sexta-feira, 28 de março de 2008

Drama e tragédia, ou tragicomédia?

In Público, 28.03.2008, p. 10, por Andreia Sanches
Mais professores querem trocar a sala de aula pela reforma antecipada

Indisciplina dos alunos, cansaço, e "burocratização" da profissão são algumas das razões que docentes invocam para deixar de ensinar

Antes de ser publicado o novo regime de aposentação para os funcionários públicos o telefone do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, afecto à Fenprof (Federação Nacional de Professores), tocava várias vezes ao dia com pedidos de informação. "Recebíamos dezenas de telefonemas de professores a perguntar quando é que saía a nova lei", conta o dirigente sindical Manuel Grilo.
Quando, em Fevereiro, as novas regras foram finalmente publicadas, os professores "começaram a fazer contas". E nas escolas passou a ouvir-se com mais frequência: "Estou cansado, vou-me embora."
"São professores empenhados que sentem que o seu trabalho não é reconhecido, que se aposentam por desânimo, que se queixam de uma excessiva burocratização da profissão", diz também Rita Bastos, presidente da Associação de Professores de Matemática.
São, continua Manuel Grilo, "pessoas que estão no máximo da sua capacidade de ensinar", com muita experiência, mas que preferem perder dinheiro, sujeitando-se a penalizações na pensão, a continuar a dar aulas até chegar à "idade legal" para se reformarem.
Porquê? "Tem a ver com os horários de trabalho excessivos, com problemas de indisciplina dos alunos. O discurso de que os professores não querem ser avaliados não ajuda. Os alunos dizem: "Então o senhor não quer ser avaliado e quer-nos avaliar a nós?"" - conta Manuel Grilo.
A Caixa Geral de Aposentações fez saber que não dispõe de dados que permitam analisar qual tem sido a evolução do número de professores que tem antecipado a aposentação.
Contudo, também João Dias da Silva, secretário-geral da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (Fne), diz que os pedidos de informação sobre aposentações antecipadas que chegam aos sindicatos têm aumentado muito. Só ao Sindicato dos Professores da Zona Norte chegaram mais de cem desde Janeiro de 2007. A avaliação do desempenho e a divisão da carreira em duas categorias são as razões mais apontadas por quem se dirige aos serviços.
"Há um desgaste e muitos professores passaram a ter que trabalhar mais do que as 35 horas semanais para fazer tudo: as reuniões, os projectos para isto e para aquilo, as candidaturas a financiamentos, preparar os novos cursos de educação e formação e as visitas de estudo", para além das aulas, da correcção dos testes, da investigação, continua Dias da Silva.
O dirigente recorda que "até 2006 os professores tinham a expectativa de poder aposentar-se aos 36 anos de serviço e 60 de idade", e organizaram a sua vida em função disso. Depois, as regras mudaram "e obrigam-nos a trabalhar mais". O regime criado em Fevereiro último - que facilita a aposentação antecipada - é pois visto como uma oportunidade "e todos os sinais que nos chegam levam a crer que os professores vão usá-la mais" do que outros funcionários públicos, diz Dias da Silva.
De acordo com a lei, este ano pode pedir aposentação antes do tempo quem tiver 33 anos de serviço, independentemente da idade, sendo a pensão reduzida em 4,5 por cento por cada ano que faltar para atingir os 61 anos e seis meses de idade. A partir do próximo ano volta a haver limite de idade. Sebastiana Lopes, 58 anos, 29 de aulas, professora titular na Escola Secundária de São João da Talha (Loures), pensa entregar já em Outubro os papéis. "Não tem só a ver com as medidas que têm vindo a ser tomadas. Tem a ver com o meu próprio cansaço, com o desgaste da profissão." Já não consegue, diz, "fazer aquelas madrugadas que fazia para preparar as aulas". E sente-se mal quando não as prepara, o que às vezes acontece porque simplesmente não tem tempo, este está todo dedicado a outras tarefas.
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Notas:
1.
É impressionante ver nas páginas 10 e 11 do Público, de hoje, dia 28, os "Retratos de seis docentes com currículos dignos de nota que preferem ser penalizados monetariamente a continuar a exercer a profissão que escolheram".
2.
Eu conheço um deles. Apetece gritar. Eu grito. E choro. E peço-lhes que fiquem. Que esta loucura não pode continuar.
3.
Tentarei fazer uma síntese desses retratos, ou -los aqui na íntegra.
4.
Obrigado ao Público; obrigado às jornalistas Andreia Sanches, Natália Faria, Graça Barbosa Ribeiro, e ao jornalista Idálio Revez.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Aos colegas onde impera um terrorismo ameaçador! Estamos convosco! Não nos vamos calar!

