sexta-feira, 1 de maio de 2009

Os maios de Maio

Maio tem que se lhe diga; os maios muito mais. Maia lhes deu nome; Flora os abençoou. Têm sopro divino, cobrem-se de flores, enchem-se de aromas. O sopro nos atrai, as flores nos chamam, os aromas nos guiam. Mas só se oferendam a quem delicado souber procurar.
Têm tudo isso, o mês e os maios, mas os maios têm mais: raparigas os curvam diversos em anéis toroidais. Só então os cobrem de veludos raros, onde depois bordam, com fios de seda, da seda mais pura, montículos de folhas, das folhas mais finas, donde emergem flores, das mais lindas formas, das mais lindas cores.
São assim os maios que as raparigas tecem. Tecem-nos tão lindos, que se tecem neles. E é por isso que, enquanto os tecem, lhes vão pondo véus. São os véus de Maia. Mostram o que mostram. Mostram aparências. Mas quem for esperto pode chegar à essência, afastando os véus.

2 comentários:

Ibel disse...

Que belo poema de Maio e dos maios! ó Tempo, tão leve quanto breve...

Maio tem que se lhe diga;
os maios muito mais.

Maia lhes deu nome;
Flora os abençoou.
Têm sopro divino,
cobrem-se de flores,
enchem-se de aromas.
O sopro nos atrai,
as flores nos chamam,
os aromas nos guiam.
Mas só se oferendam
a quem delicado
souber procurar.
Têm tudo isso,
o mês e os maios,
mas os maios têm mais:
raparigas os curvam diversos
em anéis toroidais.
Só então os cobrem
de veludos raros,
onde depois bordam,
com fios de seda,
da seda mais pura,
montículos de folhas,
das folhas mais finas,
donde emergem flores,
das mais lindas formas,
das mais lindas cores.
São assim os maios
que as raparigas tecem.
Tecem-nos tão lindos,
que se tecem neles.
E é por isso que,
enquanto os tecem,
lhes vão pondo véus.
São os véus de Maia.
Mostram o que mostram.
Mostram aparências.
Mas quem for esperto
pode chegar à essência,
afastando os véus.

ABRAÇO

TempoBreve disse...

Ibel!
O que me deu mais trabalho foi a fotografia. Tinha que traduzir a tradição, mas tinha que ser digna, e sem artifícios. Depois, foi só pô-la aqui. Mas eu queria uma ou duas frases. Curtas. Tipo legenda. E, então escrevi: "Maio tem que se lhe diga; os maios muito mais".
Era para ficar assim, que já era tarde, e o que ficava era um bom pretexto para, dias depois, escrever qualquer coisa sobre as tradições dos maios de antigamente, e que ainda persistem na forma de vestígios apenas.
Era para ficar assim, mas não ficou. Saiu mais uma frase, e mais outra em paralelo. Apanhei o ritmo. E escrever com ritmo, em o apanhando, torna-se mais fácil. E fui por ali fora, ou por ali abaixo. E saiu-me aquilo. Era já tarde, e não quis corrigir. Ficaria para depois.
Ora, quando aqui vim e li o teu comentário, vi que tinhas feito um lindo e leve poema (leve, mas com peso), jogando com algumas das minhas palavras, e dando-lhes a graça que eu não soube dar-lhe. Li-o duas vezes. Só depois é que reparei que as palavras que usaste eram exactamente as mesmas que eu tinha usado. Até a pontuação. Fiquei espantado, pois eu li o teu poema como se fosse um texto muito diferente do meu. Como é que tu consegues, com as mesmas palavras, nos mesmos lugares, e com a mesma pontuação, fazer um texto outro, diferente, e mais substantivo e belo?
Eu já tinha lido sobre esta questão numa das minhas leituras sobre o D. Quixote. Mas o que li era uma teoria. E o que tu fizeste foi uma demonstração de que ela, essa teoria, tem aplicação.
Agora já não posso, nem quero, mudar coisa alguma. Vai ficar assim. O poema é teu.
Talvez lhe ponha um título, mas ainda não sei qual.
Um abraço.