segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Salve-se o Ensino Público! Dimita-se a Ministra!

Aberrações sucessivas fazem com que as salas de professores andem em polvorosa: uns professores andam aflitos, tentando perceber o que é que têm a fazer, quais sãos os impressos, quais são os papéis, onde é que eles estão, o que querem dizer com aquilo; outros protestam contra tudo, sem entenderem ainda o que lhes fizeram, assim do pé para a mão, com o tempo de serviço, com as reformas; outros andam com fórmulas na mão a fazerem contas, as mais mirabolantes, a ver quando é que podem fugir – aceitando serem roubados -, sem que cheguem a conclusão segura, pois faltam dados que não lhes são dados; outros falam naquele concurso caricato, que foi o concurso para professor titular, onde nunca ninguém encontrou lógica alguma, mas que, como já se está a ver, serve às mil maravilhas para o "controlo democrático" da escola.
Gostaria de lembrar que esse concurso foi uma aberração; foi um concurso sem lógica e sem vergonha. Critérios pedagógicos e científicos? Ai, deixem-me rir! Pessoas que exerceram todos os cargos existentes na escola, não viram nada disso ser tido em conta, porque a senhora ministra, na sua sapiência infinita, e arranjada à pressa, achou que isso só valia a partir de 1999 /2000. Quem tivesse exercido qualquer cargo antes, nada! Não valia nada. Era como se de repente ela acordasse e dissesse que só seria licenciado quem tivesse concluído uma licenciatura no ano em que ela lá arranjou o seu título – as até aí, não valeriam. Um absurdo. Houve pessoas que exerceram todos os cargos possíveis, sem que isso tivesse contado. Por isso, essas pessoas, não alcançaram o estatuto de professor titular. Houve pessoas que, por exemplo, foram presidentes da Assembleia da Escola em 1999, e não tiveram qualquer pontuação. E os que os substituíram em 2000, esses já foram pontuados. Por quê? Mas os critérios, além das datas limites impostas sem qualquer razão, eram eles próprios um arrazoado ilógico, oportunista, desligado da realidade histórico-pedagógica das escolas.
Volto a este assunto, pois, agora - que estamos a viver nas escolas um período bem perto da ditadura -, os professores que ficaram arredados da titularidade sem razão aceitável, vão ser "democraticamente impedidos" de concorrer e ocupar lugares, agora sim importantes, já que a democracia e a competência dentro das escolas estão a ser fortemente atacadas, em benefício de sucessos medíocres e forjados, e de aspirações menores de mandaretes rançosos.
A Senhora Ministra vai-nos entretendo, e entretendo os seus, com formulários, com discussões e reuniões intermináveis e vazias, com activismos febris e tarefismos inúteis. São um queimar tempo absurdo e aberrante. Não se discute nada; repete-se tudo; fica-se inundado de papelada.
Agora a moda é a avaliação dos professores. São os professores os primeiros a quererem ser avaliados. Mas justamente. Por quem saiba. O professor não pode ser avaliado nem por "fingimentos" nem por caprichos fúteis. Pelo que se vê, o modelo de professor que se quer é o professor estatístico, acrítico, inculto, tarefista e de uma activismo a meter pena, pois mais para agradar, pois mais para se dizer que se faz, mesmo que não se faça coisa digna. Ora, isso é a maior aberração. Querem matar o ensino público, é o que é. E, para isso ser mais fácil, há que cercear, atacar e desesperar os professores competentes e responsáveis.
O professor deve ser avaliado na sua função de professor consciente e responsável, na sua qualidade e saber; na qualidade da sua relação pedagógica com os seus alunos, postos de parte os facilitismos imbecis que deseducam e infantilizam os jovens; na capacidade de ajudar os seus alunos a aprender a pensar livremente, com espírito crítico de cidadãos responsáveis; na clareza e segurança dos conteúdos programáticos que vai ministrando, não defraudando irresponsavelmente o aluno em época de exames.
Nenhum professor gosta de reprovar alunos. Mas nenhum professor deve ser condicionado a inflacionar as suas avaliações, só para cumprir os objectivos arrogantes e fáceis duma escola irresponsável e servil, que quer só agradar aos pais, enganando-os; e que quer só agradar à ministra, abanando-lhe canino o rabo; e que, por razões que nem vislumbro, quer agradar ao futuro-próximo Excelentíssimo Senhor Director Doutor Engenheiro Gestor, diplomado por uma escola qualquer, meio desconhecida, numa data qualquer, meio indefinida e tardia.
Temos que lutar contra estas aberrações todas. Em nome dos nossos alunos. Em nome do nosso país. Em nome da nossa dignidade.
Salvemos o ensino público enquanto é tempo.
Vale a pena, porque a mediocridade, o oportunismo e a estupidez só duram enquanto a verdade não chega.
E nós estamos do lado da verdade.