1.
Já há muito se diz - e o Eça disse-o muito bem n' Os Maias, como os nossos ex-alunos bem sabem - que se importa tudo de fora. Só que este "importar tudo de fora" se refere pejorativamente ao que se importa mal: ou porque é mau, e, então não vale a pena; ou porque, não sendo mau no local donde vem, "não tem as nossas medidas", pelo que sempre nos fica o fato "curto nas mangas". Mas, continuando com o Eça, e recorrendo ao "impagável" Dâmaso Salcede, se vem de fora então é "très chic", é mesmo "chic a valer".
Podia fazer um "bonito", aprimorando as citações, mas isso não me importa agora, e citei tudo de cor. E vou passar adiante, que nestes últimos dias já falei no Eça umas três vezes. E eu até sou dos poucos que admiro muito o seu estilo , mas acho que com um estilo assim, podia ter ido mais longe. Adiante, pois.
2.
Se a reforma é copiada, isso pouco me interessaria, se ela tivesse tivesse lógica, e trouxesse algum proveito a este nosso "reino" encravado em tempos de desvario legislativo, que está a criar feridas, que podem tornar- se gangrenas.
Temos gente que sabe responder muito bem àqueles que nos atacam. E isto está a ser feito. E bem. Orgulho-me de ter descoberto tanta variedade e tanta qualidade na intervenção dos professores. Há que continuar neste capítulo, batendo-nos de igual para igual. E disso não temos medo.
Já não digo que as coisas estão a correr tão bem no que se refere às intervenções nas escolas. Não podemos descansar, pensando que está tudo resolvido. Não está. Há muitas tomadas de posição - um pouco tardias, mas está bem! -, de conselhos executivos e de conselhos pedagógicos (as minúsculas não são inocentes). São bem vindas, mesmo que só agora. Mas não nos podemos iludir:
- Porque não basta pedir só o adiamento da aplicação deste modelo de avaliação; espera-se, no mínimo, a sua suspensão, sem que essa suspensão implique que o aceitemos de braços abertos logo daqui a uns meses, na forma que ele tem;
- Porque, se o clima se tem desanuviado - numas escolas mais, e noutras menos -, escolas há em que impera um terrorismo amedrontador; há ameaças constantes e aos berros de "processos disciplinares", só por ter-se opinião, só por ser-se testemunha dum qualquer acto que não convém ao "império" do medo; eu sei que é o desespero, mas a verdade é que os colegas dessas escolas estão a ser submetidos a um "assédio moral" desmedido e despropositado.
- Porque o autoritarismo não reside apenas no tal que só usa os dois primeiros nomes, em jeito de nome artístico, assinando-se José Sócrates; nem tão pouco na ministra, um corpo estranho e cancerígeno enquanto se mantiver formalmente no posto; o autoritarismo está mais próximo, e por isso mais ameaçador e terrorista, nos "mandaretes" medíocres, que não sabem ser professores, que se acham grandes avaliadores poderosos e sábios; que têm compromissos a cumprir, seja de que maneira for, para manterem lugares "nomeados".
3.
Não podemos desviar a atenção destes senhores "ditadores" desesperados e pequeninos. Não podemos deixá-los impunes nas "coutadas" que acham suas. Há escolas onde os professores não falam. Há escolas onde se "proíbem" professores de assinar quaisquer papéis, nem que seja em legítima defesa sua, ou defesa de colegas.
Lembram-se daquele jovem professor "revoltado" que falou nos "Prós e Contras"? Como acabou aquele caso? Melhor, como é que decorreu o caso? Por que é que o vexaram? Por que é que o calaram? Por que é que os colegas dele não apareceram a esclarecer os factos? Quais foram as testemunhas ouvidas? Os colegas abandonaram-no?
Eu estou certo que não, que Ribeirão foi das primeiras escolas a levantar-se contra a opressão e contra a humilhação. E que primeiro e mais se alevanta, é sempre o primeiro e mais sofre a investida adversária, as mais das vezes, hipócrita e traiçoeira.
Eu gostava de saber o que se passou em Ribeirão.
Eu acho que dava uma linda história.
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Nota: Não conheço o professor revoltado; não conheço a escola dele; sei que se chama Escola de Ribeirão (e nem disso tenho a certeza); sei que fica ali para os lados de Famalicão; mas gostava de saber como tudo se passou. Eu não acredito que ele tenha inventado. Caiu foi numa armadilha.

terça-feira, 25 de março de 2008

Assumir responsabilidades (III); o pior cego é o que não quer ver

1.
Presidentes de cerca de 20 agrupamentos de escolas e de escolas secundárias do distrito de Coimbra apelaram hoje à ministra da Educação para suspender o processo de avaliação dos professores até ao final do ano lectivo.
Num documento divulgado hoje, após reuniões de presidentes de conselhos executivos, defendem também o «o reatamento imediato do diálogo com a Plataforma Sindical e outras organizações representativas dos professores, a fim de analisar a situação actual e encontrar formas de entendimento».
2.
Os presidentes dos conselhos executivos destas escolas e agrupamentos de escolas do distrito de Coimbra defendem ainda que, «uma vez que não é possível serem cumpridos os requisitos mínimos para a avaliação dos professores contratados, bem como dos professores que completam ainda no presente ano lectivo o tempo necessário para a progressão, propomos que sejam tomadas as medidas necessárias para a sua avaliação nos moldes antigos (Decreto-Regulamentar nº 11/98 de 15 de Maio), de forma a não haver prejuízos para os referidos docentes».
3.
Os professores do agrupamento de escolas de Montemor-o-Velho decidiram também, hoje, suspender todas as actividades relacionadas com a avaliação de desempenho.Em declarações à Lusa, Francisco Queirós, docente daquele agrupamento, explicou que os professores realizaram hoje de manhã uma reunião geral, convocada pelo conselho executivo, na qual foi aprovada uma moção a declarar que não estão reunidas as condições mínimas para prosseguir com o processo. A moção foi aprovada por 94 dos 99 professores presentes.
4.
Muitas posições idênticas, e outras já mais antigas, têm sido amplamente divulgadas na Internet, ora por Conselhos Executivos, ora por Conselhos Pedagógicos, ora por Departamentos.
«Na prática, o processo está parado na grande maioria das escolas», afirmou à Lusa o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira.
A Lusa tentou contactar a este propósito a ministra da Educação, mas ainda não conseguiu tal feito.
Lusa/SOL
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Nota: Texto abreviado da agência Lusa; ver texto completo in Movimento dos Professores Revoltados.

sábado, 22 de março de 2008

É a pronúncia do Norte / Esta voz que sai mais forte!

