quinta-feira, 24 de abril de 2008

25 de Abril! Apesar de tudo (1)*

Aquela velha e teimosa senhora chamada utopia

Ensinaram-me, ainda menino, nos bancos da escola, um certo sentido épico da História de Portugal. Daí, talvez, este meu arreigado apego à terra e ao povo a que pertenço. Para mal dos meus pecados, pertenço à raça daqueles que não concebem viver sem a sua terra e sem a sua gente. Trazem-nas no peito. E com elas a dor de quem muito exige, porque muito lhes quer - até aos limiares da injustiça, que é o exigir transfigurações a quem não sabe, não quer, ou não pode dar mais.
Esse sentido épico mantém-se e reforça-se criticamente com escritores que me fascinam e me apaixonam: Camões, Antero, Herculano, Aquilino, Jorge de Sena. Também Pessoa, na Mensagem. Em todos eles ressuma uma tensão épica, utópica e mítica que, a um tempo, me seduz e magoa. O mesmo direi daquele 25 de Abril, já quase só mito, onde pulsou o fogo da alma que alimenta a vida.
Foi a 25 de Abril. Poderia ter sido noutro dia qualquer. Mas foi a 25. A mudança era inevitável. O regime fascista era uma maçã bichosa. Podre. Incapaz de se suster. Qualquer aragem a faria cair. E fez. Estava tudo cansado e descrente. Mesmo os indiferentes. Mesmo os ignorantes. Mesmo os colaboracionistas e os "bufos". Todos sabiam que a queda do fascismo era iminente.
Caiu a 25 de Abril. Sonhos secretos explodiram, contagiando tudo e todos. Rebentou-se o calendário parado num tempo que nos abafava. Acabou o pesadelo castrante da ridícula ditadura que nos mantinha isolados e imóveis numa Idade Média fora do tempo. Reencontrámos o nosso tempo. Recuperámos o nosso orgulho de pátria. Reconciliámo-nos todos numa esperançosa bebedeira de vida. Fomos actores de primeira nos palcos da rua. E, numa alegria épica de povo, pintámos tudo de cores garridas, e inventámos um mito. Demos-lhe um nome - 25 de Abril.

A história não se faz num só dia. Mas há dias que fazem história por consubstanciarem ideais que longa e sofridamente esperaram para florir. Foi o que aconteceu a 25 de Abril de 1974, neste país isolado, ofendido e humilhado, onde as espingardas floriram em cravos. Mas esse dia, que hoje é mito, não se descomprimiu abruptamente do nada, por capricho dos deuses. Nasceu de gestos e de atitudes de homens e de mulheres que ousaram sonhar e que ousaram erguer a voz contra a ditadura, pela liberdade, numa resistência de muitos e longos anos. Foi o caso de Humberto Delgado, e de todos quantos o acompanharam no desafio à ditadura nas eleições presidenciais de 1958, cujo combate por um regime democrático abriu brechas na suposta solidez absoluta do Estado Novo, e mostrou que a conquista da liberdade exige coragem, determinação e ousadia. Foi também o caso de muitos outros, em associações clandestinas, em associações “toleradas”, em gestos de coragem individual. Todos eles deram passos decisivos para que se criasse aos poucos uma nova mentalidade e uma nova cultura política, ao recusaram ser escravos do medo, pagando, embora, um preço muito elevado – a discriminação, a perseguição, a prisão, e até a morte.
Associar, pois, todos esses homens e mulheres, e o eco positivo da sua luta pela liberdade, com o 25 de Abril de 1974, afigura-se-me não só lógico, como justo, dada a sua acção precursora pelo derrube da ditadura e pela instauração de um regime democrático.
Dizer isto não é apoucar os homens de Abril, mas sim mostrar a consequência histórica da razão do seu nobre gesto e, deste modo, dignificá-los mais, não deixando que o 25 de Abril se confunda com uma mera acção corporativista, militarista, desgarrada e voluntarista, sem ligações profundas com a história e com a alma de um povo. Na verdade, e sem deixar de reconhecer alguns dos chamados homens de Abril, e lhes prestar homenagem pela grande coragem que demonstraram, outros heróis há que os precederam: os que longamente resistiram, os que não desistiram, os que se sacrificaram, os que morreram.
No 25 de Abril, o verdadeiro herói foi colectivo. Como em Fernão Lopes. Para legitimarem o Mestre. Foi o povo que, com a sua acção transfiguradora, épica e utópica, legitimou o golpe militar de Abril. Cada vez se vai falando menos desse povo na rua, marginalizando a sua acção, e não lhe dando a relevância histórica que por direito tem.
Nas comemorações oficiais e nacionais do 25 de Abril vê-se bem essa marginalização. Elas, as comemorações oficiais, primam, regra geral, pela ostentação da pompa, da circunstância e do alarido, aliando a sua efemeridade a um sensacionalismo promotor dos celebrantes, à custa do apagamento da importância do acto celebrado, naquilo que ele tem de histórico, sociológico e politicamente sério.
Nelas promovem-se uns e esquecem-se outros, de acordo com as conveniências, as circunstâncias e as simpatias. Fazem-se listas de quem é e de quem não é de Abril; de quem é e de quem não é herói. Este jogo chega a atingir os limites do brincar com a memória crítica de quem viveu os acontecimentos, tentando reescrever a história, mutilando-a. E é por isso que os “oficialmente” identificados como heróis de Abril, vítimas muitas vezes de si próprios, e destas vicissitudes, vão aparecendo como heróis sem a consistência necessária para serem tais.
O povo, esse não cabe, nem poderia caber, nas listas. Deixou o palco da rua e os celebrantes subiram ao palanques das comemorações decorativas e do elogio fácil. Do elogio fútil. Do elogio mútuo, onde cabe tudo. Assim, as comemorações foram perdendo o espírito de Abril, restando-lhes quase só o simulacro.
Mas o que é que foi ou como é que foi verdadeiramente o 25 de Abril? Que resta dele? O que é que se perdeu e o que é que se ganhou? Como recuperar o seu sentido épico?
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*Notas:
1 - A continuar nas Sete Peles ; este texto foi escrito à pressa, e com base nos apontamentos por que orientei a minha intervenção sobre o 25 de Abril, ontem, dia 23, na Escola Secundária Carlos Amarante, em Braga; aqui ficam também os meus sentidos agradecimentos a essa escola, e ao honroso convite que me fizeram.
2 - Dedico este texto a todos os professores que estiveram na manifestação de 8 de Março, em Lisboa, incluindo também aqueles que não estiveram porque não puderam.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