6 comentários:

Anónimo disse...

Retrato fiel do que se está a passar nas escolas e do que considero ter sido a pior das violações que poderiam ter feito aos professores- o famoso concurso para professor titular ,a que eu costumo chamar de concurso para professor "tintular", porque quem o inventou estava com uma carraspana tão forte que ainda dela se não livrou. E é por causa do tinto maligno de certas vinhas, que andam as uvas mirradinhas e a não querer abrir-se ao sol.
É evidente que não falo das suas vinhas. Essas têm mão de mestre e piscos que lhes cantam para as fazer medrar com saúde.
Mas isso é para quem nasceu e cresceu aprendendo na escola da terra e dos livros, quem praticou no terreno e não para quem tirou curso por correspondência forjada.
Salvemos o Ensino Público enquanto é tempo ou, pelo menos, sonhemos salvá-lo, para que a alma se anime de qualquer coisa que a faça remoçar, antes que lhe sufoquem de vez a boca e os olhos.
Abraço

TempoBreve disse...

Cara Ibel!

Obrigado pela solidadriedade e compreensão; Obrigado por não desistires, mesmo quando parece que não vale a pena.
Não podemos deixar destruir o Ensino Público, nem permitir que ele, esse ensino, seja mais uma coutada onde os partidos querem mandar através dos seus comissários políticos que querem nomear.
Há que resistir. Não são os professores que estão em causa. É a liberdade e o direito de aprender e ensinar.
Um abraço.

Elisabete disse...

Muito bem! Tem todo o meu apoio. É tempo de acabar com a mediocridade, o facilitismo e o "faz de conta".
As DRE's e o Ministério estão cheios de burocratas que deviam ir, de castigo, trabalhar para as Escolas.
Infelizmente, há sempre gente que gosta de usar canga e de bajular. Esses é que constituem o verdadeiro perigo.
Não esmoreça!
Um abraço

TempoBreve disse...

Elisabete!

(Onde é que eu já vi este nome?)
Agradeço a sua mensagem. Agradeço o seu apoio.
Deus nos livre de mandarem os burocratas de que fala para as escolas. Já viu o que o que os jovens iam ter por referência? E na sala dos professores, acha que iam conseguir discutir com senso ou entender ironias?
Concordo que os da canga, e os bajuladores rafeiros, são, de certo modo, o verdadeiro perigo. Sem esses, aqueles a quem eles servem teriam talvez um conhecimento mais apurado da realidade, e até mais senso nas decisões que tomam.
Mas deixe-me também que lhe diga que quem se deixa servir ou influenciar por "cangados e bajuladores" é porque não tem lá grande competência ou, então, é como aqueles "imperadores" que se achavam mesmo deuses. Com maus resultados, sempre.
Mas os fiéis servidores acríticos, se são os que mais nos tramam a vida, são também os que mais depressa - dada a sua mediocridade ligeira -, fazem cair seus senhores. É que, quando a luta aquece, eles não têm armas para ela, e são os primeiros a fugir.
Claro que não vou esmorecer.
Afinal, sou professor, sabia?
:-)

Anónimo disse...

Deixei, por engano, o comentário que ia pôr aqui, no "Maçãs entre folhas"
Vá lá, por favor.

TempoBreve disse...

Cara Ibel!

Lá terei eu de ir às "Maçãs". Vou ver se ainda o faço hoje. O tempo está-me a fugir. Até logo, sim?
:-)