Já o está a pagar bem caro. Basta olhar e ver. E a cada dia que passa, sem ministra da Educação, mais caro o pagará.
Ora vejam lá, meus senhores, professores "desalinhados" e estas pobres professoras a fazer "tristes figuras". Só não vê quem não quer ver.
Ora vejam lá também estes "pseudo-professores", uns autênticos holligans, que desceram a Lisboa, enchendo-a de "selvajaria".
E vejam a ousadia destes outros senhores "holligans" desalinhados, e destas outras senhoras a fazer "figuras tristes", que ousaram dizer não, e de cabeça erguida, recusam a humilhação.
E vejam a "pouca vergonha" desta senhora do cartaz que, decidida, exige respeito, e o "bando de malfeitores" que a segue, exigindo respeito também. Linda terra, a terra deles, que é a "minha" terra também.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Parabéns, Isabel Fidalgo!

Minha cara Isabel Fidalgo!

Às vezes esquecemos pormenores importantes. Nem sempre se trata de um esquecimento palerma. Às vezes andamos muito cansados por vivermos intensos momentos de turbulência tamanha. Mas, mesmo assim, é esquecimento. E, mesmo assim, é imperdoável. Foi o que me aconteceu na segunda feira passada, dia 17.
Eu estive contigo e não te dei os parabéns pelo teu aniversário, que ocorreu nesse dia. E dizer que estivemos a falar, ainda e sempre, sobre razão que nos assiste; sobre a indignação que justamente nos aflige; sobre a lucidez cortante de sabermos que só temos grãos de areia feitos pó para atirar contra os tanques modernos desta estupidez cínica e tecnocrata que quer desmantelar o Ensino Público, esvaziando-o de conteúdo digno; sobre a consciência dorida que temos de que para o conseguirem - esses aprendizes arrogantes de autoritarismos tacanhos -, têm de esmagar primeiro a massa crítica dos professores que o são e sabem que o são - cansando-os, mas principalmente os mais velhos, com papéis inúteis, ferindo-lhes a sensibilidade, atentando contra a sua inteligência e sabedoria, ferindo o seu orgulho em ser professores, humilhando-os, tentando isolá-los, tentando que eles desistam e se vão embora, empurrando-os mesmo porta fora; roubando-os.
Falamos sobre tudo, embora em pouco tempo. Que, para quem se meteu nisto, com a nobreza dos valores à frente, não precisa de dizer as palavras todas para dizer tudo o que quer e sabe dizer. Falamos sobre isto tudo, mas eu não falei no teu aniversário. Não te dei os parabéns. E, nos tempos que correm, ter-te dado os parabéns teria sido muito mais importante que tudo o resto que te disse. É que as causas são importantes; mas mais importantes são as pessoas que ousam erguer as suas bandeiras. E tu és uma dessas pessoas.
Nunca te dei os parabéns. Mas este ano tinha obrigação de tos dar. Dou-tos agora. Vou-te oferecer um livro. Terá dedicatória: se eu tivesse a felicidade fechada na palma da minha mão, abria-a de mansinho e metia-a toda inteira dentro do teu coração. -------------
Nota:
Gostaria de poder oferecer também esta dedicatória a todos os colegas da nossa escola, a todos os colegas das escolas de Braga e a todos os colegas dos mais variados pontos do país que me têm directamente abordado, dando-me conta da sua participação nesta luta nossa pela Educação, apoiando-a, e apoiando-me sempre, o que me tem dado forças e alegrias.

domingo, 16 de março de 2008

Aos professores que sonham*

Com desassossego
Se alevanta o tempo
E agitado canta
A canção de Abril.

Quem o ouve sabe
Que é dele o cuco
E também a vinha
Que fervor lhe dão
E ainda o pisco
E um som de água
E um lençol de tanque
Que tranca na mão.

E por isso o tempo
Tem o sonho todo
De qualquer criança
Que não perde a fé
Que o tempo é breve
Mas o sonho é longo
É longo o sonho
Que o traz de pé.

*Gaivoar
------------------
Nota: Este poema nada inocente, a exigir sacrifício e a não tolerar recuos fáceis, foi-me enviado pela Gaivoar, que é a minha colega e amiga Isabel Fidalgo. É claro que o poema é dedicado a todos os professores que, como podem, vão resistindo à hipocrisia e à mediocridade do "faz-de-conta que é mas não é" dos "porreiro, pá!"

sexta-feira, 14 de março de 2008

O pisco e o cuco*

Desde Janeiro
Se alevanta o pisco
E enlevado canta
O degelo do inverno

Depois em Fevereiro
Pesquisa os valados
A acender fogueiras
De flores que estremece

E em Março sonha Outubros
De frutos maduros e novos
Olvidando sempre que o cuco
Na noite se oculta a trocar-lhe os ovos
.........
*Nota: Não sei por quê, lembrei-me deste texto. Será por causa da vontade romântica dos professores lutando e esperando, com persistência e sonho, apesar de tudo? Será por temer que os professores, no seu romantismo e sonho, e no seu cansaço, se deixem enganar, aceitando que lhes troquem as verdadeiras razões da sua indignação por uma coisinha qualquer?
Se foi por isso que me lembrei deste poema, quem serão os piscos? E quem serão os cucos?
Peço perdão ao "pisco" e ao "cuco". Às aves a sério. Tenho textos sobre eles na pasta de Julho de 2007. E gosto muito deles.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Uma farsa vicentina?