25 da Abril! Apesar de tudo

Recebi um honroso convite para fazer uma pequena intervenção na Escola Secundária Carlos Amarante, Braga, no âmbito das diversas e louváveis actividades que esta escola periodicamente organiza. Não sendo propriamente um tema que me "galvanize", gosto de falar dele.
Logo, a partir das 19 horas, penso deixar aqui a síntese da minha intervenção.
Até breve.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

A Felicidade exige coragem

Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes : mas, não me esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo, e que eu posso evitar que ela vá à falência !
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desaires, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixarmos de ser vítimas dos problemas e tornarmo-nos autores da nossa própria história.
É atravessar desertos fora de nós, mas sermos capazes de no recôndito da nossa alma encontrar um oásis.
É cada manhã agradecer a Deus pelo milagre da vida.
Ser feliz é não termos medo dos próprios sentimentos. É sabermos falar de nós próprios. É termos coragem para ouvir um "não". É termos segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
"Pedras no caminho ? Guardo todas, um dia vou construir um castelo ..."

Fernando Pessoa

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Senhor Mário Nogeira: Em nome da unidade, quando é que vai pedir desculpa aos professores que ofendeu? *

Escolas que rejeitaram o Memorando de Entendimento

Contabilização (12.00 horas de 17.04.2008)


Agrupamento de Escolas da Freixianda, Ourém
Agrupamento de Escolas de Cacia, Aveiro
Agrupamento de Escolas Conde de Ourém, Ourém
Agrupamento de Escolas Cávado Sul, Barcelos
Agrupamento de Escolas da Área Urbana da Guarda (Santa Clara)
Agrupamento de Escolas da Batalha
Agrupamento de Escolas da Ericeira
Agrupamento de Escolas da Ribeira do Neiva, Vila Verde
Agrupamento de Escolas de São Bruno,
CaxiasAgrupamento de Escolas de São Julião da Barra, Oeiras
Agrupamento de Escolas de Taveiro, Coimbra
Agrupamento de Escolas Dr. Correia Mateus, Leiria
Agrupamento de Escolas das Marinhas, Esposende
Agrupamento de Escolas de Almeida
Agrupamento de Escolas de Alvaiázere
Agrupamento de Escolas de Amares
Agrupamento de Escolas de Marrazes, Leiria
Agrupamento de Escolas de Oliveirinha, Aveiro
Agrupamento de Escolas de Ovar
Agrupamento de Escolas do Monte da Ola, Viana do Castelo
Agrupamento de Escolas Frei Gonçalo de Azevedo, Cascais
Agrupamento de Escolas Nº 1 de Loures
Agrupamento de Escolas Professor Carlos Teixeira, Fafe
Agrupamento de Escolas Frei Gonçalo de Azevedo, Cascais
Agrupamento de Escolas José Saraiva, Leiria
Agrupamento de Escolas Lousada Oeste
Agrupamento de Escolas Rosa Ramalho, Barcelinhos
Agrupamento de Escolas de Valdevez
Agrupamento Vertical de Escolas de Ponte da Barca

