terça-feira, 15 de abril de 2008

Nós não somos a voz do dono

Mário Nogueira, dirigente da FENPROF, e porta voz da Plataforma dos Sindicatos é também nosso dirigente, é também nosso porta voz. E quem está a dizer nosso, está a dizer dos professores. E isto devia ser para ele uma honra e um elogio. É que a “esmagadora maioria” dos professores não é da FENPROF, nem é de nenhum sindicato. E mesmo aqueles que são, não são “propriedade pensante” dessas instituições necessárias, e que nós queremos unidas, e sempre ao nosso lado, para estarmos do lado deles.
Não sei se ele percebeu que o que estou a dizer devia ser elogio para ele. Ele não deve ter percebido bem o que está a acontecer. Há que lhe dar um tempo a ver se ele entende o que se está a passar. Eu não quero acreditar que ele já tenha entendido e faça as declarações que faz.
Isto não é discurso anti-sindicalista. Seria estúpido e até injusto. Os sindicatos terão o nosso apoio. Mas têm que olhar para os professores, e não para estatísticas que “provam” o que cada um quer que se prove.
Eu não quero acreditar que ele faça o discurso arrogante de contar espingardas como aquele da “esmagadora maioria” das escolas que aprovou a “Moção”, toda muito certinha, toda em letra pequenina, toda pronta a aprovar ou rejeitar, fazendo de conta que nos plenários não se ia discutir coisa nenhuma, ou que se iam dizer umas tretas, ou aproveitar o plenário para ter uns furos no horário.
Ele sabe muito bem que em muitas escolas nem se fez plenário. Noutras foi mesmo só entrar, aprovar a moção e sair. Em muitas, muitas mesmo(talvez aqui caiba melhora “esmagadora maioria”, não houve serenidade bastante para reflectir em conjunto, e foi-se pelo mais óbvio. O acordo só se soube no sábado. Os professores só se encontraram em intervalos de aulas na segunda-feira. Cá no norte, a segunda feira foi para tratar das concentrações. E hoje, terça-feira de manhã, lá estávamos nós.
Poderá até vir a provar-se que a “esmagadora maioria” aprovou essa moção. E daí? Isso a mim, que votei contra, não me incomoda nada. Terei apenas que reconsiderar e ver onde é que melhor caibo ao lado dos professores e dentro desse contexto. E ficarei até todo contente se o tempo vier a dar razão a quem a aprovou. E não vou desrespeitar quem achou por bem aprová-la. Mostrarei o meu ponto de vista. E estarei disposto a reconsiderar. Não achará ele que o mesmo se deve a quem não aprovou a Moção, por aquilo lhe saber a pouco?
Também não quero acreditar nas declarações que ele fez e que vêm hoje numa notícia do Público. Devem estar fora do contexto, ou outra coisa qualquer.
Nós apoiamos os sindicatos. Mas esse apoio não é incondicional e automático. E os dirigentes sindicais devem saber, a começar pelo Mário Nogueira, que os professores os apoiam, mas não são só deste ou daquele partido. A maioria talvez não seja mesmo de partido nenhum. É o que acontece comigo.
Que o Mário Nogueira não caia no discurso e nos métodos de acção em que a ministra caiu. A não ser que ele queira ficar só com a FENPROF, o que seria um erro crasso, para ele e para nós.
Mas eu acho que tudo é um equívoco. Eu acho que ele não está a querer dividir os professores.
Nós estaremos com ele. Mas ele tem que estar connosco. E se não concordarmos com ele, ele, ao menos, terá que nos ouvir sem que comece a disparar à toa, vendo inimigos em todo o lado. Não é verdade.

2 comentários:

Elisabete disse...

Tem toda a razão. Não sei é como tudo isto vai acabar.
Um abraço solidário.
Elisabete

Anónimo disse...

Eu tenho sindicato e tenho partido e,como tal, me assumo.Claro que acima de tudo isso sou professor e o que me preocupa é defender os interesses da minha classe.Defendo este entendimento e acho que,perante a conjuntura actual era difícil fazer melhor.A ministra recuou e,embora não lhe atribuindo esse nome,a avaliação do próximo ano vai ser mesmo experimental.É preciso ter memória e lembrar a intransigência ministerial de há poucas semanas atrás.Além disso,salvou~se o 3º período e garantiu-se uma avaliação justa e igual para os contratados.Claro que só se ganhou uma batalha mas é assim que se ganham as guerras.Também acho injusto que se generalize a opinião que nas escolas onde a moção foi aprovada nem sequer houve discussão.Pode ter acontecido numa ou outra escola mas na imensa maioria a moção só foi aprovada após um debate intenso ,aberto e livre.Foi o que aconteceu na Carlos Amarante,escola onde sou delegado sindical e cuja reunião dirigi.O debate foi intensíssimo com muitas vozes contra o entendimento ME - Sindicatos.No final,expostos todos os argumentos, a moção foi aprovada com 14 votos a favor,uma abstenção e 4 votos contra.
Quanto às declarações do Mário Nogueira,é preciso cautela na sua apreciação.O jornalismo que se faz em Portugal é pouco isento e tem por hábito deturpar declarações públicas.
Sem nenhum mandato do próprio e com a autoridade conferida pelo facto de ser candidato nas próximas eleições do SPN numa lista oposta àquela que ele apoia ,
transcreverei ,de seguida, os esclarecimentos do secretário-geral da FENPROF.

Esclarecimento a propósito de título descontextualizado publicado no 'JN' em 16/04/08

Sem referir o contexto em que me exprimi, o Jornal de Notícias referiu, em título de primeira página, no dia 16 de Abril, uma reacção em que afirmei 'vozes de burro não chegam ao Céu'.
A descontextualização da afirmação deixou a ideia de me estar a referir a quantos tinham manifestado desacordo com o conteúdo do designado 'Memorando de Entendimento', o que é falso.
Na verdade, esta afirmação dirigia-se aos que, reprovavelmente, colocaram em causa a honestidade e integridade dos dirigentes sindicais, quer levantando suspeitas, quer, mesmo, afirmando que existiriam 'moedas de troca' aceites, em alguns casos sendo usados documentos que foram rejeitados pelos Sindicatos.
Foi confrontado com estas acusações que reagi daquela forma e não devido a críticas ou posições de colegas que, legitimamente, discordam das organizações sindicais. Essas posições merecem-me o maior respeito, sendo atentamente consideradas na minha reflexão.
Apesar de não ser responsável pela forma como o referido órgão de comunicação social descontextualizou a minha afirmação, apresento o meu pedido de desculpas aos colegas que, por equívoco, se sentiram magoados. Já em relação aos que têm desenvolvido campanhas que visam denegrir a imagem e seriedade dos dirigentes sindicais, mantenho o que disse.

Mário Nogueira
Secretário Geral da FENPROF

P.S Nunca fui nem nunca serei a voz do dono.