quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Uma agressão a um professor é muito mais que uma agressão

Agressões a professores*

Ontem, dia 10 de Fevereiro, o meu colega LP foi arbitrariamente agredido em frente ao portão principal da minha escola pelo tio de um aluno seu. Teve de ser socorrido no Hospital de S. Marcos. As marcas físicas estavam bem marcadas no seu rosto.
Os motivos desta agressão física nunca os poderei vir a saber (...), mas de uma coisa fiquei ciente e esclarecido: foi um acto de violência anunciado pelo próprio aluno ao reentrar na sala de aula, depois de lhe ter sido dada ordem de saída por mau comportamento, com o consequente encaminhamento do aluno ao Conselho Executivo. (...)
...
Não foi o primeiro caso, não será o último. Mas foi um caso de insólita violência. Não só pelas agressões físicas e pelos traumatismos, mas sobretudo por ter sido desencadeado contra um professor que agiu no estrito cumprimento das regras. (...)
Todas as interrogações se jogam na conversa: será que a nossa escola tem uma liderança de gestão que é fomentadora de autoridade e inspiradora de disciplina? Será que as regras do RI são ajustadas a estas situações? Será que as directivas emanadas do ME, no que toca a medidas correctivas e sanções disciplinares, permitem fazer face a estes levantamentos súbitos da violência?
Num tempo escolar que é marcado pela conflitualidade entre professores e ME estas interrogações pendem a resposta para um dos lados, sobretudo quando esse mesmo lado tudo faz para «disciplinar» a visibilidade destes casos, ora lhes negando importância, ora os explicando superficialmente, ora apressando-lhes a solução imediata. De fundo, não se tem visto desse mesmo lado a preocupação de legislar ou de fomentar mecanismos de regulação dos conflitos, nem se tem visto apoiar reclamações de segurança, quer em termos de recursos humanos, quer de instalações.
...
Casos destes obrigariam a repensar os sistemas de liderança, e é o que estamos em vias de fazer. Nada como aproveitar para nos questionarmos se a liderança uninominal é a resposta mais eficaz, se o director é o meio e o instrumento da intervenção desejada. E se for, ou se não puder ser evitada essa escolha, que perfil é desejado para o figurante do cargo.
Os sentimentos de culpa de toda uma geração que foi educada na crença da abastança e agora é incapaz de educar, estão aí a emergir cada vez mais. Aqueles que não admitem que a criança, filho ou enteado, seja contrariada, seja «disciplinada», aproveitam-se da mais pequena faísca para vitimizarem os professores. A educação e o ensino são cada vez mais violentos, até no puro plano do conhecimento e da formação: cada vez é preciso mais força (de voz, de saber, de documentos, de livros) para impedir o analfabetismo, a indiferença, a arbitrariedade de juízo, o relativismo ético, a escrita incorrecta, a oralidade imperfeita, a iliteracia, a ignorância abafadora.
Amigo LP, não chores.

*José Hermínio da Costa Machado, in Amostras e Filões (http://mineirodejales.blogspot.com)
________
Notas:

5 comentários:

Anónimo disse...

Qual o Mal?


Bateram no professor
Não faz mal,
Começa a ser tão banal
Que, qualquer dia, de vulgar,
Deixa até de se falar
E de aparecer no jornal.
Bateram e desancaram
E ninguém pediu desculpa.
Mas também um professor...
Tenham lá dó, por favor!
E também qual é o mal,
Se não morreu afinal
E a Primavera mal espera?
Não tarda, abundam as cores
E pode o chicote estoirar,
Massajar, macerar, descarnar
Os tristes dos professores
E levá-los a enterrar
Que não vão faltar flores...

TempoBreve disse...

Olá, Isabel!

