terça-feira, 15 de janeiro de 2008

A malícia do dragão

Qual dragão chamejante, veio aqui o Botafogo, atirando-se ao S. Gonçalo - a pila e o aquilo. Mas deixemo-nos de rodeios: ele não se atirou ao texto - ele atirou-se foi ao Santo, à pila e ao aquilo.
Numa linguagem directa, de dragão que nada teme, ele disse que eu tinha afinidades com o Santo - coisa que é evidente -, e que eu era pessoa de mui boas intenções - o que é evidente também; mas depois acrescentou que eu vim para aqui com a passarinha, e que depois vim com o aquilo que faz falta à passarinha, e que a passarinha agradecia - e isto já não é assim tão claro.
Que tenho afinidades com o Santo, isso é indiscutível. Como ele também sou santo, ainda não certificado; como ele corro os povoados, andando de vale em monte, ainda de gente bravia. Mas há essa outra parte em que me distingo dele: não sou nem casamenteiro, nem sequer um folgazão, que isso pode levar à tentação do pecar. E eu isso só posso fazer depois de ter garantida a compra do certificado que me ateste a santidade. Ora, sendo eu um santo, sem selo de garantia, tenho que ser sempre exemplo de pessoa bem intencionada, mesmo tendo de fingir, mesmo tendo de enganar.
Com o Botafogo a coisa é outra. Ele é um ser de malícia ardente, que me acusa de ter vindo até aqui, trazendo uma passarinha que não é bem passarinha. Ora, isso não é verdade. Eu só trouxe uma avezinha, uma avezinha de verdade, uma avezinha inocente; daquelas que até voam, e que até fazem voar - pelo menos é o que dizem. Só por especulação mística é que me pus a imaginar se essa delicada coisinha era passarinho ou passarinha. E só esse imaginar me deu logo a certeza que ela era passarinha.
Se tivesse ficado por aí, a malícia do Botafogo, ainda vá que não vá. Mas não contente com isso, ele vem depois dizer que eu trouxe à passarinha aquilo que ela queria, e que ela tanto o queria, que ele até insinuou que ela me agradeceria. Ora, isso não pode ser, que eu nem tão pouco sei o que quer a passarinha, embora tenha na ideia coisa que ela poderia querer, se já fosse primavera. Será que ela ia querer? E até agradecer? E que forma vestiria esse seu agradecer? Mas isto é, está mais que visto, um perguntar inocente, que nem é para responder.
Quem para aqui trouxe a passarinha, e aquilo que ela quer - e seja lá isso o for -, e o seu agradecer - seja lá o que ele for -, foi simplesmente o Botafogo, que ele é malícia de fogo, e eu inocência pura, guardada em fingimento, até que me mandem um fax, dizendo que já sou santo. Por isso terá de ser ele, esse senhor Botafogo a contar aos curiosos, o que é isso da passarinha, e o que é aquilo que ela quer, e como é que o quer, e como é que ela agradece.
Não me atribuam a mim malícias que eu não tenho. E, mesmo que as tivesse, eu diria sempre que não.
Eu limitei-me a dizer aquilo que o povo diz ao S. Gonçalo maroto, fingindo-se distraído: que se vire para o outro lado, que lhe podem ver a coisa; e que arranje maneira de tirar a quem precise as teias de aranha da coisa. O povo é muito simples. Não tem malícia nenhuma. E o Botafogo também não.
Claro que ele viu a passarinha, o aquilo que ela queria, e como é que o queria, e como o agradecia, mas que mal é que isso tem? E quem é que nunca não? São fraquezas de dragão, a que só um santo como eu tem força para dizer não, mas sempre com os dedos cruzados, escondidos atrás das costas, para que o não seja sim.
Viva a malícia do S. Gonçalo e do povo, que a tinham, mas já não , pois a atiraram toda para as costas dum dragão.
E viva o Botafogo, carregadinho de culpas!
E viva a minha inocência!
E viva a minha santidade!
E viva você também, mas só se concordar comigo.

10 comentários:

Anónimo disse...

Essa forma como você engata as histórias, mais a ironia que nelas bota, mais o riso que se vê colado às palavras, mais o "novelo"com que enrola e desenrola os comentários, é de filho de artista.E quanto a isso não restam dúvidas.
Quanto à história da avezinha, só língua de fogo é que pode ver malícia onde só havia poesia e carinho e maneira de dizer:-canta para mim ou para o pisco que mora num granito encantado...
Mas depois da avezinha você atira com um aquilo e com o que o precede ,e é natural que tenha havido mau pecado de pensar e bom pecado de fazer.
Desculpa-se o Botafogo, mas acho bem que ele venha cá se explicar.
Atejajinha,sim?
E um inho?

Anónimo disse...

Olá, Tempo Breve!
Vim aqui só um bocadinho porque o Tempo deve estar sentido comigo por não ter vindo cá ultimamente.Mas como lhe disse,esta flor não é de pousar, tem poisos irregulares e incertos neste breve viver.Agora mesmo,por exemplo,o tempo está a puxar-me o braço para ir para a cama.E vou ter de lhe obedecer.Não posso
falar d'«A malícia do dragão»por
agora.Prometo que volto.
Tenha uma Boa Noite,sim?
Violeta

Anónimo disse...