Agrupamento Vertical de Escolas Vale de Milhaços
Agrupamento Vertical de Escolas da Correlhã
Escola Básica Integrada de Colmeias, Leiria
Escola Básica Integrada João Roiz, Castelo Branco
Escola Básica Integrada da Mexilhoeira
GrandeEscola E.B.2.3 Mário Beirão, Beja
Escola EB 2.3 Álvaro Velho, Lavradio
Escola EB 2.3 da Caranguejeira, Leiria
Escola EB 2.3 de Bocage, Setúbal
Escola EB 2.3 de Montelongo, Fafe
Escola EB 2.3 de Nisa
Escola EB 2.3 de Nogueira, Braga
Escola EB 2.3 de Penedono
Escola EB 2.3 de Real, Braga
Escola EB 2.3/S de Maceira, Leiria
Escola EB 2.3 Frei Bartolomeu dos Mártires, Viana do Castelo
Escola EB 2.3 Gafanha da Nazaré, Aveiro
Escola EB 2.3 José Ferreira Pinto Bastos, Ílhavo
Escola Sec./3 Artur Gonçalves,Torres Novas
Escola Sec./3 de Latino Coelho, Lamego
Escola Sec./3 Dr. Jorge Correia, Tavira
Escola EB D. Maria II, Vila Nova de Famalicão
Escola EB 2.3/S de Arcozelo - Ponte de Lima
Escola EB 2.3 Atouguia da Baleia
Escola EB 2.3 de Caldas das Taipas, Guimarães
Escola EB 2.3 da Correlhã, Ponte de Lima
Escola EB 2.3 Dairas, Vale de Cambra
Escola EB 2.3 Carlos de Oliveira, Febres
Escola EB 2.3/S Monte da Ola, Viana do Castelo
Escola Integrada de Forjães, Esposende
Escola Secundária c/ 3ºCiclo de Henriques Nogueira, Torres Vedras
Escola Secundária Afonso Lopes Vieira, Leiria
Escola Secundária Camilo Castelo Branco, Vila Real
Escola Secundária Clara de Resende, Porto
Escola Secundária Conde de Monsaraz, Reguengos de Monsaraz
Escola Secundária D. Afonso Sanches, Vila do Conde
Escola Secundária D. Inês de Castro, Alcobaça
Escola Secundária D. Maria II, Braga
Escola Secundária D. Martinho de Castelo Branco, Portimão
Escola Secundária da Mealhada
Escola Secundária da Póvoa de Lanhoso
Escola Secundária de Arganil
Escola Secundária de Barcelos
Escola Secundária de Figueiró dos Vinhos
Escola Secundária de Lousada, Porto
Escola Secundária de Monserrate, Viana do Castelo
Escola Secundária de Olhão
Escola Secundária de Palmela
Escola Secundária de S. Pedro, Vila Real
Escola Secundária de Santa Maria, Sintra
Escola Secundária de Vagos, Aveiro
Escola Secundária do Entroncamento
Escola Secundária Domingos Sequeira, Leiria
Escola Secundária dos Casquilhos - Barreiro
Escola Secundária Dr. João Araújo Correia, Régua
Escola Secundária Dr. Manuel Fernandes, Abrantes
Escola Secundária Eng.º Acácio Calazans Duarte, Marinha Grande
Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo, Leiria
Escola Secundária Ibn Mucana, Cascais
Escola Secundária Infanta Dona Maria, Coimbra
Escola Secundária Madeira Torres, Torres Vedras
Escola Secundária Maximinos, Braga
Escola Secundária Padre António Vieira, Lisboa
Escola Secundária Pinhal do Rei, Marinha Grande
Escola Secundária Sá de Miranda, Braga
Escola Secundária Sebastião da Gama, Setúbal
Escola Secundária de São Pedro, Vila Real
Escola Secundaria de Tavira
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*Notas:
1 - Em itálico e a negrito as escolas dos distritos de Braga e de Vianoa do Castelo;
2 - Um abraço muito especial aos colegas da Ribeira Do Neiva.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Nós não somos a voz do dono

