quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Há sempre alguém que diz não

De cabeça erguida, é que se anda bem. De facto, começa a parecer habilidade rara, ou ousadia grave, andar de cabeça erguida, coisa que deveria ser vista como bem normal. Mas não, que anda a mais da gente de cabeça no chão. Há razões para isso, que o desconsolo aperta, a agressividade fere, a ignorância mata.
Tudo nos é servido com umas roupagens aprendidas à pressa, muito acomodadas em burocracias, inúteis e tontas, mas que entusiasmam servidores fiéis, a morder de furto, e cuja inteligência medem por resmas de papéis, e pelas estatísticas, apresentadas em gráficos de todos os tipos (que de um só era pouco), de todas as cores (para serem mais atractivos), com a idade da mãe, a idade do pai, a idade do filho, a idade do tio, a idade do cão, o que faz o cão, o que faz a mãe, o que faz o pai, o que faz o gato, a que horas faz.
Ora, quantas mais razões destas houver a fazerem pender a cabeça para o chão, mais razão e urgência há para a erguer bem alta.
Toca a levantar a cabeça. É que, se não, ainda no-la vergam mais.

Nota: Este texto é uma adaptação dum comentário meu feito em RFS - Outra vez no ar, de 16 de Outubro de 2007, no mineirodejales.blogspot.com, cuja leitura se recomenda.

Atéque enfim!

Façam o favor de ir às Peles. Vejam lá as voltas que o texto deu. Agora talvez tenha que dar uns toques no daqui de baixo. E não sei se não terei de continuar com o das Peles.
Só me meto em trabalhos, não é?
Hoje, pela hora que é, poderia dar-lhe um "bom diazinho!", muito normalzinho. Mas não! O "Bom dia!" que lhe dou é aquele meu, sempre especial, dado a toda a hora. É assim que gosto.
Bom dia para si.
:-)

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Vozes que se calam

Vou deixar de lado os motivos que tenho para falar mal das Peles. Vou vou esquecer o assunto. Mas por pouco tempo. Vou antes falar-lhes das hesitações delas.
As Peles andavam de azedumes comigo. Sem razão alguma. Diziam que as assaltei, que lhes roubei o Granito encantado, para o exibir no Tempo, como se meu fosse. E insinuavam ainda outras coisas mais: que certas fotografias e textos lhes cabiam também a elas, ao menos em parte.
Tive que calá-las. Alguém poderia ouvir e ficar a saber. Abeirei-me delas, e falei-lhes, com uma ingenuidade estudada e mansa. Elas disseram-me que iam falar do José Afonso. Eu achei muito bem. E, para as ter na mão, ofereci-lhes logo aquela frase na carteira de fósforos, para elas referirem como sua, e até publicarem, antecedida de fotografia e título que também lhes dei. Hesitaram primeiro, mas depois aceitaram. E assim as calei.
As Peles não deram ainda pela artimanha. Tanto que me confidenciaram hesitações que tinham: se os leitores não iriam achar aquela frase sem pés nem cabeça; se não seria melhor, para os leitores entenderem, contar uma história sobre ostracismos, e sobre aquela mania dos atenienses escreverem em conchas os óstracos; e se não seria melhor, para os leitores entenderem, meter também nessa história siringes de pássaros e flautas de .
Eu disse-lhes que não; que os leitores entenderiam bem; que, se necessário, consultariam um dicionário; que poderiam até levar a mal, pensando que elas os estavam a desconsiderar.
As Peles hesitaram. Depois sorriram e disseram que eu teria razão, mas que, mesmo assim, iam pensar na tal história.
Se a escreverem, e sair bonita, vou ter de roubá-la. E as Peles, desta vez nem vão hesitar. Vão ter de calar-se. Afinal, agora, eu tenho-as na mão! Elas que se atrevam!
Não sei bem porquê, mas, de repente, não sei se estou a falar das Peles, ou se estou a falar de gente.

