sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Professores: uma luta de se lhe tirar o chapéu!

Os professores cumpriram estoicamente o seu dever de cidadania fazendo da greve de segunda-feira, dia 19, mais uma demonstração inequívoca de unidade, de vontade e de consciência crítica. Sob este ponto de vista, foi um sucesso indesmentível; o mesmo não digo sob o ponto de vista da sua eficácia. Mas os professores sabiam-no, embora soubessem também que, apesar disso, tinham que cumprir mais este sacrifício. Naturalmente foi mais uma derrota clara para a ministra e para os seus acólitos. Só que, dada a desvergonha genética destes agentes e de quem os protege, esta sua derrota não significa automaticamente a vitória de quem justa e sofridamente lha infligiu. Além disso, chegou-se a um ponto em que o protesto sob a forma de greve - assim datada de um dia só, e intercalado com negociações de que nada se espera - não servem para muita coisa que não seja o desgaste continuo dos professores e a gestão tacticista do tempo, principalmente por parte do governo, para fins eleitorais. Sendo assim, e eu penso que é, outra greve nestes moldes, além de mais desgastante, será contraproducente.

Quase sempre sós, malévola e insidiosamente atacados por mercenários do comentário escrito e falado, alvos de um certo tipo de comunicação social tendenciosa e superficial e convenientemente selectiva, os professores, mesmo humilhados e ofendidos, resistiram, uniram-se e não cederam. Estão num frangalho, mas não cederam, defendendo com unhas e dentes aquele reduto íntimo da sua dignidade própria. E aí venceram. Aconteça o que acontecer, aí, na defesa desse reduto íntimo da dignidade própria, os professores já venceram. Poderemos até passar por eles e vê-los caídos e mortos, mas no seu rosto cansado veremos estampada essa dignidade que defenderam até aos limites do suportável e do insuportável. Há que honrá-los. Tire-se-lhes o chapéu.

A situação em que os professores se encontram é insustentável; o ar que se respira nas escolas é irrespirável; esta guerra sem escrúpulos travada por este governo contra as Escolas, contra os Professores, contra o Intelecto, contra a Democracia, contra a Liberdade e contra a Justiça é uma guerra execrável. Os professores fizeram a sua parte, cumprindo o seu dever de cidadania em defesa destes valores que têm que ser assumidos por todos, e não só por eles. Eles lutaram e bateram a todas as portas para impedir o caos monstruoso que hoje se vive nas escolas: sindicatos, ministério, governo, partidos, tribunais, pais, especialistas, órgãos de comunicação social, portugueses, Presidente da República. Só não bateram à porta dos alunos porque têm o pudor e a ética que os geradores do caos nunca tiveram nem têm.

Os professores estão exaustos. Fizeram tudo. Avisaram toda a gente, embora, como resposta, tenham obtido muitos silêncios cúmplices. Não se lhes pode exigir mais. Poderão eles exigir ainda um pouco mais de si mesmos? Eu acredito que sim. Porque são Professores. Mas também são humanos. Muito humanos mesmo. E nós outros? Vamos deixá-los sós?

4 comentários:

Anónimo disse...

Excelente análise! Estamos exaustos. Se não for pedir muito, e já que te dispões a ser solidário, contamos contigo. Obrigada, Mota.

TempoBreve disse...

Minha cara Helena!
Ser solidário com os professores é uma obrigação que se me impõe. Nem poderia nunca ser de outro modo, sob pena de me negar a mim mesmo e a tods as posições que tomei. Nunca o farei. E agora até me sinto mais livre, uma vez que não preciso de estar sequer à espera de que concordem comigo, como antes fazia, num esforço de juntar vontades para que se pudesse iniciar e continuar a luta contra o monstro.
Tenho-vos sempre presentes no meu pensamento. E com muito prazer.
O obrigado sou eu.
Um abraço.

Anónimo disse...

Sim,caro Mota,estamos cansados,muito cansados,mas não vamos desistir da luta.Temos resistido aos ventos frios,ciclónicos,do Ministério e não é agora que vamos morrer na praia.Eu sei que os remos de alguns quebraram, ao confrontarem-se com as profecias do Gigante.Mas não há que temer quando a razão fala mais alto.
Folgo em saber que não nos voltaste as costas.Precisamos da tua força,da tua frontalidade,da tua GARRA!
Estamos vivos!!!

TempoBreve disse...

Cara Eduarda!

Eu sei que os professores estão cansados. Mas não estão prontos para abdicar da justiça e da razão que lhes assiste. Muitos querem-nos cansados: tudo fizeram e tudo farão, por detrás de cortinas de fumo, para que esse cansaço os faça vergar. Não o vão conseguir. Mesmo que a hipocrisia vença por mais uns tempos, não o vão conseguir.
Um abraço.