também co-autora, juntamente com Sílvio Vasconcelos, de olegariaquerfalar.blogspot.com - uma obra completa, e cuja leitura se recomenda. O texto acima é, como muitos já devem saber, um comentário que ela amavelmente me deixou anexo ao meu pequeno texto Aos "anónimos" e a outros mais. Era para o deixar aqui na sexta-feira passada, dia 17, juntamente com a Epístola a Álvaro Salema. As mesmas razões fizeram com que adiasse a publicação dos dois textos. Deixo-o agora, com estas informações, e com um comentário em jeito de resposta que hei-de escrever, mas sem promessa de que seja hoje.
.....................

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Epístola a Álvaro Salema*

É triste e é cómico, mas é preciso dizer-se:
quem mais recusa e nega é quem mais aceita,
e não aceita mais aquele que menos recusa.
Porque de infindo amor nos recusamos
a que ele seja esse infamar-se o ser
que as coisas e os humanos nunca são inteiras.
A conivência torpe com a humanidade,
no que ela tem de vil, de ignóbil, de mesquinho,
a conivência com este espectáculo hediondo
de um mundo de traição, perfídia, malignidade reles,
e sobretudo a estupidez triunfante, não é possível.
Seja qual fôr a causa, a nobre causa, a santa causa,
não é possível: nada que seja nobre,
nada que seja santo, pode resistir
a tão porcas vizinhanças. Mas,
se recusarmos essas complacências,
chamam-nos traidores aqueles que a traição cega
na fúria de que as causas justificam os fins.
Antes trair tudo isso. Se uma coisa, um homem, uma pátria,
precisam da mentira e do contágio sujo
para salvar-se - que há que salvar neles?
Que a nossa vida seja nossa: ninguém mais
a vive senão nós. Que a nossa voz
seja alheia: outros que falem por conta própria
ou por conta do que acham próprio. E,
se nos disserem que nos não entendem,
respondamos que a honra não se entende
onde o sentido dela se perdeu. E que,
quer queiram quer não queiram, ela existe
e há, desde o princípio do mundo, homens com o encargo
de velar por ela. Não serão felizes, não serão
amados, não serão sobretudo criaturas fáceis,
que obedeçam às ordens de quem não aceitaram que os mandasse.
Cada qual que mande nos fiéis da sua igreja;
e que eles sejam obedientemente fiéis.
Mas que se não diga que não pertence ao mundo
quem, porque lhe pertence, não aceita ordens
das sociedades de socorros mútuos
a que não pertence. Traição é isso de fingir-se alguém
o guardião só de uma verdade. As verdades
são prostitutas notórias que depravam
os seus guardiões. E, contra essas verdades tão ricas,
e tão poderosas de seus fiéis, só temos
esta dignidade que nos querem tirar -
talvez porque seja mesmo o de que sentem falta.

*Jorge de Sena, in Dedicácias
-------
Notas: 1 - parece difícil de ler, mas é tão fácil de entender (bastam algumas linhas); 2 - Já tinha posto aqui este texto a 6 de Dezembro passado, mas apeteceu-me voltar de novo a ele; 3- Era para o ter posto aqui sexta feira passada, mas resolvi adiar para hoje.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Aos "anónimos" e a todos os mais

Nestes últimos dias têm passado por aqui vários comentadores anónimos. Quanto ao anonimato, tudo muito bem. Eu não me importo minimamente com isso, até por que o tempo dos blogues é um outro tempo, e eu acho que as regras podem ser outras também. Uns deixaram comentários para mim muito simpáticos; outros psicanalizaram-me através da escrita - dizem eles; outros contaram histórias pouco inocentes de porcos e de cavalos. A todos agradeço. Já respondi a alguns. Responderei a todos. A nenhum procurarei ofender. E peço que quando fizerem comentários em textos mais antigos me avisem em comentário pequeno no último texto que eu tenha publicado. É que raras vezes eu passo por textos antigos, e posso, desse modo, deixar alguns sem resposta.
Um abraço para todos.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Vozes tão de filho e pai

- Ontem lembrei-me de ti, sabias?
- Evidentemente
- Pois como é que sabias?
- Sabia. Ponto.
- Não me venhas com enigmas!
- Não há enigma nenhum.
- Não há? Ai, se eu dissesse quem tu eras!
- Há quem saiba.
- Há?
- Claro.
- Quem?
- Os mais como tu.
- Os mais como eu?
- E como eu.
- Mau!
- Qual mau qual carapuça: é a pura verdade.
- E os outros mais?
- Esses não contam. Não entenderiam.
- C0m0 é que tu sabes isso?
- Sei.
- Não tenho tempo para discutir contig0.
- Eu sei.
- Mas ontem lembrei-me de ti.
- E hoje ainda mais.
- Pois. É o teu dia.
- O meu dia e o teu. Vai em paz para os teus, que eu estou sempre contigo.
- Estás o quê?
- Não sejas palerma. Sempre que pensas em mim é porque eu estou bem perto de ti a afagar-te manso.
- Eu sei.
- Eu sei que tu sabes.
- Sabes o que tenho andado a fazer?
- Sei. Até tens a mão direita dorida. E os dedos honradamente grossos.
- Pois é. E é por ti também.
- Eu sei. Tem cuidado. Não caias. Muda mais vezes a escada. Não te ponhas em acrobacias tontas para chegar ao último ramo. E não te distraias a observar os pássaros, sim?
- Está bem. Amanhã continuo. Anda lá por perto uma família de corvos, sabias?
- Sabia. E os corvos são aves sagradas, ou já te esqueceste?
- Não esqueci nem esqueço nada do que me ensinaste.
- Vai em paz. Até amanhã.
- Até amanhã.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Voa, Belinha, voa!*