Nota: Isto irá sofrer quenenas modificações; mas mesmo pequenas.



sábado, 27 de outubro de 2007

Promessa cumprida

Encontrei a frase de que vos falei, escrita na capa de uma antiga carteira de fósforos. E encontrei uma imagem num CD que encontrei. Não achei melhor. Mas acho que vai bem. Queria melhor, mas não encontrei. Deixei-vo-la ali, naquelas coisas "roubadeiras", que são as tais coisas a que chamo Peles.
Já falo na frase de cantos e conchas. Mas voltarei a elas, num outro contexto. E voltarei também às ostras, às linhas de vida e de pensamento, e às rosas escondidas no fundo do mar, de que vos falei no texto, que está aqui por baixo.
Voltarei, sim, mas com mais vagar, que isso são temas que dão que falar.
:-)

Que tolice a minha de fazer promessas

Amigos que venham, neste sábado aqui - "Muito bom dia!"
Eu hoje ainda tenho muito que fazer: são textos para ler, para escolher, para organizar e para imprimir. Tenho também que ir ver como está o vinho, a ver sua cor, a ver se fervilha ainda, mesmo que ao de leve, a ver-lhe o sabor, como amadura. Mas isto do vinho não é trabalho. É antes prazer.
Mas vou arranjar tempo, como já estou a arranjar agora, para voltar aqui, para me dar gosto de lhes oferecer prenda simples, como as minhas são, para verem ao virem.
Encontrei a frase na carteira de fósforos de que falei no último texto- José Afonso morreu, mas os sonhos não! - , e que está nas Peles. -la-ei aqui, se encontrar a imagem que quero para a acompanhar. Mas se a não encontrar, vou falar de ostras, de conchas e cantos; ou de linhas de pensamento ou vida; ou de rosas escondidas no fundo do mar. Têm preferência?
Será que vão querer essa prenda simples que ainda não sei bem qual ela será? Oxalá que sim.
- Tenham um bom dia!
:-)

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Isto é blogue ou é café?

Isto está a ficar bonito! Ai, está, está! Agora começaram a deixar recados aqui, como se faz no café. Falam uns para os outros, sem qualquer autorização, e assim mesmo é que é. Entrem quando quiserem, e deixem as falas que quiserem, que eu não me vou importar. Até pode ser que goste. Quem sabe?
Façam agora o favor de ir ler o comentário primeiro, ali deixado nas Peles, no texto que hoje lá pus, cumprimentando-os a todos.
Esse comentário anónimo é muito mais explícito , cumprimentando-os a todos, chamando-os pelo nome, como manda a simpatia, que ele teve e eu não tive. E , se não forem anónimos, o nome que têm está lá. Ora vejam lá se não?! E se acaso não estiver, só lhes resta, em dignidade, um protesto veemente. Ora vão lá então ver se há razão para contestar.
Até breve, ou até já.
:-)

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Granito encantado

Já disse ontem nas Peles que houve prodígio, que o Granito inacabado que nelas deixei o encontrei acabado, ou por mão de deuses, ou condão de fada. Aqui vo-lo deixo, como o deixei (primeira estrofe), e como o encontrei, com mais duas estrofes.

Quando amanhã vires
Por mero acaso
Este granito
Se ele existir
Fica a saber
Que eu o marquei
Com o sangue da alma
Espalmado na mão
Para ele durar
No seu sono longo
E de mim te lembrares

E de mim te lembrares
Com o sangue teu
Que no meu verterás
Já corpo de pedra
Granito imortal
Nós dois nessa pedra
Junção mineral

E de mim te falar
Ali tu deitada
Pasmada de espanto
De água e luar
E no ar o canto
De um pisco escondido
Que hei-de voar

Nota: As duas últimas estrofes vieram anónimas. Não podia ser. Eu pedi nome de jeito e o que me deram foi mariadacorrecção. Ora vejam lá que coisa! Como gosta de poesia, de àgua, de piscos e de voar, vou antes chamar-lhe Gaivoar. É assim! Democraticamente.

domingo, 21 de outubro de 2007

Ancorado e feliz no cais humano, /

(...) /Por isso, é lentamente (...) /Que ruma em direcção ao cais divino. / Lá não terá socalcos / Nem vinhedos / (...) E cada hora a mais que gasta no caminho / É um sorvo a mais de cheiro / A terra e a rosmaninho!
Miguel Torga

sábado, 20 de outubro de 2007

À proa dum navio de penedos, /

(...) Capitão no seu posto / De comando, / S. Leonardo vai sulcando / As ondas / Da eternidade, / Sem pressa de chegar ao seu destino.
Miguel Torga