SENHOR TEMPO

Ontem passei por cá depois de uma estadia em Londres de 10 dias.
É só para dixer que fui bem disposto para a cama por causa do aquilo e da sua ousadia.Os comentários que fez ao botafofo e à I)sa(bel) e ao Maranhas provocaram-me tosse de tanto rir.
A Ibel já desvendou a história dos Campos? Eu Também vou ao dela, mas ela não sabe que ando lá escondido.Bem feito para ela.
Abraço

Anónimo disse...

Alto lá,alto lá!Chamaram por mim!
Senhor Tempo,e que tal se voltássemos aos «crates» versus macaco?!

TempoBreve disse...

Cara Ibel!
Já respondi a este seu comentário com uma escrita lavada, brincando com a mesma história, a história da passarinha. Mas depois quis a vaidade, esta vaidade palerma, que eu a quisesse guardar, para melhor a alindar, passando-a um pouco a ferro. Bastariam uns minutos, nunca mais que três ou quatro. Mas a verdade é que os não tinha naquele momento exacto. Depois quando a procurei, a essa escrita lavada, para a brunir a preceito, vi que a tinha perdido, ficando o ferro sem préstimo. Talvez até tenha sido melhor, para que a passarinha descanse. Não quero falar dela agora.
Também não quero falar daquele artista só meu que só eu é que o sei; daquele artista maroto que se atreve e pisca o olho nos momentos mais impróprios, só para comprometer o filho.
Isto foi o que eu ontem disse era madrugada. Mas depois engatei, continuando, falando do artista. Quando acabei,senti as rolas que moram no meu loureiro grande.
Mas não publico agora. Você merecia. Mas aquele ladrão, quando falo nele, desconcerta-me inteiro.
:-)

TempoBreve disse...

Violeta, então?

Só um bocadinho? E não tem vindo cá? Bem, você sabe o que acontece a quem não vem cá. Claro que o que acontece é directamente proporcional aos dias de ausência. Por isso, acautele-se. Eu já enumerei a lista das pragas, e respectiva gravidade.
Serão irregulares os seus poisos, mas serão certamente agradáveis, pois que são os poisos seus. Assim lho desejo eu.
Que é que se passa aí? Então, se o tempo sou eu, que tempo intruso é esse que lhe quer tomar o braço para a levar para?
O dragão é um incendiário. Por isso, tenha cuidado, que quando ele abre a boca, pode muito bem sair chama.
Há tanto tempo que sei que você é Violeta. Ai, esta minha cabeça! Andei eu por aí a falar de aves, o que me deu um trabalhão, e criou desentendidos, nem sei bem por que razão, quando podia falar de flores, mesmo de violetas.
Mas, sei lá se o resultado não iria ser o mesmo? É que há umas flores, que têm cá certos caprichos, quer na forma, quer na cor, que eu sei lá se mentes menos, não iam pensar no mesmo?
Ainda bem que não falei. Mas ainda hei-de falar.
:-)

Anónimo disse...

Que lindo comentário!

TempoBreve disse...

D. José!

Para já, fique lá com o título que agora lhe dou. Depois verei se o merece ou não. Oxalá não o mereça, pois, assim, terá de pagar-me o uso indevido, que, entretanto, dele fizer.
Então você foi a Londres e não disse nada ao povo? Não sabe que eu preciso que me tragam tabaco de lá? Não. Nada de contrabando. É só porque nesta megalopolis, que é aqulela onde eu moro, não há tabaco que preste, para um cachimbo bom. E nem pense em contrariar-me, se não retiro-lhe o título. Eu bem sei que há tabaco . Só que já vem em segunda ou terceira transacção, e chega cá sempre seco. E, assim, já não é bom.
Olhe que eu não sou rico, para pagar indemnizações. Por isso, não perca tempo, insinuando que tosse, e que essa tosse é doença, e que o culpado sou eu.
Os comentários de que fala, fi-los com toda a razão. Então não é que eles os estavam mesmo a pedir?
Faz muito bem vasculhar naquele blogue da Ibel. Eu também por lá vou passando, e hei-de passar mais vezes.
Ah! Já me ia esquecendo: Então você não sabe, que é merecedor de castigo, todo e qualquer hereje, que passe uns dias sem visitar o senhor que é o Tempo? Como pode ver no comentário, que deixei para a Violeta, há uma enumeração de consequências pouco agradáveis para quem infringir obrigação tão piedosa. Tenha, por isso, cuidado com ausências londrinas.
Seja bem regressado.
Um abraço para si.
Obrigado por ter voltado.
:-)

TempoBreve disse...

Caro Maranhas!

Alto lá? Que é que se está a passar? Será que você é militar, daqueles militares valentes, com fitinhas penduradas perto das orelhas e ombros, a dar ordem de comando, a uma companhia rebelde?
Seja lá pelo que for, preocupa-me esse seu "Alto lá!" Pode contar comigo, se alguém o quiser atacar. Que se atrevam!
A agradecer tenho a sugestão dos seus "crates" só; e do macaco também.
Que bicho é que lhe mordeu para se pôr para aí a gritar - "Alto lá"? - pedindo socorro aos "crates" e ao meu macaco?
Disseram-lhe alguma coisa?
Um abraço, sim?

TempoBreve disse...

Ibel!

A falsa modéstia é pecado, e a vaidade pode ser defeito. Claro que é muito lindo o comentário que você fez. Mas podia ter esperado um pouco, dando-me a oportunidade justa de ser eu a dizer:
- Que lindo comentário o seu!
:-)