Mário Nogueira, dirigente da FENPROF, e porta voz da Plataforma dos Sindicatos é também nosso dirigente, é também nosso porta voz. E quem está a dizer nosso, está a dizer dos professores. E isto devia ser para ele uma honra e um elogio. É que a “esmagadora maioria” dos professores não é da FENPROF, nem é de nenhum sindicato. E mesmo aqueles que são, não são “propriedade pensante” dessas instituições necessárias, e que nós queremos unidas, e sempre ao nosso lado, para estarmos do lado deles.
Não sei se ele percebeu que o que estou a dizer devia ser elogio para ele. Ele não deve ter percebido bem o que está a acontecer. Há que lhe dar um tempo a ver se ele entende o que se está a passar. Eu não quero acreditar que ele já tenha entendido e faça as declarações que faz.
Isto não é discurso anti-sindicalista. Seria estúpido e até injusto. Os sindicatos terão o nosso apoio. Mas têm que olhar para os professores, e não para estatísticas que “provam” o que cada um quer que se prove.
Eu não quero acreditar que ele faça o discurso arrogante de contar espingardas como aquele da “esmagadora maioria” das escolas que aprovou a “Moção”, toda muito certinha, toda em letra pequenina, toda pronta a aprovar ou rejeitar, fazendo de conta que nos plenários não se ia discutir coisa nenhuma, ou que se iam dizer umas tretas, ou aproveitar o plenário para ter uns furos no horário.
Ele sabe muito bem que em muitas escolas nem se fez plenário. Noutras foi mesmo só entrar, aprovar a moção e sair. Em muitas, muitas mesmo(talvez aqui caiba melhora “esmagadora maioria”, não houve serenidade bastante para reflectir em conjunto, e foi-se pelo mais óbvio. O acordo só se soube no sábado. Os professores só se encontraram em intervalos de aulas na segunda-feira. Cá no norte, a segunda feira foi para tratar das concentrações. E hoje, terça-feira de manhã, lá estávamos nós.
Poderá até vir a provar-se que a “esmagadora maioria” aprovou essa moção. E daí? Isso a mim, que votei contra, não me incomoda nada. Terei apenas que reconsiderar e ver onde é que melhor caibo ao lado dos professores e dentro desse contexto. E ficarei até todo contente se o tempo vier a dar razão a quem a aprovou. E não vou desrespeitar quem achou por bem aprová-la. Mostrarei o meu ponto de vista. E estarei disposto a reconsiderar. Não achará ele que o mesmo se deve a quem não aprovou a Moção, por aquilo lhe saber a pouco?
Também não quero acreditar nas declarações que ele fez e que vêm hoje numa notícia do Público. Devem estar fora do contexto, ou outra coisa qualquer.
Nós apoiamos os sindicatos. Mas esse apoio não é incondicional e automático. E os dirigentes sindicais devem saber, a começar pelo Mário Nogueira, que os professores os apoiam, mas não são só deste ou daquele partido. A maioria talvez não seja mesmo de partido nenhum. É o que acontece comigo.
Que o Mário Nogueira não caia no discurso e nos métodos de acção em que a ministra caiu. A não ser que ele queira ficar só com a FENPROF, o que seria um erro crasso, para ele e para nós.
Mas eu acho que tudo é um equívoco. Eu acho que ele não está a querer dividir os professores.
Nós estaremos com ele. Mas ele tem que estar connosco. E se não concordarmos com ele, ele, ao menos, terá que nos ouvir sem que comece a disparar à toa, vendo inimigos em todo o lado. Não é verdade.
Lamento imenso, mas também digo não ao acordo. isto é, ao entendimento. E quero dizê-lo aqui. Agora. Logo após ter chegado da manifestação de Braga, de que gostei, e de que dei nota Já sei que me vão perguntar: e que alternativa propões? E então perguntarei eu: por que não perguntaram isso antes desse tal entendimento?Eu escrevi sobre a chantagem que fizeram com os professores contratados. Disse até que a ministra os tinha tomado como reféns. Mas agora estou a ver que eles também servem como uma espécie de "escudo" contra quem diverge do acordo, quero dizer, do entendimento.Outra coisa: eu não admito que me mandem actas feitas para eu assinar no fim assim sem mais esta ou aquela.Ele faz algum sentido dizer cobras e lagartos - aliás, com toda a justiça - e depois aceitar pacificamente, porque os sindicatos assim acharam, que ele se aplique um ano inteiro? E depois, os sindicatos, prometem ouvir os professores acerca de sugestões, e até sobre formas de luta contra esse tal modelo, depois de o consentirem, depois de o assinarem?

