segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Os dois mil que lá estiveram eram muitos mais que os dois mil que lá estavam

A concentração de sábado, dia 24, em frente ao Palácio de Belém, reuniu cerca de dois mil professores, como foi repetidamente anunciado. Teriam sido mais algumas centenas, segundo alguns participantes. Mas, fossem dois mil, fossem dois mil e quinhentos, isso é de pouca monta, se tivermos em conta o objectivo essencial.
O objectivo central era não só chamar a atenção do senhor Presidente da República para os graves problemas que afectam e tentam diminuir a dignidade dos professores, mas também manifestar o incómodo que sentem perante o silêncio pesado que ele, Presidente da República, tem mantido acerca da problemática docente e da Educação. Ora, para atingir esse objectivo, os dois mil professores presentes foram mais que bastantes. Bastariam mesmo umas centenas.
Eu não estive lá por razões de geografia, e por considerar que, dadas as circunstâncias, muito mais do que a força do número, essa concentração teria, até pelo lugar em que foi feita, uma grande força simbólica. E não será abusivo pensar que muitos milhares de professores, espalhados por todo o país, não estiveram presentes pelos mesmos motivos. Assim, os esforçados dois mil que lá estiveram eram mais, muitos mais, que os dois mil que lá estiveram : eram toda uma classe que se orgulha de manter erecta a coluna vertebral. Foi assim que eu os vi; é assim que os devemos ver.
O senhor Presidente da República recebeu uma relação das preocupações que afligem os professores e minam todo um Ensino que se pretenda sério. Ao analisar essas preocupações, o senhor Presidente da República poderá facilmente ver que a sanha reformista do Ministério da Educação criou um monstro que se alimenta, louco e vaidoso, da trituração dos professores, e que está alegremente a transformar o Sistema Educativo Português num grande circo nacional, onde tudo é a fazer-de-conta, e onde a Educação não tem lugar. Além disso, o senhor Presidente da República perceberá também, caso o deseje, que o seu silêncio ensurdecedor sobre o que se está a passar com os professores e com a Educação pode muito bem ser entendido como sendo objectiva e politicamente conivente com o monstro.
O senhor Presidente da República, em tempos, já denunciou um outro monstro; não pode, pois, vir agora a ser conivente com estoutro. Que ouça o apelo feito pelos professores, mesmo que feito em forma de denúncia crítica. E que se lembre que aqueles dois mil que lá estiveram eram muitos mais do que os dois mil que lá estavam: era toda uma classe a clamar Justiça.

3 comentários:

Inês disse...

Sabe porque é que esta, se me permite, estupidez de conflito, que o primeiro-ministro e a sua cara ministra da educação podiam muito bem resolver, me irrita?
Não só porque nos faz viver num ambiente escolar péssimo, pois os professores andam cansados de tudo isto, mas principalmente por nos tirarem professores bons, como o professor! Não só fisicamente, mas também espirtualmente. Porque mesmo os que não se foram embora do ensino, não estão lá. Estão com a cabeça em papéis, reuniões, etc., etc.

Deprime...revolta. Mas como isto não pode continuar assim por muito mais tempo, e como os professores estão do lado da razão e têm o apoio de muita gente, espero mesmo muito que isto se resolva pelo melhor. Para o bem de todos.

É bom saber que o professor continua a lutar, eu sabia que o ia continuar a fazer. Vê-se tão bem quem são as pessoas que gostam do que fazem. Defendem-no com unhas e dentes...

Com saudade
Inês

Anónimo disse...

Estou triste e prestes a desanimar. Ninguém nos ouve, ninguém nos liga e o sofrimento é insuportável.Já me orgulhei da classe a que pertenço e agora envergonho-me dela. As formações são tão diferentes que não há união possível. Só em multidão, sozinho cada professor "é como o esparguete, se muito esticado, parte", como disse a directora da DREN. Os professores assinam moções contra o modelo de ADD e, no dia seguinte, entregam os OI.
Veremos como isto acaba...

Anónimo disse...

É com a alma em luto que te digo que os dois mil que lá estiveram não eram muito mais do que os dois mil que lá estavam.
Os professores assinam moções, fazem greves, "ladram" todos contra o lobo, mas metem o rabinho entre as pernas quando a "montanha ameaça parir um rato".
Tenho vergonha de pertencer a uma classe em miniatura, em que «os pequenos querem engolir os grandes», porque é a única oportunidade que lhes foi dada, por oportunistas iguais a eles, para conseguirem um protagonismo que nunca conseguiram alcançar.
E aqueles que se sempre quiseram deixar passar a imagem de coerência, começam a tirar a máscara...(sempre por motivospessoais, como se os outros não os tivessem!)
Estou exusta e doente, mas com a consciência tranquila.
Vou ver se tomo um tranquilizante para conseguir dormir.