-Pula, Belinha, pula! Agora, Belinha, agora! Isso! É mesmo assim! E como tu pulas bem! Vês como é bom pular?
Não estou a supor imitar quem nunca poderia ser imitado. Mas certamente era assim, com estas voltas ou outras. E ouso adivinhar que ele depois dizia, baixinho e só para si:
-Quanto mais alto pulares, mais te afastarás do chão, o que me vai alegrar; quanto mais te afastares do chão, mais vais gostar de pular cada vez mais alto ainda, o que me vai envaidecer.
Acho que depois de dizer isto, desta maneira ou de outra, uma sombra no pensar fazia-o parar um pouco:
- Ela, por este caminho, ainda aprende a voar, e um dia pode cair, e pode-se magoar.
Mas afastava logo a sombra:
- Se ela se magoar, é porque aprendeu a voar, e eu quero-a assim ave, e não galinha rasteira.
Logo a seguir soltava a voz, para que a ouvissem bem:
- Pula, Belinha, pula! Salta, Belinha, salta! Dança, Belinha, dança! Canta, Belinha, canta! Voa, Belinha, voa!
E quando mais tarde o rio corria já para o fim, quase juro que dizia, num murmúrio só para dentro:
- Voa, Belinha, voa! Voa por ti e por mim! Voa agora e até ao fim, que sempre que tu voares, voarei sempre contigo, escondido dentro de ti.
___
Nota: Um belo dia, a Isabel Fidalgo escreveu um lindo texto evocativo de seu pai, no seu blogue Frutos de mim e mar. Partindo dessa evocação, eu recriei em comentário a possível voz daquele pai brincando com ela. Ontem, a Isabel devolveu-me esse meu texto, deixando-o nos comentários de A mentira só perdura enquanto a verdade não chega.. Li-o e fiquei contente. Por isso o deixo aqui agora, de novo para a Isabel ( a quem, pelos vistos, o pai chamava Belinha), e para todas as Isabéis que, por qualquer razão, possa ver no texto acima, a voz do pai que têm ou tiveram.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Dê um saltinho às Peles!

Ontem deixei As flores da ameixoeira nas Sete Peles Sete Saias. Há quem faça confusão, ora com as Peles, ora com as Saias, ora, até, com o Tempo. Mas não há confusão alguma. São todos parentes próximos, umas vezes sendo um só, outras algumas fingindo distâncias. Há quem goste mais do Tempo; há quem goste mais das Peles; há quem goste mais das Saias. Mas isso não interessa. Mas se você veio ati aqui, dê agora um saltinho às Peles, ou dê uma espreitadela discreta nas Saias - o que vem a dar no mesmo. Vá lá! Deixei lá umas flores para si: As flores da ameixoeira.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O embuste só perdura enquanto a verdade não chega

