segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Um atrevido, é o que ele é

Pelo sim pelo não, tomei o cuidado de fechar a porta da rua sem qualquer ruído. Atravessei o pequeno corredor em bicos de pés. Do mesmo modo, as escadas até ao primeiro andar. A cada passo lento e leve intensificava-se um cheirinho a Borkum Riff. Era o meu tabaco. O nariz me guiou. A porta do meu gabinete estava escancarada. Em frente, a janela. No parapeito, muito bem alinhados, por tamanhos, os meus cachimbos brilhavam de limpos e ao sol ténue da manhã bem fria. Quem é que os limpou? Quem é que os alinhou? Quem é que sabia que que gostam de sol?
Pertguntas não eram feitas, já eu estava junto à janela, confirmando a sabedoria dos cuidados havidos. Só então reparei que o cheiro ficara para trás. Eu estava de costas, e não me virei. Ia jurar que a fonte aromática estava escondida por detrás da porta. Não me virei, mas, se me virasse, quase jurava que ia ver mesmo pequenas nuvens de fumo redondo pairando.
Eu estava de costas e não me virei. Estava ali o intruso. Ali mesmo por detrás da porta. O toleirão. Só podia ser ele. Iluminou-se-me o rosto com um sorriso que há muito não tinha. Era ele. Tinha voltado. E eu tinha que fingir não ter dado por nada. E que ele não estava ali.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Prova de vida

Entrei nesta minha casa das letras, e havia um aroma de cachimbo no ar. Estranhei, que esse aroma o próprio geralmente não o sente. Só os outros, os circunstantes. Mas, seria. Às vezes acontece, quando noite dentro se esteve aqui e se usou o tal. Mas não fora o caso nesta noita anterior a hoje. Então? Então, o estranhamento. Mas que seria então? Imaginação? Não. Que o gosto pelo tal é sincero e devoto, mas não o é assim tão, que faça aparecer real o que é imaginação. Então, que seria? Eu nem quero crer. Nem quero contar.