Eu lamento muito, mas vou ter de dizer que o texto ali nas Peles - Onde é que está o quê? -, foi copiado pelo macaco. Mas eu já lhes conto.
Discutiu comigo, e até fez birras , exigingo coisas: que eu continuasse a dar-lhe vida, contando as suas aventuras; e que, nessas aventuras, ele fosse herói, como eu bem sabia. Eu disse-lhe que não, e que a culpa era só dele pois, mal lhe dei vida, ele saltou dessa vida para fora, e foi viver outra história, tecida de amores à primeira vista; e que, só por causa disso, até se tornou activista, agitador e grevista, obrigando-me a mim, cidadão pacato, a corrrer atrás dele, para o proteger.
Ele protestou rebelde que era um cidadão, com direito ao amor, e com responsabilidades cívicas; e acrescentou, suspirando, que eu nunca poderia entender isso. Mantive-me inflexível:- Não e não e não! E ele, regateiro, batendo com o punho na mão: - Sim e sim e sim! E, então eu, mais teimoso que ele: - Não e não e não! Fino, ele conclui, numa ameaça velada: -Ai é, ai é, ai é?
Então saiu porta fora, fechando-a de mansinho, com um sorriso nos lábios, que era mais que manhoso. Eu fingi que não vi nada. E ele subiu umas escadas com uns passos malcriados para eu os ouvir bem. Não demorou mais que minutos, e voltou logo a descer com uns passos mais ligeiros. Foi de novo ter comigo. Entreabriu a porta, meteu dentro só o focinho , e atirou-me de repente:
- O computador lá de cima leva um tempão a abrir; e a ligação da internete já não funciona outra vez.
Dito isto, foi recuando a cabeça, e foi fechando a porta, com um sorriso atrevido. E, mal a porta se fechou, soltou uma grande risada, que era toda ela escarninho. Aquilo era de mais. Eu saltei para o apanhar. Mas ele, mais ágil que eu, galgou de um golpe só o último lanço de escadas, fugindo, e dando-se ainda ao luxo de bater com estrondo a porta da rua.
Eu fui logo lá acima, para ver que malandrice é que ele tinha engendrado. O computador estava aberto; a internete ligada; e as Peles ali abertas com o "Onde é que está o quê?" chapado na primeira página. O ladrão tinha roubado ao Tempo o "Onde é que está o nada?", limitando-se apenas a escrevê-lo ao contrário. E teve a habilidade de acrescentar aquela nota no fim, só para disfarçar o roubo e criar mais confusão.
Eu fiquei ali pasmado. Mas o telefone tocou e eu tive de atender. Disse educadamente o meu nome. E foi então que do lado de lá ele disparou de rajada, não me deixando falar:
- Sou eu! Já viste aquilo? É de mestre, ora não é? Não, não sejas parvo! Não é o poema que é de mestre, seu cabeça de alfinete! De mestre é a minha jogada, para te obrigar a fazer aquilo que que vais fazer: vais continuar com a minha história, inventando-me heroismos, como é justo e verdadeiro - ouviste, seu cabeça de alho chocho?; vais afirmar aqui que o "Onde está o quê?" é meu, que fui eu que o escrevi, e quem copiou o "Onde está o nada?" não fui eu mas foste tu; vais dizer, preto no branco, que eles são ambos meus - ouviste, seu cabeça de nabo?; depois vais também juntar os dois, de forma elegante e leve - ai de ti se não ficarem, ouviste, seu cabeça de burro?; se os juntares e se ficarem bem, eu, porque sou educado e honesto, vou deixar que escrevas uma nota dizendo que todo o produto é meu, e que a verificação ortográfica é tua, uma vez que ela é automática - ouviste, seu cabeça de porco?
Eu estava para explodir, quando ele deu outra risada, desligando-me o telefone na cara.
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
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20 comentários:
Isto cada vez tem mais interesse, mas exige leitura diária porque nem sempre é possível entender as alegorias.
Vou ver se no fim-de-semana já vou poder compreender melhor.
Um abraço para um tempo bem divertido...
Meu caro J. Miguel Campos:
Numa coisa tem razão: isto salta dum lado para o outro, e dum assunto para o outro, e isso às vezes implica uma leitura de textos que tenham ficado para trás.
Alguns temas até ficam parados no tempo, e, quando menos se espera, é-lhes dada continuação.
Não faço isso para dificultar leituras, nem obrigar ninguém a vir aqui. Mas há quem diga que sim.
Agradeço o interesse que você diz que isto tem. A mim dá-me algum prazer. Gostaria que a si também.
Um abraço.
Malandreco!Então ele foi viver outra história de amores tecida à à primeira vista? Ele é fino o macaco!E onde mora essa paixão?
No jardim que você plantou? Ou foi ele?
Miguel,também andas por "estas bandas?"
Aposto que sei...
É verdade que esta história não é fácil, mas o tempo breve sabe como nos fazer voltar cá.
Telefonei,sim senhor, e mandei mail.
Abraço para o tempo e beijos para as saias.