O parecer de Garcia Pereira é um documento jurídico muito importante para os professores e para todos os portugueses que se preocupam com a Justiça e com a Educação. Aguardei com alguma expectativa este parecer, e, depois de o ler, senti-me melhor. Ele vem vem abrir, com toda a clareza, uma nova etapa de luta, de discussão e de divulgação das razões que sempre nos nortearam, contra a prepotência mórbida e sem freio da equipa ministerial, que tudo tem atropelado: a inteligência, a legalidade, a democracia.
Poderá parecer a alguns que o parecer não traz nada de novo, que não traz nada que não tivéssemos já visto e denunciado com emoção e com razão. Isso é verdade. Mas faltava-lhe o enquadramento de uma argumentação jurídico-legal, o que é muito importante, pois que dá mais consistência às razões que já tínhamos; torna mais patética a linguagem superficial, saloia e sincopadamente manhosa da equipa ministerial e dos seus tentáculos dentro das escolas; exige mais tento na língua e na argumentação facciosa aos comentadores de serviço na comunicação social; ou expõe-nos mais, tornando-os mais vulneráveis, se persistirem na argumentação encomendada; vai exigir também argumentos profissionalmente mais sustentáveis àqueles que são contra nós, só porque sim.
Este parecer jurídico deve ser impresso por todos. Todos devem andar com ele na mão. Todos devem fazer com que ele chegue a todos e a todos os lugares. Desse modo, ele, o parecer, pode tornar-se muito mais útil. Desde já.
Eu gostaria ainda que todos os blogues lhe dessem a maior importância; que neles se referisse e se comentasse tudo o que for dito ou lido sobre este parecer. É uma forma de lhe dar mais vida. E que não doam os dedos nem a voz a todos aqueles que tiverem a possibilidade de acederem aos órgãos de comunicação social, defendendo-o, divulgando-o e acrescentando argumentos complementares.
Não tenhamos ilusões: a comunicação social mais oficiosa vai tentar "ocultá-lo" ou diminuí-lo; e os comentadores de serviço vão dar uma ajuda. A razão é bem simples: ele fere gravemente a competência e a seriedade dos "titulares" da Educação; ele é favorável aos professores; e é do Garcia Pereira. Quanto ao Garcia Pereira, nada há a temer: ele é um bom jurista e, de igual para igual, mete-os no bolso pequenino de guardar o relógio. Mas quanto ao resto, temos de estar atentos.
Vocês já imaginaram um "Prós e Contras", com a presença de professores-professores e do Garcia Pereira dum lado, e da ministra ou dos seus defensores do outro lado? Seria pedir muito, não seria?
Sei lá! Quem sabe se o Mário Crespo não convida hoje, ou num destes dias próximos, o Garcia Pereira?
___
Notas:
1. É pouco importante, mas eu cá por mim, que sou ovelha ranhosa, gosto muito das conclusões 5 e 8; mas também das outras, pois está claro.
2. Importante é eu deixar aqui um reconhecido obrigado aos professores que avançaram com esta iniciativa; e, destes, impõe-se-me o dever de destacar o Paulo Guinote, deixando-lhe aqui um abraço.

