quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

O lavrador que queria escrever um livro

Algumas pessoas deixam comentários em textos já antigos. Eu agradeço. Quando isso acontece, levo um certo tempo a descobri-los, pelo que peço desculpa. É que eu habituei-me, não sei bem a razão, a responder a todos os comentários. Mas, nestes casos, demoro ainda mais do que o costume. Às vezes tenho surpresas.
Hoje encontrei um comentário novo, o 21º, em Maçãs entre folhas, assinado por Justa Causa. É o segundo comentário que esta pessoa me deixa. O primeiro deixou-mo em "Homem caminhando sobre a água". Parece que "Justa causa" gosta mais de deixar a sua marca nas fotografias (poucas) que publico. Os dois textos que deixou foram escritos a partir das fotografias. Mas são bem melhores que elas. Se os lerem, dar-me-ão razão.
Alguns leitores deste blogue exigem que eu não me absorva apenas nesta última batalha em que me envolvi: a dos professores que lutam pela dignidade, sua e de todos. Não querem que eu deixe de escrever textos outros, como era mais costume. Alguns até se afastaram um pouco. Mas outros vieram. Far-lhes-ei a vontade, que é a minha vontade também. Contudo, a hora agora e aqui, é quase toda inteira contra a mediocridade completa do Ensino Público que nos querem impor. E, para melhor a impor, tentam acabar com a nobre função de ser professor. Querem que os professores verguem a cerviz. Mas um professor só o é quando anda de pé. Eu, cá por mim, tenho a sorte de poder dizer que serei professor até ao fim. Nem que morra de pé, para continuar a sê-lo.
Vejam lá então o último comentário nas Maçãs entre folhas. Olhem que eu acho que vale a pena. E as minhas desculpas por não dar aqui ao senhor Tempo e às senhoras Peles a atenção que eu desejaria dar-lhes.
Ânimo, se você for professor. Junte-se a nós, se o não for. É que a luta que os professores hoje travam é uma luta de todos, muito embora não o pareça. E não o parece porque há uma barreira cerrada na comunicação social para que as pessoas não se apercebam disso. E não é por acaso.
Querem saber a história do lavrador que queria escrever um livro?

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Senhora ministra, demita-se com alguma dignidade

Depois do "Prós e Contras" de segunda feira, a ministra perdeu todas as condições para continuar a ser ministra da Educação. Mesmo que aceitássemos, e não aceitamos, que em Portugal "qualquer um serve para ministro da Educação". Mesmo que ela desse uma volta de 180 graus na sua conduta e nas suas "políticas", e não dá - que não sabe nem pode -, ela já não tem credibilidade alguma para conduzir seja que processo for. Por isso, que beba a sicuta com alguma dignidade, demitindo-se. Ajudemos o Sócrates livrar-se dela. A luta também está na rua. Parece que eles só entendem isso dessa maneira.
Deixarei ainda hoje umas breves notas sobre o referido programa.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Em jeito de encenação artística

Gostaria de deixar aqui um comentário breve à entrevista dada à Sic, na segunda-feira passada, pelo Primeiro Ministro, que, em jeito de nome artístico, só usa os dois primeiros nomes - José Sócrates.
A entrevista foi bem encenada, com um azul dominante no cenário, quando os intervenientes eram focados em plano maior, em sinal de ponderação e serenidade, combinado com um vermelho vivo, quando se alargava o cenário, em sinal de dinamismo, de força e determinação. Claro que isto que digo é mero impressionismo, pelo que não devem ligar. Mas lá que a leitura que faço é legímima de fazer, isso também é verdade.
Outra parte do encenamento, este já não visual, foi a combinação dos temas sobre os quais o senhor Primeiro Ministro, José Sócrates - os tais dois primeiros nomes, em jeito de nome artístico -, se dignaria falar. Só desses, e não de mais, para a lição ser melhor preparada, e prontamente debitada, com grande fluidez.
E a cereja no bolo, para o cenário ser perfeito, foi aquela simpatia babada das perguntas que eram feitas por jornalistas, sorridentes e encantados com tanta sabedoria. E estavam tão embebidos, esses senhores jornalistas, que até se esqueciam de insistir nas perguntas, que não eram respondidas, e até pediam desculpas, por terem que fazer esta ou aquela, de que o entrevistado poderia não gostar.
O que mais me interessou foi a questão da Educação. Mas esta parte fica para logo, que agora não tenho mais tempo.
...
Nota:
1 -O governo já está a recuar em algumas das mais candentes questões sobre a Educação. Mas são cantos de sereia. Novamente para enganar. E só porque se estão a sentir acossados pela força da razão de quem a tem, mas eles não;
2 - Agora que os professores estão a sair cada vez mais em defesa do ensino e da sua dignidade, e agora que já há indícios de que o governo vai ceder, pelo menos no indefensável, já começam a aparecer, ao lado dos professores, alguns daqueles senhores que sempre estiveram calados, e do lado da ministra. E tal como eu disse há dias, num comentário aqui, também já começam a dizer que sempre estiveram contra aquilo. Acontece sempre assim.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Salve-se o Ensino Público! Dimita-se a Ministra!