Sempre atenta, ora não é?
É claro que faz mal, principalmente por se estar a tornar banal. Claro que não pedem desculpa, que, para pedir desculpa, é preciso sentido de responsabilidade. E esta gente é irresponsável; idiotamente irresponsável; cientificamente irresponsável; socialmente irresponsável. Têm linguagem carroceira, e até a acham engraçada. Não, não pedem desculpa. No fundo, sentem-se felizes. Como eu odeio a estupidez.
Mas isto bateu tão no fundo, que já não são já só os professores que estão a ser atingidos. Os professores têm desempenhado estoicamente o seu papel. Só não viu e só não vê aqueles que não querem ver. Agora o país que escolha. E, se o país achar que os professores são dispensáveis, que vote em conformidade. Mas depois que não se queixe.
Até breve. E um abraço.

Anónimo disse...

Se bem me lembro,(Ah,meu saudoso Vitorino Nemesio),houve um tempo em que ser professor era uma das mais altas distinçoes que um homem ou uma mulher poderiam alguma vez alcançar nas suas vidas,a par do sacerdote e do medico.Estas pessoas eram a propria essencia da vida nas suas tres vertentes:A Sabedoria,o Espiritual e a Materia ou Corpo.Muito poucas pessoas eram merecedoras de tal honra;nao so porque era muito dificil qualquer um pertencer a esta hierarquia,bem como,a existencia de outros crivos, tornavam esta materia humana de excelente qualidade,donos de um saber invejavel,de uma experiencia notavel,e de uma moral solida,que pretendiamos imitar.Com o Maio de 1968 e o seu eco que foi a Revolucao dos Cravos,toda a autoridade(politica,religiosa,escolar,etc..)foi vandalizada pelos revolucionarios(chamar-lhes-ia energumenos)que,servindo-se de pretextos sociais,com todo o rol de criticas que nos ja conhecemos,conseguiram o seu intento que era e e so um:facilidades,dinheiro facil,honrarias,o nao fazer nada,e ter tudo.Com o "saneamento"de muitos Professores,nessa altura,com a reforma e o desaparecimento de outros, os bons valores que ate entao possuiamos foram sendo rapidamente substituidos por uma escumalha avida de protagonismo,sem a mais pequena preparacao no campo pedagogico.Pessoal vazio de conhecimentos,impreparados para a sua funcao maior que e o de formar homens e mulheres.Gentalha sem qualquer respeito e que nao o conseguem nem mesmo numa classe de alunos.Foi assim que principiou a derrocada do sistema de ensino (Estou apenas a falar do Ensino).Lembro-me daquela estoria em que um Senhor de uma fazenda teve de se ausentar por uns tempos da sua propriedade.Os criados,sentindo-se sem autoridade principiaram em devassar todos os quartos,abriram as adegas,e comeram todo o pao e os enchidos.Deixaram de tratar da fazenda e dos animais.Sentiam-se inebriados com tanto poder.Cedo ficaram sem nada,os animais adoeceram e morreram,as culturas secaram e eles desesperados comecaram a culparem-se uns aos outros . Sovavam-se e maltratavam-se.Agora ja suspiravam pelo regresso rapido do Senhor,pois so ele sabia governar todas aquelas propriedades e toda aquela gentalha.O senhor nao voltou.A casa foi-se desmoronando,com o passar do tempo.Os campos aridos ja nao produziam nada,e esta gente,faminta doente e miseravel deambulava agora pelos caminhos pedindo esmola.

Anónimo disse...

Pegai num porco,num asno e num verme.Ao porco cobri-o com medalhas,insignias e outros penduricalhos.Ao asno carregai-o com livros.Ao verme estendei-o sobre" A Republica de Platao",por exemplo.O porco sera um ilustre porco,o asno sera um asno com bagagem literaria e o mercao sera um entendido nos classicos.Sera assim?E assim,nos tempos que correm.Tudo se resume em reconhecer e gratificar a vulgaridade e a bocalidade,premiar a incompetencia e foleirice e admirar o que de mais abjecto certos parideiros dao a luz Que tempos estes!Muitas vezes gostaria de ser um porco,um asno ou um verme.Minha admiraçao e respeito por estes seres,vai muito para alem daquilo que posso dispensar ao ser humano,porque aqueles sabem, sem duvida, o lugar que ocupam.

Anónimo disse...

Tem uma Pascoa muito Feliz,colega,e faz da alegria um motivo presente na tua vida.