quinta-feira, 12 de julho de 2007

O macho canta cu-cu, mas a fêmea não

É um malandro. É um brincalhão. Vítimas? Os mais distraídos e as raparigas que querem casar. Está em todo o lado. Não tem escrúpulos. Vive à custa doutros. Tem muitas manhas. Não admira que tenha má fama.
Tamanho médio; cabeça peito e dorso em tons de cinza e castanho; barriga de fundo branco-sujo, com estrias horizontais ondulantes, de cinza e ferrugem; cauda comprida, pintalgada de branco; silhueta à falcão ou à gavião; cor e porte como a fêmea deste. Um farsante.
Há quem diga que entre Março e Abril o cuco há-de vir, mas na minha terra sabe-se, de ciência certa, que no primeiro de Março, o cuco chega e canta. Mesmo que não chegue. Mesmo que não cante.
O macho canta cu-cu, uma coisa estranha, mas a fêmea não; antes soluça ou, se excitada, estranhamente bufa. É com o cu-cu que ela se excita, uma coisa estranha, para pôr os ovos, outra coisa estranha, nos ninhos de passarinhos. Uns sem vergonha.
Os ovos do cuco são um milagre duplo de mistificação: muito parecidos em tamanho, forma e cor com os dos passarinhos que fizeram o ninho; e cheios das qualidades todas que os novos cucos deverão,logo ao nascer. Uns filhos-da-cuca, é o que é.
Não é que eles, logo ao nascer, já conhecem o jogo do bota-fora? Viciado, claro, que eles ganham quase sempre. E é assim que nos primeiros dias eles deitam para fora tudo o que o ninho contém, sejam outros ovos, sejam outros pássaros, até ficarem sós, para comer tudo.
Não admira que cresçam depressa, e partam depressa. Sem conhecer os pais. Mas o mais estranho é que os pais enganados assistam ao jogo e aceitem. Muito estranho mesmo.

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