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Braga voltou à rua e sorriu cansada

Hoje. Dia 14 de Abril. Pela segunda vez, em Braga. A partir das 21:00. Foram chegando. Desta vez mais cabisbaixos. Mais receosos. Apareceria alguém? E quantos? Os bastantes para continuar a ter força e respirar esperança? Um número digno? Houve de novo abraços. Mais vagarosos. Menos palavras. De novo sorrisos. Cansados. Alguns quase tristes. A mesma afectividade da primeira vez. E sempre a mesma pergunta: quantos estarão aqui? E lá se ouvia uma e outra voz mentindo. Muitos.
A praça foi-se compondo. Às dez horas respirou-se de alívio. Afinal, estavam mesmo muitos. Não tinha havido grande mobilização. As pessoas gastaram-se na espera do "entendimento" entre os sindicatos e o ministério. E o entendimento, nem de propósito, apanhou-os fora da escola, no fim de semana. Só hoje é que se avançou no contacto um a um. E havia aquela coisa nada bem digerida do tal "acordo" que, afinal não é. E os de longe, hoje não vieram. Mas, afinal, mesmo assim eram muitos. Uns 1500 professores. Contas por defeito. Um sucesso, dadas as circunstâncias. Os professores de Braga continuam de pé. Cansados. Mas de pé. E sem vontade de se venderem por trinta dinheiros.
Ouviam-se queixas. Ouviam-se dúvidas. Faziam-se perguntas a que não se sabia ou não se queria responder. Depois houve discurso. Oficial. Com aparelhagem a ampliar o som. Ao contrário da primeira vez. Os professores foram ouvindo. E bateram palmas uma e outra vez. Nunca quando se "explicava" o "acordo", que, afinal, não é; sempre que ao de leve, e numa perspectiva longínqua e desresponsabilizante, se falava nos verdadeiros motivos da queixa e da mágoa que os professores guardam no peito.
Rostos preocupados. Rostos interrogativos. Pessoas a quererem crer. Ainda. Pessoas conscientes que fizeram tudo. Que deram tudo. Física e psicologicamente
. Em nome duma causa justa: a dignidade, o respeito, a Educação pública, a justiça, a democracia, a solidadariedade. Mas que começam a duvidar ao ouviram cantos de vitória no acessório, sem que se enfatize o essencial. E o essencial é a revisão urgente do Estatudo da Carreira Docente; o essencial é o anulamento daquele concurso injusto e ilógico para "titular"; o essencial é rever o Estatudo "anormal" e irresponsável do Aluno; o essencial é a exigência de um modelo de Gestão Escolar, que não ofenda a democracia e que não deixe "partidarizar" as escolas; o essencial é a rejeição do iníquo modelo de avaliação proposto, e não a sua aplicação "suave" durante dois meses.
Dadas as circunstâncias, foi muito bom ver mais de 1500 professores sairem à rua em Braga. E foi muito bom ver que ainda não desistiram. E que mostraram a todos - até aos sindicatos -, que não será pela parte deles que o barco se afunda.
Que os sindicatos cumpram a sua função
. Mas que não se iludam com pequenos pedaços de toucinho "estragado". Os professores, esses não se iludirão.
Obrigado, colegas de Braga.
É sempre bom estar entre gente.
Gente cansada.
Gente magoada.
Mas gente que é gente, e que segue em frente.

CONCENTRAÇÃO! NÃO FALTES! HOJE DECIDE-SE A RAÇA DE QUE SOMOS FEITOS!

1 - Reina a polémica em volta da assinatura do "acordo / entendimento" entre a ministra e os sindicatos;
2 - A imensa maioria dos professores estão descontentes, e muitos acham mesmo que foram traídos; o ambiente nas escolas não é de celebrar "vitória"; não vi um único colega a defender convictamente a imagem dos sindicatos; mas vi-os com o mesmo ânimo na disposição de reivindicarem a revogação ou alterações profundas no Estatuto da Carreira Docente, Estatuto do Aluno e no Modelo de Avaliação, que foi travado, mas não foi suspenso, tendo simplesmente sido "adiado" por uns mesitos;
3 - Alguns colegas estão a fazer das tripas coração para tentarem defender a imagem dos sindicatos; isto acontece principalmente em alguns blogues; alguns dos argumentos que apresentam são válidos, merecem atenção, desenvolvimento e apoio; outros têm apenas a intenção de defenderem a sua dama, que, neste caso, não é a ministra;
4 - O acordo, na sua simbologia, pode ter para os professores um mérito muito importante; assim o saibamos entender e mostrar; assim os sindicatos o entendam também; mas não foi uma vitória em relação aos objectivos que tínhamos e temos; pode também ser entendido como uma vitória para a ministra, se nos desunirmos em recriminações de enfraquecedoras; é uma discussão a travar;
5 - Hoje essa discussão não é prioritária; o que está feito está feito: os sindicatos lá saberão das suas razões e dos seus interesses, e nós cá estamos para ouvi-los, e apoiá-los, ou mandá-los às urtigas, se for isso o que eles querem; mas eles não "devem" querer perder os professores (estou a medir as palavras);
6 - Hoje, as nossas energias devem ser canalizadas - em nome dos ojectivos referidos no ponto 2 -, para as concentrações anunciadas em várias localidades do Norte, e para a mobilização e preparação do debate nas escolas, amanhã, dia 15; isto é que é urgente agora; o resto fica para depois;
7 - Nada está ainda ganho. Nada está ainda perdido. Não podemos parar, que nada está ainda decidido.