O secretário Adjunto e da Educação, Jorge Pedreira, admite "soluções flexíveis" no genial modelo de avaliação que copiaram, mas desde que elas respeitem "os interesses dos professores e os objectivos do Ministério de Educação". Aquilo dos interesses dos professores faz-me rir, vindo de quem vem, claro. E até admite "correcções" lá para o fim de 2009. Até lá, teríamos de o aguentar. Não será suspenso; não será experimentado.
Essas “soluções flexíveis” e essas “correcções” anunciadas são uma farsa vicentina. Espero que os sindicatos não venham a fazer parte dela.
Lendo o texto já disponível, e ouvindo o discurso no telejornais, fácil é ver que fica tudo na mesma. Nem que seja só a fingir. É claro que isso é ditado por questões de agenda política. E também de economicismos tecnocratas.
Quem pensam que estão a enganar? Que me importa a mim, professor, a agenda política do Primeiro-Ministro? Desde quando é que a agenda política mais conveniente é um valor a ter em conta?
Basta de “fazeres-de-conta”. Já aguentamos muita farsa. Basta!E não são só as razões de imagem do Primeiro-Ministro e da sua agenda política que os movem nesta farsa. São também razões economicistas. Mas a Educação, a Escola, os alunos e os professores não são fábrica nem são produtos de fábrica.
A propósito de economicismo tecnocrata, vestido de modernidade, já pensaram naquele flagelo, na sala dos professores, de ver os nossos colegas mais velhos a verem em quanto vão ser roubados, se pedirem a reforma antecipada? E eles não querem ir-se embora, desde que os deixem ser professores. Já viram o número de colocações novas que estes senhores, de teorias importadas - agora é da Finlândia, dizem, mas parecem mais importadas da América do Sul -, vão conseguir desse modo, e de que tanto se vão gabar na campanha eleitoral, à custa de “varrerem” como lixo estes colegas mais velhos?
Claro que temos de ser pacientes. Mas não podemos ser cordeiros inocentes que se entregam alegremente ao sacrifício dos “senhores”. Este modelo tem que acabar. Ponto final.
Aliás, o Primeiro-Ministro, que dizem de tanta coragem, que demonstre que a tem: que demita a ministra; que assuma a sequência de erros grosseiros; que comece tudo de novo; que comece tudo a sério.
Isso, sim, seria coragem. E nós íamos ajudá-lo no que à Educação se refere.
Mas para isso era preciso tê-los. E eu não sei se. Aliás, sei, mas acho que não devo dizê-lo.

Nota: Há expressões que em certas circunstâncias se tornam muito expressivas. E é preciso não ter medo de usá-los sem eufemismos.

terça-feira, 11 de março de 2008

Ousar agir: sugestões e documentos práticos.

É preciso continuar a luta. A primeira medida é cada um manter em si a chama acesa. Não se deixem adormecer com o sucesso da manifestação. Afinal, aquilo foi a "Marcha da Indignação". Não se fiem cegamente na promessazinha de que os calendarização vai ser alterada, dando a entender que isso é só o que os professores querem, e que até é sinal da sua "boa vontade" e da sua "inocência". Os comentadores aí estão a preparar o terreno. E até já falam em nome dos professores, dizendo que é só isso o que eles querem.
Para não me alongar, os prazos são uma pulha. Sempre foram. Os prazos não são nada. O que importa é o modelo. E nós temos que pará-lo: é medíocre; não tem lógica; é um atropelo e um insulto.
O processo tem que parar mesmo em termos oficiais, que na prática já está. Mas se não o fizermos cair mesmo, ele ficará latente, à espera que nos cansemos, à espera que desistamos, à espera que percamos força. Temos que parar este monstro de insanidade. E não se esqueçam do "Concurso para titulares".

MUITO IMPORTANTE:

. Consultar em "fjsantos.worpress.com" - (RE)FLEXÕES:

. Ler texto de 9 de Março, "Segunda-feira é dia de continuar a luta" e prestem particular atenção às quatro sugestões finais.
. Ler texto de 10 de Março, "Desta vez faz sentido usar a burocracia como arma"; guardar este texto para consulta, informação aos colegas, e para o uso necessário. No fim desse artigo aparece a palavra "Requerimento": abri-lo, copiá-lo, divulgá-lo e dar-lhe utilidade prática.

Eu vou contactar o fjsantos solicitando-lhe autorização para transcrever os documentos aqui, para que mais pessoas os conheçam e para maior facilidade de quem por cá vai passando.
Entretanto, façam o favor de ir ao fjsantos.wordpress.com - (RE)FLEXÕES.

Um abraço. E uma bandeira de esperança dentro dos vossos corações.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Sorriam. Nós somos a esperança a crescer

1 -Não tenho tempo para estar em todas as frentes. Leiam, por favor, os comentários, que eles dizem muito. Vejam a notícia da Agência Lusa, que está nas Sete Peles Sete Saias.

2 - Peço desculpa ao pessoal do norte - nomeadamente de Braga, Porto, Vila Praia de Âncora (a praia é tão linda!), Monção, e etc. e coisa e tal -, pelo facto de não ter conseguido publicar aqui algumas fotografias. Aselhice minha, certamente. Mas estão prometidas.

3 - Alguém me quer ajudar?

4 - Manter a unidade. Estar atento. Não perder as estribeiras. Cativar, se possível com suavidade, os nossos colegas, muito poucos, que ainda hesitam. Quem neste momento hesita, na verdade não hesita: não sabe é se é professor ou se é "pombo-correio" executor.
Nós não hesitamos. Porque somos professores.

5 - Se o Primeiro-Ministro não pode recuar, para não mostrar fraqueza - o que é um argumento politicamente correcto e ridículo -, nós também não podemos, que a força da nossa razão só nos impele para a frente.

domingo, 9 de março de 2008

E agora?