Garcia Pereira - Parecer jurídico

XVI
CONCLUSÕES
1ª O normativo contendo o sistema de quotas para a avaliação dos professores estabelecido e constituído pelas disposições conjugadas do artigo 46º, nº 3 do ECD, aprovado pelo Decreto-Lei nº 15/2007, de 19/1 e do Decreto Regulamentar nº 2/2008, em particular o seu artigo 21º, nº 5, deve reputar-se de ferido de múltipla inconstitucionalidade material, por violação dos princípios constitucionais da igualdade, da proporcionalidade, da transparência, da justiça e da imparcialidade (artigos 13º, 266º, nº 2 da Constituição).
2ª Sendo o regime de avaliação dos professores claramente matéria de reserva de lei (em sentido amplo), e aliás constante do próprio ECD, em todos os pontos em que um Decreto Regulamentar disponha de forma diversa do estatuído naquele, ou interprete ou integre alguma das suas normas, ou venha criar regime jurídico novo, ele padecerá de inquestionável e incontornável ilegalidade, por força do artigo 112º, nº 1 da C.R.P..
3ª O específico regime (de alteração do ECD) consagrado no Decreto-Lei nº 15/2007, havendo sido produzido pelo Governo no âmbito de matéria de reserva pelo menos relativa de competência da Assembleia da República, por força do artigo 165º, nº 1, alíneas b) e t), mas sem estar a coberto da competente autorização legislativa, tem de ter-se por organicamente inconstitucional.
4ª Não constando do Decreto-Lei nº 15/2007, bem como de todos os diplomas legislativos e regulamentares subsequentes, que contêm inequivocamente matéria de “legislação do trabalho” a que se refere o artigo 56º, nº 2, alínea a) da C.R.P., a referenciação exacta e concreta de como e quais as associações sindicais que terão sido prévia e efectivamente ouvidas, mas apenas a declaração “tabelar” de que “foram observados os procedimentos da Lei nº 23/98, de 26/5″, todos esses diplomas se têm de ter formalmente inconstitucionais.
5ª Ao consubstanciar uma substancial inovação que representa um verdadeiro e próprio retrocesso ou desvalorização categorial dos professores, afectando os valores da segurança jurídica e da tutela das expectativas legítimas, alterando-lhes de forma tão drástica quanto inesperável e inesperada “as regras do jogo” no decurso do mesmo, tratando desigualmente e em função de critérios em absoluto aleatórios e arbitrários (v.g. o mero desempenho de cargos apenas nos últimos sete anos) situações substancialmente iguais e afectando de forma desproporcionada, desadequada e desnecessária o princípio da liberdade de escolha da profissão e acesso à Função Pública e de nelas permanecer e progredir, o regime constante do ECD com a nova redacção conferida pelo citado Decreto-Lei nº 15/2007 padece, também, de múltipla inconstitucionalidade material, por violação dos artigos 2º, 18º, 47º e 266º, nº 2 da C.R.P..
6ª Como o está também a solução normativa consubstanciadora das elevadíssimas percentagens do cumprimento das actividades lectivas exigidas para a obtenção de “Excelente” (95% no artigo 46º, nº 5 do ECD de 2007 e …. 100% no artigo 21º, nº 5 do Decreto Regulamentar nº 2/2008), ao menos se interpretada e aplicada no sentido de que qualquer docente que não cumpra actividade lectiva numa situação de força maior, de exercício de um direito ou de cumprimento de um dever que não é legalmente equiparado a serviço efectivo nos termos do artigo 103º do ECD é considerado em situação de incumprimento da actividade lectiva e, logo, gravemente prejudicado ou mesmo de todo impossibilitado no acesso àquela classificação
7ª Todos os pontos em que os Decretos Regulamentares - v.g. Decreto Regulamentar nº 1-A/2009 (quando por exemplo vem inovar ou alterar o ECD, v.g. ao estabelecer que a avaliação científico-pedagógica, imprescindível nos termos do ECD na avaliação de todos os docentes, seria afinal apenas exigível para um certo universo mais reduzido de professores, que a avaliação dos membros do Conselho Executivo depende exclusivamente do seu Presidente e que este seja avaliado apenas pelo Director Regional da Educação - se e quando venham inovar ou alterar o regime constante do acto legislativo - têm de se ter por manifestamente ilegais, por violação do mesmo ECD, estando vedado a este, pelo artigo 112º, nº 5 da C.R.P., autorizar tais “inovações” ou “alterações” por via regulamentar.
8ª O artigo 10º do Decreto-Lei nº 200/2007 está em frontal contradição com a letra e a “ratio” do ECD de 2007 visto que este considera que a atribuição da categoria de professor titular com as suas funções acrescidas (v.g. de avaliação de outros professores) se fundamenta num critério de maior experiência acumulada e aquele vem impôr a consideração de apenas os últimos sete anos lectivos, desvalorizando todos os restantes.
9ª O facto de constituírem factor de classificação do docente - independentemente da sua suspensão nesta fase - as classificações por ele atribuídas aos alunos é susceptível de representar um óbvio e inaceitável conflito de interesses, gerador de constitucionalmente inaceitáveis dúvidas objectivas acerca da imparcialidade do docente.
10ª Face quer ao ECD (maxime, o seu artigo 44º), quer aos subsequentes Decretos Regulamentares (seja ao nº 2/2008, seja ao nº 1-A/2009), forçoso é concluir que em lugar algum do regime jurídico se estatui a obrigação de apresentação pelo docente dos referidos objectivos individuais ou a consequência jurídica de que a não apresentação impossibilite o decurso do processo de avaliação, constitua infracção disciplinar e inviabilize a contagem do tempo de serviço do professor.
11ª Sendo que todos os comandos em matéria de entrega pelos professores dos objectivos individuais decorrentes dos Decretos Regulamentares que vão contra ou para além do estabelecido no ECD (designadamente quando sejam interpretados e aplicados como significando estatuir a obrigatoriedade daquela entrega) serão manifestamente ilegais, e uma vez que num Estado de direito, o Estado e toda a Administração Pública devem actuar em estrita obediência à lei, maxime, a lei constitucional, as únicas conclusões que se impõem retirar é que não apenas por parte dos professores nenhuma obrigação existe, fixada por norma legal válida, da apresentação dos respectivos objectivos individuais, como nenhuma consequência pode advir do incumprimento ou desobediência de um comando ou ordem ilegal, designadamente de ordem disciplinar (procedimento por pretensa violação do dever de obediência) ou outra (perda de tempo de serviço).
12ª Tal obrigação não poderá também considerar-se validamente constituída se os respectivos pressupostos fácticos e temporais não estiverem reunidos, sendo assim igualmente ilegítima a tentativa de imposição de que a definição dos objectivos individuais ocorra não no período inicial do ciclo de avaliação mas mais de cinco meses depois, e o mesmo se dizendo quanto à fixação e divulgação dos “instrumentos de registo” e dos “instrumentos de medida” a que se reportam os artigos 6º e 8º do Decreto Regulamentar nº 2/2008.
13ª Rigorosamente a mesma conclusão se impõe, e até por maioria de razão, se na Escola ou Agrupamento de Escola de todo não existirem, não houverem sido estabelecidos ou não tiverem sido disponibilizados aqueles mesmos “instrumentos”.
14ª Por fim, todo o “regime simplificado” estabelecido pelo Decreto Regulamentar nº 11/2008, representando uma alteração por via de fonte inferior à Lei do regime do ECD, maxime do seu artigo 44º, tem de se ter por manifestamente ilegal, o mesmo se devendo dizer dos artigos 2º, 5º e 7º do Decreto Regulamentar nº 1-A/2009.
Este é, em suma, o nosso PARECER !