HORÁRIO DAS CONCENTRAÇÕES DE HOJE:

VILA REAL - Praça do Município, 19h00;
PORTO- Praça da Liberdade, 19h30;

BRAGA- Av. Central, 21h00
BRAGANÇA - Pc Cavaleiro Ferreira, 21h00
VIANA DO CASTELO - Praça da República,21h00

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Em frente, que onde há sonho há gente

O Presidente da República, Cavaco Silva, promulgou hoje, sexta-feirra, o diploma sobre a Gestão e Administração Escolar, que lhe foi apresentada pelo governo "socialista".
Uma decepção. Mas previsível. Decepção porque:

1 - O diploma, agora promulgado, mantém as incompatibilidades com a Lei de Bases do Sistema Educativo, incompatibilidades essas herdadas da lei anterior, e que nunca ninguém relevou convenientemente; além disso, e abrindo mão da dita "competência automática" que a ministra afirmava acerca dos titulares, este diploma abre as portas a professores não titulares para o cargo de "director de liderança forte"; dir-me-ão que isso é bom; mas é uma incongruência, quando o não titular não pode ser coordenador; e permite os tais jeitos para nomeações convenientes;

2 - Quando exigiu "sinais positivos" das bandas do ministério da Educação, e quando disse que os "professores deviam ser respeitados" (cito de cor), os professores esperavam bem mais dele, mesmo não querendo nem precisando de fazer dele um D. Sebastião qualquer; e não vou enumerar, porque estão mais que enumerados, os passos que a ministra foi dando para isolar, desrespeitar e ofender os professores, e que o Presidente da República deve conhecer muito bem;

3 - Afinal, foi ele que acabou por dar um "sinal positivo" à ministra, por quem diz ter consideração pessoal - e isso é lá com ele -, e ao governo socilaista, principalmente ao Senhor Engenheiro injustiçado, cuja avaliação académica é digna de medalha de mérito; a ministra e o ministro, também ele de "liderança forte", vão fazer render o peixe com esta promulgação; já o devem estar a fazer; mas eu até acho que é bom.

Resta-nos continuar. Com lucidez e coragem. Mas continuar.
Na segunda-feira, dia 14, é dia de concentração cá para as bandas do Norte.
Em frente, que onde há sonho há gente.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Um só caminho: resistir ao pântano da hipocrisia

Escola Secundária Conde de Monsaraz
Moção

Face às recentes alterações introduzidas na organização das actividades das escolas, nomeadamente a Lei 3/2008 (Estatuto do Aluno), Dec.Lei 3/2008 (Educação Especial) e Decreto Regulamentar 2/2008 (Avaliação de Professores), a Assembleia de Escola da Escola Secundária Conde de Monsaraz vem expressar a sua apreensão:

1. Pelo grande volume de informação a ser analisada e implementada em prazos demasiado restritos, uma vez que esta Escola não dispõe de recursos humanos suficientes para estudar e dar cumprimento às medidas legislativas e à reformulação dos seus documentos internos, em especial Regulamento Interno e Projecto Educativo, por exemplo;

2. Pela ausência de requisitos previstos nas próprias normas legais, a título de mero exemplo, os documentos orientadores da Avaliação de Professores;

3. Pela perturbação resultante do excesso de informação que envolve os temas referidos, e que não encontra confirmação legalmente sustentada, no que diz respeito à aplicação do Estatuto do Aluno, ou avaliação simplificada das regras de Avaliação de Professores;

4. Porque, do ponto de vista institucional, consideramos insuficientes as declarações de responsáveis políticos veiculadas pela comunicação social ou as circulares oficiais cujo conteúdo não parece obedecer à letra e espírito da legislação vigente.

Assim, a Assembleia de Escola recomenda a todos os órgãos directivos e pedagógicos desta comunidade escolar a observância estrita das normas legais em vigor, dentro dos limites dos recursos disponíveis, reconhecendo que o processo legislativo obedece a procedimentos e a hierarquias estabelecidas, que não podem ser ultrapassadas, e que as normas só ganham força de Lei quando promulgadas pelo Presidente da República e publicadas em diário da República. Qualquer antecipação, interpretação, simplificação ou orientação manifestamente contrária à Lei e a deliberações dos Tribunais deve ser ignorada. Ao inverso, não pode ser ignorada a suspensão dos procedimentos em matéria de Avaliação de Professores enquanto não for dirimido o conflito jurídico levantado pela interposição de providências cautelares sobre a matéria em apreço.