Agora é não esmorecer. Agora é continuar. Agora é estar atento. Agora é continuar a agir, cada um em sua escola, da forma que melhor puder ser. Mais ousado ou mais cauteloso, conforme as circunstâncias. Atenção aos mandaretes, que se quererão vingar. Há que ousar. Mas a ousadia não é sinónimo de imprudência - meu Deus, ao que se chegou para se ter que dizer isto!
Acho que devemos fazer tudo, mas tudo mesmo, para mantermos a unidade e a solidariedade entre a maior maioria possível dos docentes. Esses esforços só devem ter por limites a não cedência quanto ao respeito devido à dignidade da função docente; a não cedência na defesa da qualidade e prestígio do Ensino Público; a não cedência na defesa de uma Escola que, na diversidade das suas funções, seja baluarte de uma formação para a vida, da integridade, da responsabilidade, da democracia, da liberdade.
Não me parece que nada mais seja possível com esta ministra e com os seus ajudantes (Bem! Na verdade, eu já não percebo bem quem é que é ministro e quem é que é ajudante).
Quanto ao "orgulho pessoal e aura de autoridade" do Primeiro-Ministro, que o impedirão de demitir a ministra - que já perdeu toda a autoridade para o ser -, isso não são valores, isso não são argumentos que tenhamos que compreender, que tenhamos que aceitar. Sei que não será fácil para para o Primeiro-Ministro demitir a sua ministra. Mas isso é problema dele. E ele, seja mais tarde ou mais cedo, irá ter de responder pelas decisões que toma.
A ministra feriu-se de morte com o veneno agressivo das suas próprias palavras contra os professores, tão de demagogia, tão de omissão, e tão de humilhação. Ontem tornou-se cadáver. Mas pode ser que teimem em conservar esse cadáver, fingindo que ele ainda tem vida. E também como imagem a atiçar a indignação, a atiçar a guerra aberta para perdermos a cabeça, a ver se mais nos isola do resto da população. Até já há quem não consiga olhar para a televisão quando ela aparece.
Mas, atenção. Ela, mesmo só formalmente, mesmo só como cadáver, só poderá continuar a ser ministra com a colaboração activa, ora mais discreta e escondida, ora mais agressiva e aberta de alguns colegas que a apoiam, extravasando as suas funções: falo, principalmente, de alguns coordenadores, que mandaram às urtigas a legitimidade democrática do cargo, e, mais papistas que o papa, já se pensam nomeados, já se imaginam mandaretes sem dar satisfações a ninguém, já se imaginam avaliadores competentes, vá lá saber-se porquê; e o mesmo se pode dizer de alguns conselhos executivos, que têm o mesmo proceder, principalmente alguns presidentes, que já se imaginam "Directores", dotados de "plenos poderes", sendo dum momento para o outro, transformados em "lideres fortes", como se o saber liderar pudesse ser decretado em forma de decreto-lei. Felizmente ainda são poucos. Mas, mesmo poucos já são demais.
Esta ministra tem que sair. Não tem mais condições nenhumas.
E, se o Primeiro-Ministro não conseguir ultrapassar o seu pequeno problema da imagem que lhe contruíram a troco de alguns trocos - a imagem da determinação, a imagem de autoridade -, então a nós só nos resta continuar a lutar, acentuar mesmo a luta, até aos limites possíveis.
Foi bom ter ido a Lisboa.
Digam lá, os que lá estiveram, e estiveram quase todos - ora em presença, ora em espírito -, se não dá para rir ver certas imagens que transmitem, e certos comentários que alguns jornalistas fazem.
Vejam só a afirmação do jornalista dizendo que havia lá muitas pessoas que não eram professores, ilustrando a afirmação com uma entrevista a uma colega nossa, aposentada há doze anos, que estava a apoiar-nos, como se a aposentação lhe retirasse a condição de professora.
E vejam algumas imagens mostrando o Rossio só meio cheio, e ruas com professores seguindo em fila indiana, e com metros de distância a separar uns dos outros.
Ai, esta comunicação social!
Ai esta senhora ministra teimosa, que não se quer ir embora!
Ai, este Primeiro-Ministro que, por causa da imagem plastificada que tem, não sabe como é que se há-de livrar da sua doce, inocente e competente ministra, muito boa a insultar e a humilhar profissões. Coisa que não se pode fazer. Coisa que não vai conseguir.
Não sou de nenhum sindicato. Não sou de nenhum partido. Mas estou de acordo com quem diz que, com esta senhora, e com os seus ajudantes, já nem se pode falar.
Ai estes professores que estão a perder o medo!

