quarta-feira, 27 de maio de 2009

Reunir vontades, com coerência e dignidade

A manifestação dos professores, marcada para 30 de Maio próximo, marcará, duradoura e indelevelmente, o futuro da Escola Pública, dos professores, dos sindicatos. Por isso - e dado que se acentua a situação de pântano, criado pela guerra execrável e sem escrúpulos que o governo travou contra o ensino e os seus agentes mais directos, atropelando a inteligência, a democracia e o livre pensamento -, não há por onde hesitar: é avançar até Lisboa.
Não será a melhor luta, mas é a que agora temos; não será a melhor altura, mas é a altura que, de boa ou de má vontade, nos proporcionaram e temos; não será a melhor forma, mas é a que agora nos propõem e temos. Poder-se-ia ter feito muito mais e antes, mas fez-se o que se fez, e, nestas circunstâncias, o melhor que temos a fazer é aderir e apoiar esta manifestação; poderá não ser vencedora, ou não acrescentar grande coisa, mas temos de a fazer. Todos sabem a nossa posição. Mas temos de marcar bem, e até ao fim, não tanto a nossa base de acção presente, mas a base da nossa acção futura. Sim, que a coisa não termina aqui.
A primeira coisa a fazer é reunir vontades. Cada um que acorde a sua, nem que tenha que engolir sapos. Cada um, ao acordar a sua, acordará a do amigo, e a do vizinho também. Foi assim nas primeiras manifestações regionais; foi assim na primeira grandiosa manifestação, que não foi aproveitada. Que o seja de novo e agora. É urgente avisar toda a gente.
Os professores sentem-se cansados; os professores sentem-se desiludidos; muitos sentem-se abandonados e até traídos. Mas há que esquecer tudo isso agora. Agora, o que interessa é apelar ao mais íntimo de si, às últimas forças que restam, acordar vontades, reunir vontades. Afinal, nunca deixámos cair por terra a bandeira da nossa dignidade. E não vai ser agora que vamos desistir dela nesta simbólica batalha.
Não há por onde hesitar: é avançar até Lisboa, sem preconceitos e sem medo, e com toda a dignidade. Depois haverá muito tempo para acertar contas entre nós, e para acertarmos activamente o passo por uma reforma a sério.
Força, professores!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Manifestação: relançar a luta colectiva e sem preconceitos, quebrar os espartilhos do tempo

Não há muito que pensar sobre a manifestação de professores marcada para o dia 30 deste mês de Maio. É. Maio tem que se lhe diga. Os maios têm mais ainda. Mas, agora o que mais interessa é o Maio do inconformismo, da reivindicação, da luta, do trabalho, da ruptura. Agora é o Maio da indignação, bandeira da dignidade que os professores, apesar de isolamentos, de solidões, de sofrimentos calados, de incertezas, de ameaças, não deixaram cair ao chão. Por isso, não há muito que pensar: é avançar sobre Lisboa.
É claro que eu tenho as minhas reservas quanto a todo o processo que até agora se viveu. Já aqui as expressei. Os textos terão já um ano ou quase. Mas neles me insurgi contra o que achava errado. Não poupei o ministério nem a ministra artificialmente mantida; mas também não poupei a Fenprof nem o Mário Nogueira tacticista. Quem quiser poderá voltar aos textos. Mas nenhuma das críticas ou reservas que expressei me inibem de dizer que agora há que avançar para esta manifestação. Não com a fé dum ingénuo Frei Genebro; mas com a clareza de que esta manifestação, apesar de tudo o que aconteceu até aqui, é uma alavanca importante para a luta que ainda se vai ter de travar depois dela.
É claro que os cafajestes, parasitas do sistema, não vão gostar nada disto. Mas já estamos vacinados, ora não estamos?

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Os maios de Maio

Maio tem que se lhe diga; os maios muito mais. Maia lhes deu nome; Flora os abençoou. Têm sopro divino, cobrem-se de flores, enchem-se de aromas. O sopro nos atrai, as flores nos chamam, os aromas nos guiam. Mas só se oferendam a quem delicado souber procurar.
Têm tudo isso, o mês e os maios, mas os maios têm mais: raparigas os curvam diversos em anéis toroidais. Só então os cobrem de veludos raros, onde depois bordam, com fios de seda, da seda mais pura, montículos de folhas, das folhas mais finas, donde emergem flores, das mais lindas formas, das mais lindas cores.
São assim os maios que as raparigas tecem. Tecem-nos tão lindos, que se tecem neles. E é por isso que, enquanto os tecem, lhes vão pondo véus. São os véus de Maia. Mostram o que mostram. Mostram aparências. Mas quem for esperto pode chegar à essência, afastando os véus.