Lisboa, 10 de Fevereiro de 2009
(António Garcia Pereira)
_____
In, A Educação do meu Umbigo (http://educar.worpress.com)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Uma agressão a um professor é muito mais que uma agressão

Agressões a professores*

Ontem, dia 10 de Fevereiro, o meu colega LP foi arbitrariamente agredido em frente ao portão principal da minha escola pelo tio de um aluno seu. Teve de ser socorrido no Hospital de S. Marcos. As marcas físicas estavam bem marcadas no seu rosto.
Os motivos desta agressão física nunca os poderei vir a saber (...), mas de uma coisa fiquei ciente e esclarecido: foi um acto de violência anunciado pelo próprio aluno ao reentrar na sala de aula, depois de lhe ter sido dada ordem de saída por mau comportamento, com o consequente encaminhamento do aluno ao Conselho Executivo. (...)
...
Não foi o primeiro caso, não será o último. Mas foi um caso de insólita violência. Não só pelas agressões físicas e pelos traumatismos, mas sobretudo por ter sido desencadeado contra um professor que agiu no estrito cumprimento das regras. (...)
Todas as interrogações se jogam na conversa: será que a nossa escola tem uma liderança de gestão que é fomentadora de autoridade e inspiradora de disciplina? Será que as regras do RI são ajustadas a estas situações? Será que as directivas emanadas do ME, no que toca a medidas correctivas e sanções disciplinares, permitem fazer face a estes levantamentos súbitos da violência?
Num tempo escolar que é marcado pela conflitualidade entre professores e ME estas interrogações pendem a resposta para um dos lados, sobretudo quando esse mesmo lado tudo faz para «disciplinar» a visibilidade destes casos, ora lhes negando importância, ora os explicando superficialmente, ora apressando-lhes a solução imediata. De fundo, não se tem visto desse mesmo lado a preocupação de legislar ou de fomentar mecanismos de regulação dos conflitos, nem se tem visto apoiar reclamações de segurança, quer em termos de recursos humanos, quer de instalações.
...
Casos destes obrigariam a repensar os sistemas de liderança, e é o que estamos em vias de fazer. Nada como aproveitar para nos questionarmos se a liderança uninominal é a resposta mais eficaz, se o director é o meio e o instrumento da intervenção desejada. E se for, ou se não puder ser evitada essa escolha, que perfil é desejado para o figurante do cargo.
Os sentimentos de culpa de toda uma geração que foi educada na crença da abastança e agora é incapaz de educar, estão aí a emergir cada vez mais. Aqueles que não admitem que a criança, filho ou enteado, seja contrariada, seja «disciplinada», aproveitam-se da mais pequena faísca para vitimizarem os professores. A educação e o ensino são cada vez mais violentos, até no puro plano do conhecimento e da formação: cada vez é preciso mais força (de voz, de saber, de documentos, de livros) para impedir o analfabetismo, a indiferença, a arbitrariedade de juízo, o relativismo ético, a escrita incorrecta, a oralidade imperfeita, a iliteracia, a ignorância abafadora.
Amigo LP, não chores.

*José Hermínio da Costa Machado, in Amostras e Filões (http://mineirodejales.blogspot.com)
________
Notas:

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Campanha negra, uma bosta!

Chovam raios e coriscos sobre toda a humanidade, que o caso não é para menos. Então não é que eu escrevi um texto, todo muito arrumadinho, revisto e alindado, e já com título marcado, e, em vez de carregar na tecla certa para que fosse publicado, demorei mais uns segundos, a lê-lo mais uma vez, na vaidade de encontrar ruga possível, para pronto a retirar, e sabem o que aconteceu? Pois foi. O computador "faliu". O ecrã ficou escuro, e aquilo desligou-se tudo. Berrei e vociferei. Até acordei os vizinhos. E, na esperança tola de poder salvar qualquer coisa, lá liguei o dito à corrente, e abri tudo de novo. Ora, o que eu encontrei foi um primeiro rascunho, e só do primeiro parágrafo. Raios! - berrei de novo. E desta vez, não obstante ser tarde, até o melro fugiu, o que dorme ali ao lado, entre os ramos do loureiro. E fiz logo outra tolice: pus-me a tentar recordar as coisas como as tinha escrito, e a escrevê-las de novo. O resultado, está visto, não podia ser grande coisa. Foi mesmo uma grande bosta. E, se digo bosta, é só para evitar dizer merda, que aquilo que saiu foi mesmo uma grande merda, mas deverão compreender que aqui não posso dizer merda. Por isso é que elevei a merda à categoria de bosta, que tem outra dignidade. E como se a arrelia não fosse já grande assim, resolvi fazer outra asneira:carreguei então na tecla, e publiquei mesmo O amor anda no ar, embora, com este texto conspirativo contra mim, melhor seria dizer: o amor anda já ali em baixo. Pode ser que volte a ele. Tinha uma parte bonita, completamente omitida. Pode ser que acorde de noite com tudo no pensamento. Mas isto, só se o melro cantar.
Ah! Uma outra coisa: eu sou um elemento preto, mais preto que o carvão, que está em campanha negra. Agora estão avisados. E, posto isto, vou deixar isto aqui, antes que diga mais coisas e me torne ainda mais negro, malcriado e radical.
Será que o que me aconteceu, bem como a minha reacção, será conspiração contra mim, desviando a atenção do outro? Será que eu estou a ser vítima de uma qualquer campanha negra, destas que abundam tanto no reino de Portugal? Vejam lá no que se metem. Olhem que eu sou malcriado. Mas também não tanto assim: em vez de merda, digo bosta. Querem que diga outra vez, querem? Olhem que digo:
-Bosta para a campanha negra.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