sexta-feira, 7 de março de 2008

Todos a Lisboa: contra a hipocrisia; pela liberdade sem medo

Estou tão cansado. Cansado. Apetecia-me ser estúpido. Tenho a desgraça de o não ser. E a consciência disso. Nisso o Pessoa tem razão. Só me vem à cabeça aquela pintura, o grito; só me vem à cabeça aquele verso “Apetece gritar mas ninguém grita”, com uma pequena modificação que resultaria em “Apetece gritar, mas poucos gritam”.
Resisti estoicamente à entrevista dada pela ministra. Foi muito bem conseguida para os seus propósitos, os dela; e os dele, do Sócrates. Confesso que, se não fosse professor, ou se fosse professor numa escola isolada do mundo, eu ia acreditar; eu ia pensar que os professores tinham endoidecido, ou que andavam na rua a brincar, sem saberem bem porquê.
Não veio esclarecer nada. Mas já é estúpido falar nisto, porque se ela soubesse, e pudesse, esclarecer alguma coisa com lisura, a opinião pública pôr-se-ia do lado dos professores. E isso não pode acontecer, pois os professores são o cordeiro a imolar no altar da propaganda para ganhar eleições.
Voltou a falar do maior sucesso obtido nos últimos anos. Mas nunca explica que esse sucesso é fictício. E nós não temos sido capazes que demonstrar publicamente, principalmente aos pais, que esse sucesso é fictício, que os alunos não saem melhor preparados, que é um sucesso muito fácil de conseguir. Tanto que este ano o sucesso vai crescer muito mais. Mas os pais, em casa, não sabem ou não querem saber disso, e agrada-lhes aquele discurso da ministra sempre a falar em sucesso.
Falou na avaliação. E insistiu na ideia, directa e indirectamente, de que os professores não querem ser avaliados. E, numa atitude de dar volta ao estômago, que eu já não sei se é cinismo, ou se é mesmo pobreza de espírito, disse até que esta (a dela) avaliação não era contra, mas a favor do professor, para o dignificar, para que progrida, para que possa ganhar mais mais depressa. Quanto ao modelo proposto disse que era muito simples, muito claro, muito transparente, muito favorável e protector dos professores. Muniu-se até de vários esquemas, que exibiu, dizendo-os falsos (Onde é que eu já vi esta rábula?). Só não mostrou o que hoje foi publicado na revista “Visão” – um verdadeiro monstro de ininteligibilidade. Nunca falou dos parâmetros da avaliação com clareza. Dos coordenadores avaliadores, desta vez chamou-lhes os mais seniores, mais experientes, os que mais trabalharam nos últimos sete anos. Isto é uma afronta, pois os titulares ascenderam ao título de forma automática e ilógica, criando injustiças tão inqualificáveis que ela - nem os dela, nem os que estão com ela -, nunca fala sequer nelas. E, lá por serem titulares, isso não lhes confere qualquer competência especial para poderem avaliar colegas. E os que o são, e acham que sim, mostram bem qual a bitola moral por que se balizam.
Praticamente não saiu do “sucesso”, visto por ela, nem da “avaliação”, também vista por ela. Mas houve alterações, e não só no tom de voz, que se amaciou, e se viu que foi estudado. Passou a atribuir o mérito do tal sucesso de que se ufana ao trabalho dos professores, coisa que até aqui nunca fez, pois, até aqui, o mérito era todo das suas geniais medidas apressadamente impostas. Passou também a falar na necessidade de dignificar os professores, depois de tudo ter feito para os ter humilhado. Disse mesmo que o país estava agradecido aos professores. O cúmulo da hipocrisia, pois estava a dizer aquilo exactamente para pôr a população contra nós.
Para além do habitual, que é dizer sempre o mesmo, e destas alterações, feitas para incautos crerem, disse coisas de espantar, e que nem vou comentar:
. Aquela do professor ir a casa do aluno buscá-lo para vir às aulas, e dever ser valorizado por isso;
. Aquela de que todas as escolas (depois corrigiu para “muitas”) estarem a aplicar o modelo de avaliação “com entusiasmo e competência”.
. Aquela de que os professores são inocentes e que estão a ser manipulados – uns carneiros, estes professores! -, por partidos de direita e por outros, dizendo mesmo que a nossa contestação está partidarizada.

Voltando ao princípio: apetece gritar. O discurso dela cumpriu bem a sua função de propaganda contra os professores, tentando desmobilizá-los, tentando dividi-los e, mais importante, passando a mensagem para a opinião pública de que os professores não querem é mesmo trabalhar, não querem ser avaliados, não sabem o que querem, porque não têm alternativas e se deixam manipular facilmente, não entendem a bondade paciente do seu discurso, que até os louva, e os quer ajudar a progredir.
Claro que tudo isto é propaganda e demagogia; claro que é mentira que haja entusiasmo em alguma escola (poderá haver é medo); claro que o modelo de avaliação está generalizadamente paralisado e é um monstro gerador de arbitrariedades; claro que é mentira falar dum sucesso real; claro que é mentira dizer que os professores ainda não compreenderam a "bondade" das suas políticas.
Mas nós que é que fizemos para contrariar tudo isto? Fomos deixando andar, ora por incúria, ora por comodismo, ora por não acreditarmos que tais políticas seriam possíveis, dado o seu anacronismo. Reagimos muito tarde.
Mas ainda vamos tempo. Há muito que discutir. Há muito que repensar. Há que começar de novo. Há que exigir começar tudo de novo. Mas agora nada disso interessa. Mas agora isso não importa. Tudo isso está condicionado pelo sucesso da manifestação de amanhã, sábado, em Lisboa. Temos que afirmar bem alto a força da nossa revolta. A força da nossa mágoa. A força da nossa razão. O sucesso dessa manifestação vai condicionar todo o trabalho que temos pela frente. E que é muito. Para repensar tudo. Para responder lucidamente a tudo, não deixando que nos isolem.
Por isso, nada de pruridos. Nada de hesitações. Não interessa nada do que está para trás. Agora, nesta hora, é a hora. E a hora começa em Lisboa.
Eu vou estar lá, com aquela convicção profunda de que eu, sozinho, e por mim, não faço lá falta nenhuma, nem alterarei em nada a força da manifestação, mas que, apesar disso, tenho mesmo que estar lá.
Acorramos a Lisboa, amigos!
Pela nossa honra. Pelos nossos alunos. Pelos nossos filhos. Pelos nossos netos.
Acorramos a Lisboa, amigos.
Contra a teimosia absurda e estúpida. Contra o medo.
Acorramos a Lisboa, amigos!
Por um Ensino Público de qualidade. Pela democracia. Pela liberdade
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quinta-feira, 6 de março de 2008

A coragem necessária

O educar.wordpress.com - A Educação do Meu Umbido - teve a amabilidade de publicar a tomada de posição do Departamento de Línguas e Literaturas, da Escola Secundária D. Maria II, Braga.
Convido os visitantes deste blogue a irem lá e a lerem os comentários que a propósito dessa tomada de posição lá foram escritos. Verá que há escolas e departamentos a tomarem posições idênticas.
Curiosamente, a televisão tem dado notícia das escolas onde o processo de avaliação está a seguir, mas esquece-se de referir as muitas onde ele está suspenso, ou em banho maria, a fingir que anda, mas não anda.
Os professores, neste momento, são também um baluarte de defesa da democracia e do bom senso. Apesar da comunicação social estar genericamente contra nós, nós saberemos passar a nossa mensagem.
Atenção à entrevista, mais logo, da senhora ministra. Preparem-se para ouvirem as "perguntinhas" convenientes e para ouvirem as frasezinhas já mil vezes repetidas. Verão a entrevistadora a ajudar quando a ministra começar com o ser "oh, oh, oh! Oxalá eu me engane. Mas não se enervem. Amanhã, responderemos.
Mas a maior resposta, nesta fase da luta dos professores pela sua dignidade, será em Lisboa.
Vemo-nos lá.