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Libertem-me as aves

Bem-vindo seja você, que chegou agora aqui. Pare um bocadinho. Respire fundo. Conte até três. Fique tranquilo. Fique em calma e paz. Se estiver contente, mostre que está; mas se não estiver, não finja que está, que esse fingimento, não vai ajudar.
Não lhe digo isto para lhe agradar, mas porque sou egoísta, e preciso de si para me queixar.
Tenha paciência!
Como pode ver, nos últimos tempos, têm escrito aqui, no Tempo e nas Peles, uns comentários que, ora mais merecidos, ora mais piedosos, me deixam contente. Mas fica-me sempre uma sombra a obscurecer essa satisfação humilde.
Dir-me-á que é soberba minha a pedir ainda mais. Mas não. A razão dessa sombra é bem outra: dão-me comentários simpáticos para os filhos de Outubro; mas não me dão nada para aquelas aves simples que deixei guardadas como filhas de Julho. E isso é injusto, não é? E a injustiça deve ser reparada, não deve?
Faça-me então o favor de ir até ao arquivo de Julho, e abra-me aquela gaiola, a ver se aquelas aves se libertam e voam, a ver se as vêem. Depois volte aqui e diga-me que fez o que eu lhe pedi. Ficarei sossegado. E ficar-lhe-ei grato. E ao seu dispor.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Eu tive que o tirar daqui

Estou a ver se me liberto do Homem caminhando sobre a água, aqui em baixo. Estou a ver se ele se afunda, se perde o equilíbrio e cai. Mas qual quê, qual carapuça! Ele não anda nem desanda. Não há meio de sair.
Eu penso que é dos comentários, que ele toma por elogios. Pense ele o que pensar, eu tenho é que o tirar daqui, resguardando-o mais abaixo, em lição de humildade. Eu sei que não vai ser fácil. Mas tenho que o tirar daqui de cima, que enquanto o não fizer, eu abro esta janela e vejo-o, e fico a olhar para ele, e não escrevo mais nada. Fico como El Rey Pasmado, ante a sua rainha. E isso não pode ser. Tenho que o tirar daqui, e mandá-lo ali para baixo.
Além disso eu arreceio-me que, se ele ficar aqui mais tempo, ainda me denunciam bufando, e vêm bater-me à porta, para que eu pague, por ele, o imposto patriótico de ele circular sobre as águas. Tenho que o tirar daqui.
Quando tem que ser, tem que ser mesmo, servindo qualquer razão, nem que ela seja inventada - o que é indício até de inteligência e orgulho, nesta terra abençoada. Ora, eu tenho razões sobejas, como acima apontei. E mesmo que não tivesse, eu tinha que o tirar daqui, simplesmente porque sim, que é uma razão muito sábia, em terras de entristecer.

sábado, 13 de outubro de 2007

Homem caminhando sobre a água


O que está em cima é o que está em baixo; e o que está em baixo é o que está em cima. A separá-los, apenas um breve momento de realidade e sonho.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Ainda sem título

O Tempo diz que foi assaltado. Foram as Peles. Cheio de boas intenções, daquelas tais de que o inferno está, ele escreveu aqui, meste espaço que é seu,aquele último texto A culpa foi delas . Nele,como bem podem ver - se não tiverem mais que fazer -, ele falou das Siluetas, de Cá para mim é mulher , e até da Mulher. Ora, esses textos são todos das Peles. E elas não gostaram nada, pois sabem que o Tempo é artista, e não vão na cantiga dele, que jura e trejura ter feito aquilo na maior das santidades.
As Peles queriam vingança. Que fizeram elas?

(Vou tentar descobrir para lhes dizer mais logo)

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

A culpa foi delas

Pois é! A bem dizer deveria dizer "pois foi!", não devia? Pois é! O certo é que tenho deixado correr os dias sem que tenha molhado a ponta do dedo para folhear em frente as últimas páginas, tanto no Tempo, como nas Peles.
Foi o feriado; mas não foi só por isso. Foi a vindima das últimas uvas; mas não foi só por isso. Foram as intervenções atentas na adega, para que a transformação dos açúcares e a libertação dos aromas se faça de forma moderada e lenta, sem grande oscilação de temperaturra; mas não foi só por isso. Foi por me ter posto a intrometer comentários, aqui e ali,em blogues alheios, que gosto de fazer ; mas também não foi só por isso. Bem lá no fundo, não foi por nadinha disso. Nem muito, nem pouco.
A verdade é vaidosa. E eu devia omiti-la. Mas é tão poderosa, que não consigo sustê-la portas adentro. Assim, pecador me confesso da presunção narcísica que me atacou nas Peles. É verdade. A demora deveu-se tão só àquela última trilogia de peles, que despi de mim e lá vos deixei, na forma de Silhuetas, Cá para mim é mulher e Mulher. Qual coruja obnibulada pelo amor aos filhos, eu as vi bonitas, a elas, às peles, a todas as três, mas mais ainda à última, a de nome Mulher,que foi a que eu mais quis fazer durar. Aí uns dois dias, para não notarem que estava a fazer de propósito.
Foi então que apareceram, passados aqueles dois dias, colados a essas três peles, todas elas de mulher, uns comentários bordados de bondade e simpatia, e todos eles assinados por mão de mulher também. E eu deixei-me seduzir, e caí na tentação, enchendo-me de enlevos fáusticos, e deixei-as ali ficar, às peles ou às mulheres, durante a semana inteira, para todo o mundo ver.
Eu tenho quase a certeza que foi o diabo, que é tendeiro, e senhor de artes mil, que me levou a pensar tanta tolice. Mas a culpa não é dele, que só fez o seu dever.A culpa é só das peles, transparências de mulheres, que eu vi com tanto gosto; ou então é das mulheres mesmas, as dos comentários simpáticos, que me agradaram tanto.
Sejam peles ou mulheres,isto é obra do diabo.
Bendito seja o diabo.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Amizade em forma de texto