O amor anda no ar

A tarde não estava segura. Mas, mesmo assim, lá fomos, eu e aquele mais meu parceiro daquela mania de andarmos a ensaiar precisões de ferros, velozes e firmes, tão rentes à terra que muitas das vezes nos traem. Quando a precisão falha, enchemos a terra de buracos envergonhados e enchemo-nos a nós ridículos de lama , nos sítios onde a terra está mais encharcada. Nem sempre é assim. Às vezes acertamos pancadas perfeitas. E, então, é um som que sibila e canta, e nos prende o olhar guloso naquela menina que, pelo impulso, vai subindo, subindo, subindo, e, depois, pela gravidade vai descendo, descendo, saudosa que está de se aninhar no lençol de relva que por ela espera. E, então, lá vamos nós de novo até junto dela, a imaginar outro voo assim. Ou melhor ainda. Aquilo é magia. Ninguém acredita sem ver e ouvir. E sentir o ferro a parar suave por cima do ombro, descrito o arco. A tarde não estava segura, mas lá fomos nós até até aos campos e montes da vila mais linda. Fizemos o jogo. Até nem foi mau.
Mas o mais importante foi aquele momento por que sempre espero todos os anos, e que sempre acontece sem que eu saiba quando. É um momento que me surpreende sempre e que sempre me enche com um sentimento de esperança, de alegria e paz. Não fará sentido, mas é sempre assim. Aconteceu-me ontem. E, quando aconteceu, e disse de novo o que sempre digo. Às vezes é um voo ou um canto de ave que traz esse momento tão mágico até mim; ou uma árvore que ameaça cheiros e cores ainda não visíveis; ou uma flor a abrir, mesmo que discreta, como a violeta.
Aconteceu-me ontem. O que é que mo trouxe? O que disse eu? Ontem foram imponentes aves em namoro acrobático. O amor anda no ar.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Considerandos e nomes

Não percam tempo com os comentários anexos ao penúltimo texto aqui deixado - Seja a ousadia nossa companheira -, que aquilo, do comentário 3 até ao comentário 6, é uma grande confusão.
O comentário 3, em boa verdade, não é comentário nenhum: é um Projecto de Despacho que envolve professores aposentados e serviços de voluntariado, a mando de suas mercês. E é aí, nesse Projecto, que começa a confusão: nos seus Considerando que, Tendo presente que, Tomando em consideração que, Considerando, ainda, que, Tendo em conta que, Considerando, por fim, que; e naquilo que se determina, logo a seguir aos considerandos.
Aparecem dois nomes, nesse comentário 3: um é o do inefável Valter Lemos, o que o torna verosímil, a ele, ao Projecto, e não a ele, ao Valter em si, que ele, mesmo existindo, será sempre inverosímil; o outro é o do Carlos Seixas que, aparecendo mesmo no fim, e por baixo dum pequeno traço de linha, aparece como sendo o nome de quem me deixou o dito cujo ali no comentário 3. Esta referência aos nomes tem a sua importância, embora o não pareça, quanto à tal confusão.
Ora, que podia eu fazer, que não fosse agradecer o envio de tal coisa? E, desconfiado que estava, limitei-me a agradecer polidamente, naquele comentário 4, acrescentando apenas uma curiosidade minha.
Ora vejam lá então, se estiverem abespinhados, aquele comentário 5. Aquilo é uma confissão descarada. Então não é que o Carlos não foi tido nem achado no envio do Projecto? Foi a senhora Isabel, para ver se eu comentava. Ou se fez passar por Carlos, ou, então foi bem pior. Mas não. Eu nem posso sequer supor nada. Daí não poder referir aquele comentário 6. Não. Não pode ser. Por isso, não o vá ler.
Se você leu tudo até aqui, ou é muito paciente, ou muito condescendente, ou está já com neura certa, de tanto me aturar.
Tudo pode acontecer: eu até compreendo mui bem se me estiver a insultar pelo tempo que perdeu; mas ainda compreendo melhor que mantenha a compostura e esteja até a sorrir; e até pode acontecer que se dê ao masoquismo de ir ler os tais comentários.
Eu cá de mim vou-me embora, antes que se faça tarde. Não quero corrigir nada; quero é tomar café.
Muito obrigado pela paciência da sua atenção.

Vê-se bem quem gosta e quem é

Sabe por que é que esta (..) estupidez de conflito, que o primeiro-ministro e a sua cara ministra da educação podiam muito bem resolver, me irrita? Não porque nos faz viver num ambiente escolar péssimo, pois os professores andam cansados de tudo isto, mas principalmente por nos tirarem professores bons (...). Não fisicamente, mas também espirtualmente. Porque, mesmo os que não se foram embora do ensino, não estão . Estão com a cabeça em papéis, reuniões (...). Deprime...revolta. Mas como isto não pode continuar assim por muito mais tempo, e como os professores estão do lado da razão e têm o apoio de muita gente, espero mesmo muito que isto se resolva pelo melhor. Para o bem de todos. (...)
-se tão bem quem são as pessoas que gostam do que fazem! Defendem-no com unhas e dentes...
Com saudade.