Aos novos visitantes

Gostaria de informar os novos visitantes deste blogue, TempoBreve, que ele tem um irmão gémeo, que é o SETE PELES SETE SAIAS. Estes dois blogues são da mesma pessoa, e são como dois rios que muitos vezes se cruzam, misturando as águas e seguindo o mesmo caminho. Por isso, dê lá uma espreitadela. Basta clicar no canto superior esquerdo desta página no respectivo nome. Pode ser que o que procura aqui esteja lá.
Tenha um bom dia.
Obrigado.

terça-feira, 4 de março de 2008

"Prós e Contras" - os prós para a ministra, os contras para os professores

A máquina trituradora da comunicação social contra os professores está em marcha. Os comentadores oficiais e oficiosos estão todos de prevenção para acudir aos incêndios. Uns disfarçam mal. Outros vão servis ao assunto. Muitos não sabem do que estão a falar e divagam. Outros omitem. Quase todos debitam as frases assassinas, algumas com meias verdades – mas que por serem meias ludibriam a opinião pública -, que agradam ao governo e protegem a ministra. Para complementar os comentadores favoráveis ao governo, organizam-se, se necessário, programas especiais. Exemplo típico é o “Prós e Contras” que, em duas emissões sucessivas, pega no tema da Educação.
No da semana passada, 25 de Fevereiro, o debate, não tendo corrido de forma especialmente favorável aos professores - dadas as limitações de tempo que lhes foram necessariamente impostas, e dada a heterogeneidade e a desarticulação das intervenções dos professores presentes - , redundou, contudo, num verdadeiro desastre para a ministra da Educação, dada a sua inépcia e a sua incapacidade para explicar seja o que for, a não ser repetir, ela também, as mesmas frases e expressões já gastas. Ora, havia que mistificar essa incompetência da ministra, organizando um outro “Prós e Contras” esta semana, programa que ainda está a decorrer, agora sem a presença da ministra – não fosse ela espalhar-se outra vez -, e, curiosamente também, sem a presença de qualquer representante dos professores em luta. Estas ausências não devem ter acontecido por acaso, claro.
O programa poderia ser, mesmo assim, muito útil, se fosse honesto. Mas não foi. Em vez dos dois lados em confronto, optou-se pela presença de especialistas. Nada tenho contra eles. E, de alguns, até gosto. Mas, pelos intervenientes, viu-se logo que o programa ia ser orientado contra os professores. É que os intervenientes, via-se logo, não iam atacar de forma directa e objectiva a especificidade daquilo que indigna os professores. Iam generalizar. E, depois, lá estava a coordenadora do programa para “puxar” as frasezinhas que lhe interessavam, para “passar” à frente raciocínios que via encaminharem-se para aquilo que ela não queria que fosse aprofundado, para tirar as conclusões que tinha que tirar, fossem quais fossem as intervenções que se fizessem.
E assim foi. Fátima Campos Ferreira funcionou sempre como uma espécie de comissária política do governo e da ministra da educação. Insistiu muitas vezes na expressão de “guerra” que trouxe estudada, e que era a expressão “estado de sítio”, dando sempre a entender que a sitiada era a ministra, coitada, e que os sitiadores – quase saqueadores malfeitores -, eram os professores que não queriam reformas.
Sempre que achava que podia, interrompia o discurso, e perguntava assertivamente se o interlocutor “apoiava”, sendo que o “apoiava” se dirigia sempre à avaliação, sabendo de antemão que toda a gente, a começar pelos professores, apoia a avaliação, mas não este simulacro de avaliação. Mas ela só queria que eles dissessem que sim, sem que entrassem em outros considerandos que poderiam retirar o aproveitamento propagandístico que ela queria dar ao sim.
Não se esqueceu nunca de repetir que, afinal, a avaliação era para ser cumprida até 2009, dando a entender que havia muito tempo, e omitindo sempre que essa avaliação respeita já ao ano de 2008.
Insistiu repetidamente nos sucessos escolares que a ministra reivindica, e que, numa perspectiva burocrática, até são verdadeiros, mas esquecendo-se sempre de como eles têm sido orientados, motivados, pressionados e quase impostos, para ficarem bem nas estatísticas.
A Fatinha, diligente comissária política, como percebeu, ou lhe disseram, que a ministra já não é ministra de facto - porque completamente desautorizada por decisões e procedimentos que desafiam toda a lógica, e que cavaram um abismo intransponível já, entre o ministério e os principais agentes educativos que são os professores – sempre que podia, quase que forçava os intervenientes a dizerem que a ministra não precisava de sair, ou que podia mesmo recuar sem perder a face, ou aceitar a mediação de agentes externos proposta no programa, proposta essa que é a mesma coisa que dizer que a ministra já não tem condições para continuar.
Em síntese, e quanto a esta moderadora-comissária, a ela só lhe interessava vincar que: os professores são uns malandros que provocaram um autêntico estado de sítio; que os professores não querem ser avaliados; que há muito tempo para a avaliação, que vai até 2009; que a ministra não precisa de sair, mesmo recuando, mesmo aceitando uma mediação.
Mas nem tudo correu sobre rodas à senhora diligente. Para tal, basta lembrar algumas afirmações nada convenientes para os propósitos da Fátima, comissária política e bombeira de serviço.
João Lobo Antunes, por exemplo, fala na necessidade de esclarecer e de apaziguar; diz que admira os professores, que o seu exercício de autoridade é delicado, e que estes não podem ser desautorizados; diz que se instalou uma crise de confiança, e que não há confiança para se fazerem as avaliações na forma prevista; diz que há que valorizar o juízo moral do que é ser professor; diz que não se pode avaliar por um diagrama como o que é proposto.
Manuel Vila Verde Cabral afirma que já é tarde para sair da crise; que seria necessária uma experimentação do modelo, que lhe faz lembrar a rede do metro de Londres; que seria no mínimo exigível uma experimentação do modelo, antes da sua aplicação generalizada; que o governo escolheu um braço de ferro demagógico com os professores, demonizando-os, tendo com isso provocado uma coisa que já não é reivindicação corporativa, mas sim uma revolta.Fátima Campos Ferreira lá foi levando a água ao seu moinho. Os intervenientes não tiveram culpa. Mas tinham que ter ali alguém que objectivasse as verdadeira razões de queixa dos professores. Mas esse alguém não estava lá. Por que seria?