A Assembleia de Escola repudia a avaliação simplificada dos docentes contratados, o que se traduz numa discriminação susceptível de questionar a sua dignidade profissional.

A Assembleia de Escola repudia a aplicação antecipada de orientações que, embora já aprovadas pelo Governo ou pela Assembleia da República, careçam ainda da intervenção do Presidente da República. Nesse sentido, dando cumprimento ao Decreto Lei 115-A/1998, e aproximando-se o fim do mandato desta Assembleia e do Conselho Executivo, recomenda-se que sejam iniciados de imediato os preparativos relativos aos respectivos processos eleitorais.

Reguengos de Monsaraz, 2 de Abril de 2008
...............
Dar conhecimento:
Assembleia da República
Presidente da República
M. E.
D. R. E. A.
Plataforma Sindical de Professores
Sindicato dos Professores da Zona Sul
Sindicato Democrático dos Professores do Sul
Assembleia de Escola dos Agrupamentos e Escolas da área geográfica da D. R. E.
Órgãos de Gestão intermédios da nossa escola.

terça-feira, 8 de abril de 2008

É a pronúncia do Norte / Esta voz que sai mais forte (II)

E, no Marquês, houve uma explosão de contentamento. Que o sorriso vos acompanhe sempre; e que sempre juntos; e sem abdicar nunca dum estatuto digno; pois o que temos está ferido de indignidade; assim foi a 8 de Março; assim seja hoje, depois da reunião da Ministra com a Plataforma Sindical; há que estar atento.
Pausa na viagem; a única; aquilo foi uma aflição para conseguir um café; e uma longa fila de espera para assuntos mais prosaicos ainda; os homens desistiram da fila; uns atrevidos sem vergonha.
Um casalito especial: a Marta, minha ex-aluna, e o namorado; eu devia puxar-lhe as orelhas pelo atrevimento; é que eu só autorizo "namoros" depois dos 35 anos; e com reserva. As outras colegs, principalmente a do sorriso franco, compõem o ramalhete.
Conversas conspirativas contra a ministra? Predominam as mulheres, as mais aguerridas.
Caras bonitas e com esperança. A jornada adivinhava-se linda. Pelo caminho, a alegria cresceu. E, no Marquês, houve uma explosão de contentamento. Mas a "viagem" é longa. E deve continuar.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