Inês
____
Notas: A Inês é uma aluna do 11.º Ano; disse-me uma vez que a assustei nas primeiras aulas; caladinha e esperta, perdeu o medo e começou a escrever; sem ser por obrigação; apenas porque percebeu que escrever é difícil e bom; mostrou-me muitas coisas; dei-lhe a atenção que pude; não lhe dei a que ela merecia. O texto acima escreveu-o ela em forma de comentário que deixou no texto abaixo "Os dois mil eram muitos mais que..."; cortei, censurando, pequenas referências. Mas poderão verificar que não foi censura compassiva ou maldosa.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Seja a ousadia nossa companheira

Escrevi aqui que os dois mil professores que estiveram no sábado, dia 24, em frente ao Palácio de Belém eram muitos mais que os dois mil que lá estavam: eram toda uma classe que representavam. O seu objectivo foi fazer um apelo em forma de denúncia crítica: apelo para que intervenha; denúncia critica pelo seu silêncio. Os professores fizeram o que deviam. Afinal, o senhor Presidente da República é o mais alto magistrado da nação. De certeza que ele os ouviu. E uma palavrinhas suas, por ténues que fossem, seriam sempre bem-vindas a este reino de aflição que consome os professores.
Eu bem sei que alguns dos promotores da concentração arriscaram dizer publicamente que reunir entre quinze e vinte mil seria muito bom. E seria. Mas eu acho que esse número avançado era mais a expressão de um desejo mobilizador do que uma convicção fundada, até porque eles parecem-me professores que estão nas escolas, conhecem os professores e sabem a situação em que os professores se encontram. Por isso, quanto a mim, e para o objectivo pretendido, os dois mil chegaram muito bem.
Voltei a esta questão pois, quanto a mim, é melhor ousar agindo do que ficar sentado à espera, entretido em minudências tácticas, buscando todo e qualquer argumento para se poder sempre reivindicar um sucesso - mesmo que esse sucesso não seja necessariamente o sucesso dos professores -, e se poder sempre também assacar culpas a outros quando e se o insucesso vier. Sim.
Não estou a enterrar a cabeça na areia dizendo que os poucos são muitos; foram os bastantes para nos representarem bem. Não estou sequer a defender os movimentos independentes que promoveram a concentração, que eles não precisam, são muitos mais que eu, sabem mais que eu, e fizeram muito bem. O que estou a querer dizer é que discordo em absoluto da crítica apressada e fácil, directa ou insinuada, que fui lendo e ouvindo a propósito da concentração a que me refiro, crítica essa feita com expressões-tipo já fora de tempo, e não fundamentadas, e também com comparações absurdas com as manifestações e com as greves muito bem sucedidas.
Os movimentos independentes de professores, e outros professores individualmente considerados, têm a força das suas ideias e daquilo que sentem, mas não têm a força de uma estrutura logística nem de uma estrutura legal de representação que lhes potencie a acção. Mas essas estruturas existem. Oxalá que quem as dirige seja mais inventivo, mais clarividente, mais ousado, menos calculista, menos defensivo, menos timorato. Mesmo sendo críticos, nós estamos aqui para os acompanhar. Isto é, se eles não preferiram serem como os tais, de que falei acima, que esperam sentados, entretidos em minudências tácticas, reivindicando sucessos para si mesmos, e assacando culpas aos outros. Mas eles não são como esses tais, pois não?
Os milagres existem. Mas nem sempre podemos esperar sentados que eles aconteçam. Às vezes devemos ousar forçá-los um pouco. Seja, pois, a ousadia nossa companheira.

MUP - Movimento Mobilização e Unidade dos Professores: ENTREGAR? NÃO ENTREGAR?

MUP - Movimento Mobilização e Unidade dos Professores: ENTREGAR? NÃO ENTREGAR?

MUP - Movimento Mobilização e Unidade dos Professores: AVALIAÇÃO: PERGUNTAS E RESPOSTAS

MUP - Movimento Mobilização e Unidade dos Professores: AVALIAÇÃO: PERGUNTAS E RESPOSTAS

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Os dois mil que lá estiveram eram muitos mais que os dois mil que lá estavam