segunda-feira, 3 de março de 2008

Resistir às provocações

Recebi, pela primeira vez, um comentário insultuoso. Está no texto em baixo. É o 21º. Já lhe respondi.
Temos que estar preparados para todo o tipo de provocações que vão começar a surgir. Não devemos descer ao nível dessas provocações. Somos professores. Há que manter a calma. Os "descontrolados" devem ser os que estão do lado de lá, isto é, da ministra. Quando a luta aquece, eles, os não informados, os imbecis, os que defendem o tacho ou estão à espera do tacho, enervam-se e perdem as estribeiras. Melhor para nós.
Algo deverá acontecer esta semana. Temos que nos manter firmes. Com esta ministra já nada tem emenda. Esperemos calmamente os próximos acontecimentos.
Mantenhamo-nos firmes e unidos. Não respondamos às provocações. Elas virão: umas grosseiras, outras mais subtis. Mas não temos medo.
O que está em jogo é muito muito importante. E eles sabem-no bem.
Mantenhamo-nos unidos. Mantenhamo-nos firmes.
Lisboa é o caminho.
Até dia 8, em Lisboa.
Um abraço.

sábado, 1 de março de 2008

Braga saiu à rua e sorriu

Hoje, 29 de Fevereiro. Em Braga. A partir das 21:30. Foram chegando. Abraços apertados com anos de espera. Velhos amigos. Velhos conhecidos. Surpresas enormes. Sorrisos. Chegavam em grupos. Chegavam sozinhos, mas logo alguém chamava. As pessoas juntavam-se aos seus pares de escola. Aos conhecidos de outras escolas. Uma sinceridade. Uma afectividade. Que há muito não se sentia. Sentiam-se gente. Pessoas. Uma catarse que fez tão bem. Afinal, estavam ali todos. Só não estava quem não pode mesmo. E os que não estavam porque estão do outro lado, não fizeram falta nenhuma.
Primeiro, na Avenida Central. A praça grande pareceu pequena. Subindo o rebordo do chafariz ao centro, via-se em redor a multidão a encher a praça. A transbordar pelas ruas que lá iam dar. Uma alegria. Braga estava unida. Braga estava cheia. Braga estava pacificamente e alegremente na rua. Depois um desfile informal sem palavras de ordem. A hora era de contar histórias. De lembrar tempos. De lembrar colegas. Nem se sabia bem até onde era o desfile. Também não era preciso. Estava-se unido. Estava-se ali. Isso é que interessava. E assim se chegou à Praça do Município. Encheu-se. Transbordou para as faixas laterais do jardim. A toda a volta. Só um cartaz grande. Alguns em A4. Não houve discursos. Palavras de ordem, só duas: A luta continua, ministra para a rua; a escola não é tua, ministra para a rua. Também o canto já conhecido: Vai-te embora, vai-te embora, vai-te embora, vai-te embora.
Eram milhares. Num cálculo por defeito, aí uns cinco mil. Mas acho que seriam mais. Rostos calmos. Rostos contentes. Pessoas felizes. Porque, afinal, cada um viu por si que não estava só. Muita esperança. Ainda se acredita.
Foi lindo de morrer ver professores reformados, alguns já bem velhinhos, saírem à rua com a alma viva de professores que foram. De professores que são. Foi lindo de morrer ver os professores mais velhos, do último escalão, ali em peso, com a alma viva de professores que querem continuar a ser. Foi lindo de morrer ver os professores mais novos achegar-se aos mais velhos, seus antigos professores, abraçando-os numa cumplicidade solidária de gerações, fazendo questão de mostrar-lhes que também estavam ali.
Obrigado colegas. Obrigado amigos. Obrigado alunos. Estávamos a precisar disto. Para não enlouquecermos.
Obrigado, colegas de escola. Foi tão bom ver-vos. Nem imaginam. Obrigado colegas de escola por terem tido a coragem de serem solidários manifestando publicamente o vosso descontentamento, bem antes de saberem que o protesto dos professores se ia generalizar. Aquele abaixo assinado que fizeram pôs-vos na linha da frente.
Eu pedi já aqui, antes de tudo isto, a demissão da ministra. Com o “Prós e Contras” de segunda-feira, percebeu-se bem que a ministra não tem condições algumas seja de que espécie for, para continuar ministra. Só não percebeu quem não quis. As manifestações públicas dos professores, em várias cidades, têm provado isso mesmo. E hoje, em Braga, isso foi muito claro. Já não há ministra. Ela pode lá estar. Mas já não o é.
Obrigado colegas de Braga. Obrigado colegas da Escola Secundária D. Maria II, Brga. Vemo-nos em Lisboa no dia 8 de Março.
Um abraço. Bem apertado.