sábado, 11 de agosto de 2007

A minhoca e o boi

Não leram o texto Amigos que perdemos, onde é que parais? - publicado nas Sete Peles, pois não? Se não leram, parabéns. Não vale a pena.
Bem intencionado, escrevi aqui em baixo um pequeno texto sobre O Profeta, de Khalil Gibran, e vejam lá o que aconteceu: quase ninguém o viu; dos poucos que o viram, quase ninguém o leu – e fez muito bem; dos poucos que o leram, ninguém encontrou novidade; apenas duas pessoas o leram, e tiveram a amabilidade de mandar lá do Brasil notícia simpática do facto, o que muito agradeço.
Seja como for, e voltando ao princípio, só uma pessoa é que se portou mesmo mal, o tal das Peles. Um atrevido! Falei n’ O Profeta, e ele aproveitou logo ali para armar ao efeito. Peito inchado de presunção, não perdeu tempo: que o conhecia, que há muito o tinha, e em inglês – para se dar ares de - e que foi oferta do libanês Anwar, o que é verdade.
Tudo isto sem dizer água vai nem água vem acerca da minha pessoa, que foi quem lhe deu o pretexto para se pôr ali a gabar.
O pior de tudo, porém, é que ele fez como aquele aluno cábula que sabia tudo da minhoca, mas, dos outros animais todos, nada. E o professor, vá lá saber-se porquê, interroga-o, nem de propósito, acerca do boi. Manhoso, o cábula lá foi debitando, para ganhar tempo, que o boi é um animal. Sim, um animal, e mais? Bem, é um animal, assim tipo! Tipo quê, homem? Assim tipo, como hei-de dizer! Diga lá! Ora bem, é exactamente isso, “lá”! O “lá” tem uma letra, o “éle”, que é muito esguia e comprida. Assim como o boi. Como o boi? Só se for o rabo! É exactamente isso, o rabo. Ora, o rabo, sendo esguio e comprido, é muito parecido com a minhoca. E a minhoca (…).
E nem queiram saber a ladainha parva que se seguiu acerca dos predicados que a minhoca tinha ou não. Dizem que o professor pasmou. E passou-o, só de pensar na hipótese, embora remota, de ter que o aturar mais um ano.
Assim fez o das Peles. Usou O Profeta apenas como pretexto para tecer todo aquele rosário de perguntas sem fim, de que resultou o texto: Amigos que perdemos, onde é que parais? Tal como o cábula que usou o boi para chegar à minhoca.
O pior é que eu até gostei do que ele escreveu. Um pouco intempestivo, mas gostei. E então aquela universalização, nem lhes digo nada. Sim, quando ele diz: Não sou eu que pergunto; somos todos nós. E tu não és tu, antes todos quantos. Quase me apetecia dizer:
- Bonito.
Mas não digo. Ai, não digo não!

2 comentários:

Nanny disse...

Fizeste-me lembrar um aluno de direito, que numa oral dissertou durante uma hora sem nunca abordar o tema que lhe tinha sido questionado... e passou!

No ano seguinte qdo se cruzou com o professor nos corredores perguntou-lhe porque o tinha passado, ao que o prof. lhe respondeu: "Se já nem eu sabia o que lhe tinha perguntado... quanto mais um juíz no fim de horas e horas de alegações..."

Parece que em certos casos, pelo menos, a criatividade continua a funcionar!

Sobre o Profeta... não me pronunciei, nem me vou pronunciar agora... :P

TempoBreve disse...

A criatividade, e os acasos. Eu conheço um fulano que deu um murro no Código Civil, levantou-se, e ia saindo da sala, sem autorização, enquanto o professor, depois de ter entendido o equívoco, lhe pedia que se sentasse de novo. Que estava passado. Mas qual quê!Não se sentou. Foi o bom e o bonito. Tudo terminou em bem, depois em Setembro. Costumo contar esta história que aqui apenas afloro. Mas não a vou contar agora, que você tem mais que fazer.
Quanto a "O Profeta", faça o subido favor de o ler, sim?
Agradeço a sua visita. Volte sempre, com comentário ou sem.
:-)