Caro anónimo:
É isso. Eu queria-o esperto e malandro, mas não um malandreco assim, atrevido e malcriado. Isso eu não queria. Isso eu não previ. Mas vou metê-lo nos eixos.
Quanto à história de amores, eu quero que ele a viva. Mas não quero que ele caia naquela coisa de andar aí por essas esquinas feito parvo a suspirar. Ele sabia muito bem que não se podia apaixonar antes dos 35 anos, e só com minha autorização.
Claro que ele é fino. Disso não duvide um segundo. E a paixão mora nele, mas o objecto dela não sei. É isso que me preocupa. Ora imagine só que se trata de um objecto que não é de estimação? Está a ver no que ele se mete? Mas dizem que a paixão é cega. Mas eu não vou deixar que ele, cego, se espatife, contra um objecto qualquer.
E não me venha com jardins, insinuando-me culpado, que a culpa não foi minha ,como ficou demonstrado no último texto das "Peles". A culpa também foi sua, sabia?
Ele é um senhor macaco. Eu estou a gostar dele. Mas vou dar-lhe uma coça. A ele, e só a ele, claro! Pelo menos para já.
Caro João Manuel Campos:
Andou com a gripe? Espero que não. É que os virus, muito mais espertos que nós, agora deram na moda de escolher os computadores para irem para todo o lado.
Olhe que estou a tentar brincar um pouco com este teclado emperrado. Claro que você não me ia mandar nenhum virus de gripe. Mas, como não o tenho visto por cá, pensei que estivesse doente. Não está. E isso é que importa.
O Miguel também é "J"; o Miguel também é "Campos": pensei que você fosse ele, mas você é Manuel. Pelos vistos são amigos.
Você viu no que deu o beijo que deram ao macaco? E mesmo assim não teme mandar beijos para as saias? Eu não tenho nada com isso, e até acho muito bem. Mas veja lá no que se mete.
Quanto ao abraço para o tempo, ele manda-me agradecer-lhe, e retribuir-lhe a si um outro ainda maior.
:-)
Já agora, o que é que as saias mandaram para o "nosso" bloguista?
Olá, Torre de Babel:
Sabe que eu acho que aqula história da Torre de Babel deve estar mal contada?
Olhe. Nem lhe posso dizer o primitivismo carinhoso que às vezes me pôem no bolso. Mas, como falamos de Babel, eu também tenho as minhas dificuldades em entender o que se fala. De que saias é que fala? Que saias é que quer ver?
Estou a brincar consigo.
Ainda um dia lhe conto.
Eu nunca abracei uma "torre", mas mando-lhe um abraço a si.
:-)
As saias mandam muitas violetas ao doce macaco apaixonado.Hoje vai fazer uma almofada de rosas,um lençol de jasmins com entremeio de violetas.Depois vai adormecer tranquilamente,como quem vai, em tempo breve,ao fim do mundo ,ao mar de fundo e voltar refeito.Devagar, devagarinho,sai do «ninho» refeitinho, ainda a sentir o macio das fragâncias que ficaram na(s)pele(s).
Violeta:
Um engano qualquer um tem, não é? Pois é. Você enganou-se ao dizer "as saias mandam muitas violetas ao doce macaco". Eu percebi: as violetas são para mim. Não tem problema. Foi um simples engano, não foi?
Claro que foi. Você podia lá dar flores a um malcriadão daqueles? E logo violetas! Eu até lhe podia confessar uma coisa acerca de violetas. Mas não. Sei lá se você ia ler?
Bem, quanto ao engano, estamos entendidos, não estamos?
O seu texto é lindo. Eu vou entrar nele e nas rosas e nos jasmins e nas violetas e no mar e nas peles.
O seu texto é lindo. E sabe que eu escrevo muito sobre o mar? E que as violetas falam comigo?
Deixo-lhe um sorriso.
:-)
Vimos o macaco pendurarado numa árvore e deve ser o seu, porque a fase etária, com uma dose de boa vontade ,não ultrapassa os 35 anos.
Bocê era tão lindo, carasgo!
Caro anónimo:
Você não viu nada; afigurou-se-lhe que viu. Foi ilusão de óptica. Mas, deixe lá - tenha paciência -, eu também uso óculos que me pregam partidas. A não ser que ele, aquele manganão - só para me castigar, qual filho rebelde -, em vez de progredir, queira regredir, só para que eu centre nele toda a minha preocupada atenção.
Seja ele ou não, se a sua idade for a que você presume, mande-o ter comigo. Assim poderei ver se ele é mesmo ele, ou então se não. Caso ele o seja, tratar-lhe-ei da saúde; caso não o seja, poderei comprovar se ele já tem 35anos; e caso os tenha, ele poderá requerer à minha pessoa, a tal autorização para começar a pensar na hipótese remota de se vir a apaixonar.
É claro que eu reservo para mim a autoridade e o direito de deferir ou não o requerimento.
Mas parece-me bem que você está convencido que ele é mesmo ele, e que ele sou eu. Mesmo assim, enganou-se à mesma: é que, se ele é ele, e se ele sou eu, então eu sou mais lindo agora do que o era então.
Você é um maroto. Quase como ele. Quse como eu.