A balbúrdia "reformista", a Ministra e o Presidente

1.
Todos os dias acontecem, nesta ou naquela escola, casos de indisciplina mais ou menos graves, e, alguns, excepcionalmente graves. São problemas com os quais a escola, no seu conjunto, tem que saber lidar. E, para tal, tem que ter regras claras e simples, que possam ser aplicadas atempada e eficazmente, para a prevenir, para a minimizar, para a conter nos limites mínimos da razoabilidade. Não será tarefa simples nem rápida, que se faça por “decreto”, mas é uma realidade que temos de enfrentar.
Claro que para enfrentar este problema, o professor é um elemento fundamental. Mas não pode ser o único responsável, muito menos quando as coisas não correm mal. O professor tem que ter o suporte legal, que lhe permita agir com segurança, e contar com o apoio positivo e co-responsável da comunidade escolar. Não pode mais tolerar-se que o professor, quando as coisas correm mal, se transforme facilmente numa espécie de bode expiatório, como se fosse ele o “culpado”, quer tenha culpa ou não.
Quando actos de indisciplina grave atingem os limites do intolerável, então, sim, terá que ser estabelecida uma fronteira clara entre indisciplina e violência, ou até crime. E, só ultrapassada essa fronteira, é que deve entrar a polícia e os tribunais. E não há que hesitar na defesa desta fronteira, embora se reconheça, e tenha que se ter sempre em consideração que essa fronteira exigirá, muitas vezes, cuidada ponderação.
2.
Os casos recentes, de indisciplina e violência, foram muito badalados. E provaram isso mesmo: que são necessárias regras claras, simples, eficazes. E que elas não existem. Existe é uma balbúrdia de regulamentos díspares, que desresponsabilizam os pais, que desresponsabilizam os executivos, que desresponsabilizam a sociedade em geral, permitindo que, levianamente, se crucifique o “professor”, quando isso convém ao “status” estabelecido, e que esteja mais na moda. Pode, também, e em "alternativa", crucificar-se o aluno. É sempre mais simples apontar o dedo só a um.
O caso da Carolina Michaelis é bem ilustrativo disto tudo: o conselho executivo da escola parece que não existia; o director de turma, esse também não apareceu; muitos dos nossos comentaristas atiraram-se à professora, uns de forma mais pudorada, outros mesmo sem pudor algum; alguns pais “aproveitaram”, e arranjaram desculpas, culpando a professora também.
Com as imagens chocaram, a Comunicação Social insistiu e insistiu e insistiu. E, caso raro, desta vez insistiu bem. Foi um choque nacional. Muita gente acordou ao ver aquilo: os professores aumentaram o seu nível de indignação; os nossos alunos viram ali mesmo ao vivo o disparate que aquilo foi, e não gostaram do que viram, e não se revêem naquilo; os pais viram o que alguns jovens descontrolados são capazes de fazer, e aquilo a que um professor pode estar sujeito em questões de disciplina.
3.
Foi bom terem repetido tanto aquelas imagens chocantes. Isso fez com que o problema saltasse claramente para fora dos muros da escola, onde tem estado mais ou menos em “repouso”, mais ou menos escondido. Obrigou a pensar e à tomada de posições que, mesmo que contraditórias, ou apenas divergentes, deram o seu contributo para acordar um pouco o país.
E, muito importante - por mais que isso desagrade à senhora ministra e à política “educativa” do iluminado José Sócrates -, a divulgação deste caso, bem como a discussão que motivou, permitiu que ele se ligasse a problemas que vêm de trás, dando-lhes maior visibilidade. Vêm esses problemas de há muito tempo. Vêm de há mais de trinta anos.
A verdade, porém, é que esta ministra - cumprindo desastradamente a política economicista, arrogante e sem escrúpulos deste governo -, deu um “contributo” importante para potenciar, problemas antigos e latentes, que eles incendiaram.
Na verdade, a senhora ministra e os seus desautorizaram, desrespeitaram e tentaram “linchar” publicamente a dignidade do professor; vieram com o Estatuto da Carreira Docente duma forma injusta, apressada e arrogante, sem quererem ouvir ninguém; vieram com o Estatuto do Aluno, um documento que deveria servir como prova de insanidade, pela aberração que é, e pela permissividade irresponsável que contém; vieram com uma autêntica enxurrada de regulamentos e de normas inaplicáveis, sem sentido, incongruentes, disparatados; segundo elas, o professor é responsável por tudo e todos; o professor torna-se “escravo” a quem querem tirar a liberdade de pensar e de agir; o aluno deixa de ser responsável pelo seu comportamento; o aluno deixa de ser responsável pelo seu aproveitamento; o aluno pode faltar quando bem lhe apetecer e as vezes que lhe apetecer; os professores foram humilhados, até na comunicação social, por qualquer debitador de opinião sem fundamento.
Ora, esta loucura tem de parar. E tem que acabar. O país não aguenta mais uma irresponsabilidade assim. Uma mediocridade assim. Uma arrogância assim. Uma desvergonha assim.
4.
O país ficou chocado. O Presidente da República também. Ele assim o afirmou. E mandou convocar o Procurador Geral da República e representantes da plataforma sindical.
Eu acho que ele devia era chamar a ministra e, porque diz que tem consideração pessoal por ela, deveria aconselhá-la a sair com alguma dignidade, saindo pelo seu pé. Ou, então, chamar José Sócrates, com quem bem se tem entendido, e, em nome desse bom entendimento, deveria aconselhá-lo a mandar embora o peso morto que a ministra hoje já é.
Eu desejo as melhoras ao senhor Presidente da República. Desejo sinceramente que ele recupere depressa da gripe que o atacou. E desejo que ele ouça bem o Procurador Geral da República e os nossos representantes legais, os sindicatos.
Mas desejo mais ainda: que convoque a senhora ministra, e que sobreponha ao apreço pessoal que por ela tem o apreço que ele tem pelo país - e eu sei que tem. E isto só significa que tem que a chamar à razão; ou, então, que convoque José Sócrates e simplesmente lhe diga que com a Educação não se pode jogar o jogo pindérico de campanhas eleitorais a destempo.
Faça isso, senhor Presidente.
Faça a sua obrigação.
O país ficar-lhe-á grato.

Um só que fosse, já valia a pena*

BOM DIA, Senhor Tempo.
Certamente conhece muito bem este poema, mas nãoresisti a enviar-lho. É que o debate de ontem, na RTP1 (mais um...), a isso me obriga!
Passe bem.
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QUANTOS SEREMOS?

Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.

Miguel Torga
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Nota: Poema que a Cova da Moura gentilmente me enviou por mail, e que agradeço. Um abraço agradecido.