Estou a ver se me liberto do Homem caminhando sobre a água, aqui em baixo. Estou a ver se ele se afunda, se perde o equilíbrio e cai. Mas qual quê, qual carapuça! Ele não anda nem desanda. Não há meio de sair.
Eu penso que é dos comentários, que ele toma por elogios. Pense ele o que pensar, eu tenho é que o tirar daqui, resguardando-o mais abaixo, em lição de humildade. Eu sei que não vai ser fácil. Mas tenho que o tirar daqui de cima, que enquanto o não fizer, eu abro esta janela e vejo-o, e fico a olhar para ele, e não escrevo mais nada. Fico como El Rey Pasmado, ante a sua rainha. E isso não pode ser. Tenho que o tirar daqui, e mandá-lo ali para baixo.
Além disso eu arreceio-me que, se ele ficar aqui mais tempo, ainda me denunciam bufando, e vêm bater-me à porta, para que eu pague, por ele, o imposto patriótico de ele circular sobre as águas. Tenho que o tirar daqui.
Quando tem que ser, tem que ser mesmo, servindo qualquer razão, nem que ela seja inventada - o que é indício até de inteligência e orgulho, nesta terra abençoada. Ora, eu tenho razões sobejas, como acima apontei. E mesmo que não tivesse, eu tinha que o tirar daqui, simplesmente porque sim, que é uma razão muito sábia, em terras de entristecer.
terça-feira, 16 de outubro de 2007
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5 comentários:
Não se liberte de quem anda livre e feliz e nem sonhe afogar D. Quixote porque seria uma maldade imperdoável. Deixe-o caminhar sobre as águas e ponha o menino a procurar atalhos metafóricos para enterrar o sal, que a vinha sairá revigorada e o vinho será da mais pura casta.
Vá lá à vinha outra vez que ela está a precisar de uma visita sua...
A ibel tem razão. Você não afogou coisa nenhuma porque ele lá está, o pé azul,a convidar a um passo de dança sobre a água ou sobre o céu, para aliviar o peso de momentos enfadonhos. Dança comigo?
águamar
Ibel!
Então?!
Farei como diz. Não há muita gente que ande simultaneamente livre e feliz. Ou mesmo só livre. Ou mesmo só feliz. Por isso,não podemos livrar-nos dessa gente que é gente, sem que fiquemos mais pobres. Faz-nos falta essa gente, mesmo que inventada.
Do D. Quisote, não me livro nunca. Mesmo que quisesse - e não quero -, não conseguiria, pois eu desconfio que o malandro habita numa parte oculta do meu existir.
Deixarei que o homem caminhe. Sempre. Que ele é o menino do sal, da vinha, da penedia, do mar, da serra, de muitas figuras, muitas delas meninas.
E irei à vinha. Irei sempre à vinha. Eu falo com ela. Falar-lhe-ei de si, dando-lhe conta dos seus comentários de alento gráceis. Ela vai gostar.
ÁguaMar,
Como vai você?
Já escrevi no google este nome que usa, e que, para mim, é o nome seu, mas você não é nada daquilo que ele me deu. Ele é um palerma, é o que é.
Contento-me, porém, com as palavras que amáveis me dá.
Pode ser que a Ibel (Você conhece-a? -,tenha razão. Mas, em tendo-a, e em eu lhe fazendo a vontade, meto-me em trabalhos, tendo que escrever mais. Mas, afinal, você faz o mesmo que ela faz, não me deixando afogar o homem atrevido que convida à dança.
Claro que sim, que danço consigo. Eu até acho que já estou a dançar. E você não acha?
Eu qureria dançar e você tirou-o de mim, tirando-o daqui.Que faço agora aos meus pés inquietos,à minha água estagnada,desfascinada do rio para onde corria?
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