Um abraço ou um sorriso, conforme o género que tenha. E, em tendo dúvidas, só por precaução, fique com o abraço.
:-)
Ao ficar-se pelo abraço, nem sabe o que perde.Melhor para mim, pior para si e para o macaco veremos.É que ele não é bem você, que não o vejo a metamorfosear-se por dá cá aquela palha,ainda que o olhar do macaco seja irresistível, mesmo com óculos. Mas onde e porquê fui eu lembrar-me dos óculos?
Esqueça!São os 35 anos do seu amigo ...
Mas agora a sério.Você não se viu pendurado numa árvore, num átrio algures para o lado da deseducação e
onde montes de estrelas "pendentes" por causa de antiguidades assustam o Pai-Natal?
Caro anónimo, que pode bem ser anónima, sendo nesse caso “cara”:
Naquela timidez própria de quem tem muito querer, mas não ousa pedir muito, eu pedi-lhe que escolhesse entre o sorriso e o abraço; e com medo que julgasse o meu pedido impertinente, ainda lhe sugeri que, caso tivesse dúvidas, se ficasse pelo abraço.
Deixei tudo muito claro: o abraço era um abraço mesmo, no caso de você ser homem; o sorriso, sem deixar de o ser mesmo, continha desejos de prendas, que só mulher pode dar; as dúvidas, por muito dúbias, eram mesmo a brincar, e por isso não tinham género.
Você percebeu muito bem que deixei tudo em aberto, não me ficando pelo abraço. Mas você diz que fiquei, fingindo que não percebeu.
Seja homem ou mulher, você é pessoa má, pois esse seu fingimento, restringindo-me ao abraço, assassina o meu sorriso, e diz que eu já perdi, e que o macaco ainda não. Mas quem melhor ri, ri no fim. E eu ainda me queria rir se você desse ao macaco o que diz que eu já perdi. E não lhe digo mais nada.
Quanto àquela coisa da árvore, eu gostava de informar que eu ora passo e não olho, ora olho e não vejo. Mesmo assim posso afirmar que não me viu nessa árvore, que os meus familiares de antanho há muito que desceram delas. E, em termos de humanidade, eu sou sempre pelo evoluir em espiral ascendente, e nunca pelo regredir em imbecilidade a pique; sou pelo evoluir, mesmo que eu já não possa mais, e sou contra o regredir, mesmo que eu já esteja a cair.
Aquela árvore não é vida; é um cemitério de mortos. As estrelas não são fogo; são montes de lápides frias. E eu sei que o Pai Natal se assusta, pois não consegue ver naquilo a alegria, a inocência, a amizade e a esperança que o espírito do natal tem.
Mas o espírito de natal existe entre nós. Mesmo que o não pareça. Eu vejo-o por lá muitas vezes. E acho que você também. Eu acho que, afinal de contas, você não é pessoa má.
Eu acredito no Pai Natal.
Gosto do "ora passo e não vejo, ora vejo e não passo".
Para a próxima vou passar e beijar.
Vale a aposta?
Os seus comentários , alguns, são melhores do que os textos.
Como é que um "animal feroz" como temos visto se faz assim filósofo?
Não entendi bem a história do macaco, talvez porque ando perdido
nestas paragens.A da árvore penso que percebo e gostei das considerações.
Mas anda gente perturbada e foi por isso que cá vim.
Até"lá".
Sr. Despistado,
«Ora passo e não vejo,ora vejo e não OLHO!».Assim é que está.Mas está desculpado.É despistado.
Caro despistado:
Você trocou os verbos todos, fingindo-se distraído.
E essa sua ameaça de, em passando, beijar, pode bem ser perigosa, que, despistado que é, ainda acaba por beijar aquilo que beijar não quer. Mas esteja sossegado, que se eu estiver por perto, de certo que o vou avisar.
:-)
Caro Alcoviteiro:
Arranjou um lindo modo de vida. Quanto a isso não haja dúvida!
Eu já tinha reparado no que sabiamente diz sobre alguns dos meus comentários. Alguns deles poderiam, sem muita dificuldade, ser escritos na página primeira. Mas não quero, que ao escrevê-los ao lado, é uma forma que tenho de honrar e agradecer o comentário que eu comento.
Quanto ao animal feroz se transformar em filósofo, isso é muito natural. Você já viu algum filósofo que fosse leão de pantufas e com um lacinho no rabo?
Para poder entender - se é que isso é possível -, a história do macaco, terá de começar por aquela fotografia maldita que dele publiquei, e que anda aí pelos arquivos. Depois terá que ler os textos a seguir, e também os comentários, que andam por aí espalhados pelo "Tempo" e pelas "Peles". Vai dar-lhe muito trabalho. Por isso não se meta nisso.
A árvore parece que já mudou. Será que os seus obreiros leram as considerações?
E que diabo é isso de andar gente perturbada?
Um abraço para si, seu grande Alcoviteiro.
:-)
Caro anónimo:
Você ainda é mais despistado que o Despistado. E o mais bonito é que ainda me despista a mim também.
Afinal, quem é despistado?
Ralhe com o Despistado, sim?
Um abraço para si.
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