A concentração de sábado, dia 24, em frente ao Palácio de Belém, reuniu cerca de dois mil professores, como foi repetidamente anunciado. Teriam sido mais algumas centenas, segundo alguns participantes. Mas, fossem dois mil, fossem dois mil e quinhentos, isso é de pouca monta, se tivermos em conta o objectivo essencial.
O objectivo central era não só chamar a atenção do senhor Presidente da República para os graves problemas que afectam e tentam diminuir a dignidade dos professores, mas também manifestar o incómodo que sentem perante o silêncio pesado que ele, Presidente da República, tem mantido acerca da problemática docente e da Educação. Ora, para atingir esse objectivo, os dois mil professores presentes foram mais que bastantes. Bastariam mesmo umas centenas.
Eu não estive lá por razões de geografia, e por considerar que, dadas as circunstâncias, muito mais do que a força do número, essa concentração teria, até pelo lugar em que foi feita, uma grande força simbólica. E não será abusivo pensar que muitos milhares de professores, espalhados por todo o país, não estiveram presentes pelos mesmos motivos. Assim, os esforçados dois mil que lá estiveram eram mais, muitos mais, que os dois mil que lá estiveram : eram toda uma classe que se orgulha de manter erecta a coluna vertebral. Foi assim que eu os vi; é assim que os devemos ver.
O senhor Presidente da República recebeu uma relação das preocupações que afligem os professores e minam todo um Ensino que se pretenda sério. Ao analisar essas preocupações, o senhor Presidente da República poderá facilmente ver que a sanha reformista do Ministério da Educação criou um monstro que se alimenta, louco e vaidoso, da trituração dos professores, e que está alegremente a transformar o Sistema Educativo Português num grande circo nacional, onde tudo é a fazer-de-conta, e onde a Educação não tem lugar. Além disso, o senhor Presidente da República perceberá também, caso o deseje, que o seu silêncio ensurdecedor sobre o que se está a passar com os professores e com a Educação pode muito bem ser entendido como sendo objectiva e politicamente conivente com o monstro.
O senhor Presidente da República, em tempos, já denunciou um outro monstro; não pode, pois, vir agora a ser conivente com estoutro. Que ouça o apelo feito pelos professores, mesmo que feito em forma de denúncia crítica. E que se lembre que aqueles dois mil que lá estiveram eram muitos mais do que os dois mil que lá estavam: era toda uma classe a clamar Justiça.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Professores: uma luta de se lhe tirar o chapéu!

Os professores cumpriram estoicamente o seu dever de cidadania fazendo da greve de segunda-feira, dia 19, mais uma demonstração inequívoca de unidade, de vontade e de consciência crítica. Sob este ponto de vista, foi um sucesso indesmentível; o mesmo não digo sob o ponto de vista da sua eficácia. Mas os professores sabiam-no, embora soubessem também que, apesar disso, tinham que cumprir mais este sacrifício. Naturalmente foi mais uma derrota clara para a ministra e para os seus acólitos. Só que, dada a desvergonha genética destes agentes e de quem os protege, esta sua derrota não significa automaticamente a vitória de quem justa e sofridamente lha infligiu. Além disso, chegou-se a um ponto em que o protesto sob a forma de greve - assim datada de um dia só, e intercalado com negociações de que nada se espera - não servem para muita coisa que não seja o desgaste continuo dos professores e a gestão tacticista do tempo, principalmente por parte do governo, para fins eleitorais. Sendo assim, e eu penso que é, outra greve nestes moldes, além de mais desgastante, será contraproducente.

Quase sempre sós, malévola e insidiosamente atacados por mercenários do comentário escrito e falado, alvos de um certo tipo de comunicação social tendenciosa e superficial e convenientemente selectiva, os professores, mesmo humilhados e ofendidos, resistiram, uniram-se e não cederam. Estão num frangalho, mas não cederam, defendendo com unhas e dentes aquele reduto íntimo da sua dignidade própria. E aí venceram. Aconteça o que acontecer, aí, na defesa desse reduto íntimo da dignidade própria, os professores já venceram. Poderemos até passar por eles e vê-los caídos e mortos, mas no seu rosto cansado veremos estampada essa dignidade que defenderam até aos limites do suportável e do insuportável. Há que honrá-los. Tire-se-lhes o chapéu.

A situação em que os professores se encontram é insustentável; o ar que se respira nas escolas é irrespirável; esta guerra sem escrúpulos travada por este governo contra as Escolas, contra os Professores, contra o Intelecto, contra a Democracia, contra a Liberdade e contra a Justiça é uma guerra execrável. Os professores fizeram a sua parte, cumprindo o seu dever de cidadania em defesa destes valores que têm que ser assumidos por todos, e não só por eles. Eles lutaram e bateram a todas as portas para impedir o caos monstruoso que hoje se vive nas escolas: sindicatos, ministério, governo, partidos, tribunais, pais, especialistas, órgãos de comunicação social, portugueses, Presidente da República. Só não bateram à porta dos alunos porque têm o pudor e a ética que os geradores do caos nunca tiveram nem têm.

Os professores estão exaustos. Fizeram tudo. Avisaram toda a gente, embora, como resposta, tenham obtido muitos silêncios cúmplices. Não se lhes pode exigir mais. Poderão eles exigir ainda um pouco mais de si mesmos? Eu acredito que sim. Porque são Professores. Mas também são humanos. Muito humanos mesmo. E nós outros? Vamos deixá-los sós?