Aberrações sucessivas fazem com que as salas de professores andem em polvorosa: uns professores andam aflitos, tentando perceber o que é que têm a fazer, quais sãos os impressos, quais são os papéis, onde é que eles estão, o que querem dizer com aquilo; outros protestam contra tudo, sem entenderem ainda o que lhes fizeram, assim do pé para a mão, com o tempo de serviço, com as reformas; outros andam com fórmulas na mão a fazerem contas, as mais mirabolantes, a ver quando é que podem fugir – aceitando serem roubados -, sem que cheguem a conclusão segura, pois faltam dados que não lhes são dados; outros falam naquele concurso caricato, que foi o concurso para professor titular, onde nunca ninguém encontrou lógica alguma, mas que, como já se está a ver, serve às mil maravilhas para o "controlo democrático" da escola.
Gostaria de lembrar que esse concurso foi uma aberração; foi um concurso sem lógica e sem vergonha. Critérios pedagógicos e científicos? Ai, deixem-me rir! Pessoas que exerceram todos os cargos existentes na escola, não viram nada disso ser tido em conta, porque a senhora ministra, na sua sapiência infinita, e arranjada à pressa, achou que isso só valia a partir de 1999 /2000. Quem tivesse exercido qualquer cargo antes, nada! Não valia nada. Era como se de repente ela acordasse e dissesse que só seria licenciado quem tivesse concluído uma licenciatura no ano em que ela lá arranjou o seu título – as até aí, não valeriam. Um absurdo. Houve pessoas que exerceram todos os cargos possíveis, sem que isso tivesse contado. Por isso, essas pessoas, não alcançaram o estatuto de professor titular. Houve pessoas que, por exemplo, foram presidentes da Assembleia da Escola em 1999, e não tiveram qualquer pontuação. E os que os substituíram em 2000, esses já foram pontuados. Por quê? Mas os critérios, além das datas limites impostas sem qualquer razão, eram eles próprios um arrazoado ilógico, oportunista, desligado da realidade histórico-pedagógica das escolas.
Volto a este assunto, pois, agora - que estamos a viver nas escolas um período bem perto da ditadura -, os professores que ficaram arredados da titularidade sem razão aceitável, vão ser "democraticamente impedidos" de concorrer e ocupar lugares, agora sim importantes, já que a democracia e a competência dentro das escolas estão a ser fortemente atacadas, em benefício de sucessos medíocres e forjados, e de aspirações menores de mandaretes rançosos.
A Senhora Ministra vai-nos entretendo, e entretendo os seus, com formulários, com discussões e reuniões intermináveis e vazias, com activismos febris e tarefismos inúteis. São um queimar tempo absurdo e aberrante. Não se discute nada; repete-se tudo; fica-se inundado de papelada.
Agora a moda é a avaliação dos professores. São os professores os primeiros a quererem ser avaliados. Mas justamente. Por quem saiba. O professor não pode ser avaliado nem por "fingimentos" nem por caprichos fúteis. Pelo que se vê, o modelo de professor que se quer é o professor estatístico, acrítico, inculto, tarefista e de uma activismo a meter pena, pois mais para agradar, pois mais para se dizer que se faz, mesmo que não se faça coisa digna. Ora, isso é a maior aberração. Querem matar o ensino público, é o que é. E, para isso ser mais fácil, há que cercear, atacar e desesperar os professores competentes e responsáveis.
O professor deve ser avaliado na sua função de professor consciente e responsável, na sua qualidade e saber; na qualidade da sua relação pedagógica com os seus alunos, postos de parte os facilitismos imbecis que deseducam e infantilizam os jovens; na capacidade de ajudar os seus alunos a aprender a pensar livremente, com espírito crítico de cidadãos responsáveis; na clareza e segurança dos conteúdos programáticos que vai ministrando, não defraudando irresponsavelmente o aluno em época de exames.
Nenhum professor gosta de reprovar alunos. Mas nenhum professor deve ser condicionado a inflacionar as suas avaliações, só para cumprir os objectivos arrogantes e fáceis duma escola irresponsável e servil, que quer só agradar aos pais, enganando-os; e que quer só agradar à ministra, abanando-lhe canino o rabo; e que, por razões que nem vislumbro, quer agradar ao futuro-próximo Excelentíssimo Senhor Director Doutor Engenheiro Gestor, diplomado por uma escola qualquer, meio desconhecida, numa data qualquer, meio indefinida e tardia.
Temos que lutar contra estas aberrações todas. Em nome dos nossos alunos. Em nome do nosso país. Em nome da nossa dignidade.
Salvemos o ensino público enquanto é tempo.
Vale a pena, porque a mediocridade, o oportunismo e a estupidez só duram enquanto a verdade não chega.
E nós estamos do lado da verdade.