(Continuação de "Uma Singularidade" - 25 de Setembro, in TempoBreve -, com ligações a "Amizade em forma de pedra" - 16 de Setembro, in Sete Peles Sete Saias)
(...)
Foi quando o meu amigo, aquele da "Amizade em forma de pedra", sacou da arma mais potente que tinha no seu arsenal e, em menos de um ai, tomou aquela posição de ataque, cuja sequência, uma vez tomada, já não se pode parar. Numa inclinação perfeita, recuou, ascendendo, a sua arma lenta até à meia torção. E ficou estático por um segundo ou dois. Numa tensão controlada, numa tensão dirigida, iniciou, qual pêndulo firme, o movimento descendente, em ritmo crescente de velocidade e força.
E a bola cantou, e a bolha voou, e rodopiou nos ares em fundo de azul,e, já ao longe, desenhou parábola, e desceu para horizonte de pinheiros verdes, e desapareceu caindo no tapete macio, que envolve o centro do alvo, lá bem no alto, e reapareceu no salto que deu, e desapareceu de novo num desnível qualquer, e reapareceu rolando desnível acima, e desapareceu de novo com a inclinação vencida. E nós então respirámos e, em elogio, dissemos: ”Está lá! Pancada mais linda!”.
De seguida, foi a nossa vez. Mas nenhum de nós acertou no alvo. Vencemos a distância a pé. E, em subindo o morro, esticámos o pescoço para ver mais longe, para ver melhor onde estariam elas. Nenhuma bola no tapete verde mais aveludado. O meu amigo, o da "Amizade em forma de pedra", desalentou dizendo que afinal aquele tiro magnífico tinha ido longe de mais, para o meio dos pinheiros. Mas eu tinha visto a bola a bater e saltar e rolar, abrandando, no declive ascendente. Não podia ser. Não podia ter saído.
Tive um sobressalto e corri para a bandeira, adivinhando-a, como que por milagre, anichada no desejo do ninho. Ninguém acreditou. Mas estava lá. Um silêncio de espanto. O autor da proeza ficou sem palavras. E nós perplexos. Até que gritei. Até que gritámos. Até que dançámos e nos abraçámos, infringindo as regras. Todo o mundo tinha que saber. Todo o mundo ficou a saber. Numa só batida, a bolinha branca estava no buraco.
Até ao dezoito, foi uma gritaria atropelada a contar e recontar: primeiro os pormenores acontecidos no decorrer daquela batida e daquele voo e do nosso espanto; depois, no contar e recontar de muitos pormenores já mais de invenção e de interpretação. E, no fim do dezoito, foi um desassossego de vozes por aquele bar dentro. E vinha mais um, e vinha mais um, e vinham mais dois, e vinham mais três, a perguntar como é que aquilo foi. E nós que havíamos de fazer? Contávamos, claro!Com uma humildade santa.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Ai, valha-me Deus!

Ninguém estranhou o facto de eu não ter dado continuidade ao episódio incompleto que aqui deixei em baixo. Agradeço a simpatia de todos terem entendido a razão. É que eu não consegui ainda maneira de perguntar ao autor da proeza se posso dizer o nome dele ou não. E sabem porquê? É que eu nunca dei a ninguém o endereço desta coisa aqui. Nem disse sequer que me tinha metido nestas aventuras. E não tenho sequer ideia de o vir a fazer. Sou clandestino. Como posso, então, perguntar ao dito se posso pôr aqui o nome dele? Está complicado, não acham?
De qualquer modo, agradeço a atenção que tiveram em não exigirem o desfecho. Mas ponho também a hipótese, sempre prazenteira, de ninguém ter lido. Seja como for, hesito entre concluir, ou dar o assunto por encerrado. Não sei que fazer. Ai, valha-me Deus!